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Saul Sabbá

Investimentos, Juros, Política
A encruzilhada dos juros
21 de outubro de 2015 at 17:36 0

juros

A penúltima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central de 2015 é hoje e não acredito que teremos grandes surpresas, pois a agenda econômica ou da política monetária está a reboque das agendas políticas.

Acredito na manutenção dos juros, até porque a percepção de aumento da SELIC agora teria pouco ou nenhum benefício efetivo de contenção da inflação, que já beira os 10% este ano e possivelmente ficará bem longe da meta estabelecida pelo BC para 2016, que eu estimaria entre 7% a 8%.

Um aumento de juros no momento atual, em que estamos perto de 3% de PIB negativo e aumento acelerado de desemprego, faz com que o Copom fique em uma encruzilhada no que se refere ao objetivo principal do modelo de Meta de Inflação ou Target Inflation - como é mais conhecido.

O aumento de juros é feito com objetivo de ancorar as expectativas futuras da inflação, que é 5,4% pelo BC (mas o mercado já estima em 6,72%) para 2016 e 4,6% para 2017. Dentro deste cenário o BC só terá duas escolhas daqui para frente:

1)    Aumentar os juros, como manda o figurino: acho pouco provável, pois o efeito de desaquecimento da economia, que já é muito grande, só traria mais perda de arrecadação além da percepção de um rombo maior no déficit orçamentário e, com certeza, acabaria impactando em aumento de dívida/PIB trazendo questionamentos indesejáveis sobre a real capacidade de endividamento da União.

2)    Em futuro próximo, poderia aumentar a meta de inflação: 5,5% 2016 estaria num patamar mais realista, pois a banda alta poderia ir até 7%, pelo que estamos podendo enxergar hoje.

Assim, o que se pode esperar do BC em relação ao Copom é, através do relatório, dar mais discloser para o mercado de que a situação continua sendo bem administrada e sob controle, apesar dos problemas sazonais que têm induzido a alta da inflação. Como exemplo, o reajuste cambial nos preços, além dos preços administrados e, assim, com uma visão mais realista do que se pode fazer diante de um intrincado quadro político que lhe dá pouca margem de manobra.

O BC sabe que sem uma política fiscal austera ficará difícil trabalhar somente com os instrumentos clássicos: juros, câmbio e restrição de crédito.

Com tudo isso, criou-se uma expectativa dos mercados não em relação ao aumento de juros, mas sim em relação ao modelo de Target Inflation.

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Finanças, Investimentos, Política
Agora a Fitch 
15 de outubro de 2015 at 18:58 0

Fitch

A situação brasileira vem se agravando diante da inércia política e econômica. E assim, vemos mais uma agência de relevância mundial rebaixar a nota do Brasil de BBB para -BBB, que é o último degrau do Investment Grade e, pior, com perspectiva negativa.

Com a percepção de piora do ambiente macroeconômico e, consequentemente, com a deterioração da economia como um todo, possivelmente a agência Fitch será levada a, em breve espaço de tempo, reavaliar o rebaixamento do Brasil e a perda do grau de investimento.

Conforme já venho comentando em meus artigos, infelizmente o tempo está acabando para decisões paliativas, como arrumar os recursos de modo convincente para fechar o déficit orçamentário.

Ao contrário da nossa percepção, quando nenhum de nós quer aumento de impostos como o CPMF, o debate sobre o assunto está em todos os ambientes econômicos, com opiniões contrárias e a favor. O fato de que essa poderá ser uma das únicas possibilidades concretas de fechar as contas, cada vez mais estamos afunilando a nossa capacidade econômica de fazer qualquer coisa diferente no curto prazo.

A política que hoje traz a reboque a inércia da economia - até porque não se consegue fazer nenhuma reforma ou mudança significativa. Isso faz com que fiquemos em uma situação de "freezer completo" nas ações de mudança de rumo, ficando o país à deriva dos acontecimentos e variáveis imprevisíveis, tanto no campo político como no judiciário - como foi caso das liminares do STJ sobre o ritual do impeachment.

Assim, acredito que teremos pouca margem para mudança de rumo no curto prazo. Todos (Congresso, Senado e Presidência) estão lutando entre si para, no mínimo, terem sustentabilidade de poder, cada qual dentro da sua luta (seja para permanecerem no cargo ou até por uma saída honrosa). Estamos vendo um MMA político, mas nós é que poderemos tomar um nocaute.

Acho que podemos ter, como maior esperança e como saída, alguma ruptura de poder causado pelo ambiente financeiro, mas não mais pelo lado consensual ou consentido. O que quer dizer isto? É mais ou menos o acontecido com a Grécia, que foi forçada a consentir tudo que não queria e mais alguma coisa que não estava no cardápio (como a privatização), pois o governo que acabara de ser eleito e com suporte popular foi vencido quando o sistema bancário quase entrou em colapso. Aí o recém-eleito se submeteu a duras medidas impostas pelo sistema de governança regido pelas outras nações que compõem o grupo de sustentação e estabilidade da moeda.

É importante e relevante vermos neste exemplo da Grécia que nem sempre podemos fazer o que queremos, mas sim o que podemos fazer - principalmente em um ambiente tão globalizado como é o nosso.

Não temos um modelo exclusivo, nós vivemos dentro de um modelo global de dívida, PIB, orçamento fiscal e etc.  E é nele que as agências de rating se baseiam.

Enfim, sem fiscal e sem consenso político haverá inércia. Se nada se consumar, o ambiente econômico fará o seu trabalho por si só, como no caso da Grécia, e que acabará por ser uma aventura para todos nós.

Paciência acaba, mas esperança sempre há.

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Finanças, Política
Sobre as novas regras da Serasa em São Paulo
14 de outubro de 2015 at 17:32 0

regras Serasa

A notícia sobre as novas regras do Serasa no estado de São Paulo me deixou intrigado. A lei estadual nº 15.659 regulamenta o sistema de inclusão e exclusão de nomes de consumidores nos cadastros de proteção ao crédito, prevendo que o devedor seja informado da inclusão em cadastros de inadimplência por correio e assine um Aviso de Recebimento (AR). Caso o devedor não assine, a instituição não poderá negativar seu nome.

Na contramão da praticidade, isso deverá aumentar significativamente a burocracia e os custos, tanto para o credor como para o devedor. Além de tudo isso, será mais complicado ainda limpar o nome: será necessário resolver papelada e custos de cartório, o que, anteriormente, se fazia automaticamente na quitação da dívida. O AR custa sete vezes mais do que uma carta simples, um custo inviável para o pequeno empresário. 
Li numa matéria do G1 que "a Serasa argumenta que a quitação da dívida protestada em cartório implica em exposição pública da dívida se o devedor não for encontrado, necessidade de ir até o cartório e pagamentos de taxas para ter o nome limpo que podem chegar a 30% do valor protestado." 
Para os bancos, as medidas reduzem as concessões de crédito para pessoas físicas nas regiões da lei entre 11% a 17%. Para a pessoa jurídica, a queda ficaria entre 4% e 9% (dados da Febraban).
 
Gosto do modelo americano/canadense, de crédito positivo.  O bom pagador tem uma classificação alta junto aos órgãos de crédito e por isso é contemplado com juros menores. Já o mal pagador tem classificação menor, paga mais juros e, às vezes, não consegue financiamento. Simplificar a vida das pessoas também deve ser dever do estado, para que os bons pagadores que estão passando por um momento difícil (por exemplo) não piorem suas vidas e não paguem pelos que agem de má fé.
 
Em vez de facilitar a nossa vida, medidas como essa apenas criam mais problemas e faz com que nós, brasileiros, sejamos os campeões da burocracia.
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Investimentos, Política
A Síria é aqui.
9 de outubro de 2015 at 18:05 1

violência

Sem dúvida é para ficarmos chocados com o nível de violência urbana que temos visto em várias cidades brasileiras. Mas algumas têm maior impacto midiático em função da sua relevância, como é o caso do Rio de Janeiro.

Na última semana tivemos mais um evento de violência gratuita, protagonizado por um casal de empresários do setor de turismo que conhecem as nuances da cidade, mas ainda assim foram enganados pelo sistema de GPS, porque houve situação de homônimo de ruas. Um mês antes já havia acontecido o mesmo com uma artista da Globo que caiu na mesma armadilha. E olhem que não estamos falando de pessoas que não conhecem o RJ, são pessoas com o mesmo grau de conhecimento da cidade e assim devemos rezar pelos turistas que, porventura, se aventurem a saírem andando por aí sozinhos, pois não existe nenhuma orientação indicando o grau de risco que eles correm andando pelas favelas ou bairros conhecidamente perigosos.

O absurdo destas situações é tão grande que não dá para aliviar as autoridades responsáveis de sua incapacidade em administração pública, neste quesito de segurança pública. Já é conhecido por todos que nós convivemos que temos um regime de impostos municipais e estaduais de primeiro mundo, mas com situação semelhante à de países do Oriente Médio. Se você entra por engano em uma via de favela e é metralhado, como aconteceu nestes dois casos, acredito que a Síria é aqui.

A situação é esta: pagamos impostos de primeiro mundo e recebemos serviços de quinto mundo pois a segurança inexiste. É facada em ciclista, arrastões generalizados nas praias, roubos de celulares e relógios, roubo com armas em semáforos e muito mais. Lembrem-se que não temos luta de classes, nem religiosas ou mesmo por terra, como acontece nas zonas de conflito. É Chicago mesmo, nos bons tempos da lei seca americana em que os bandidos tomaram conta da cidade. As autoridades poderiam fazer mais do que se solidarizar com as vítimas, pois arrecadar impostos é o primeiro fator de obrigação do governo para utilização nos serviços prioritários. Será que segurança nunca será prioritário? Tivemos uma falsa impressão de que tínhamos controlado a situação com a criação da UPPs, um grande engano!

Qual o trabalho e custo que um governo sério e preocupado com a segurança teria de melhorar a sinalização, mostrando onde as pessoas podem ou não podem ir como uma sinalização de perigo real do banditismo? A hipocrisia mostrada para a sociedade de que as favelas são bonitas e legais nas novelas, com uma vida feliz, é mais outra grande mentira consentida pela sociedade, que não mostra a realidade da pobreza, a falta de saneamento e o risco de vida para os moradores (com as chuvas, por exemplo). Mas continuamos a ter uma aparência de que todos são felizes.

Quando o Estado se ausenta, a bandidagem ocupa o espaço do Estado. Mas para sociedade como um todo, a situação é de consentimento consensual pois temos nos acomodado além do racional, do “por que se incomodar?”.

Para os políticos é mais fácil não olhar ao redor do problema, que de uma forma ou outra acaba explodindo, em vez de terem uma proposta honesta e efetiva para um dos maiores problemas nacionais que é a violência urbana. Aqui no Brasil morre mais gente por causa dela do que em zona de conflito do Oriente Médio.

O RJ, em especial, deveria ter esse cuidado redobrado pois a sua grande vertente econômica não voltará por um bom tempo: o petróleo. A Petrobras não se aguenta sozinha com seus problemas de investimentos para resolver, assim acredito que precisamos de uma nova vocação para a nossa cidade e, agora, a grande oportunidade serão as Olimpíadas, pois o Porto Maravilha estará pronto, podendo ser um grande receptivo de turismo. Isso dará uma nova chance à cidade de se reinventar, mas precisamos implementar.

Para isso precisamos implantar a tolerância zero, como foi feito em outras grandes cidades como NY. É difícil? É. Mas precisamos, no mínimo, de consciência social das autoridades e da população de que a violência urbana já é o nosso maior mal e pode engolir o cidadão no seu direito mais básico que é o de ir e vir, além de afetar os investimentos e melhorias progressivas das nossas cidades.

A violência no Brasil não é segredo e nem novidade. Em maio deste ano, a UNESCO divulgou o Mapa da Violência/2015, que diz que 42.416 pessoas morreram em 2012 vítimas de arma de fogo no Brasil, o equivalente a 116 óbitos por dia. As mortes por homicídio representam mais de 94%. Estes dados são coletados desde 1980 e este ano é o maior em número de mortes registradas desde o início da série histórica, tanto que a UNESCO decidiu desmembrar e fazer um relatório especifico sobre mortes com arma de fogo. O resultado é ainda mais aterrador quando percebemos que 59% dessas mortes ocorrem entre brasileiros na faixa entre os 15 e 29 anos. O número é 463,6% maior desde que este dado foi registrado pela primeira vez. Sem a necessidade de uma análise mais profunda, está claro que faltam políticas públicas para que essa parcela da sociedade não morra por algo que pode ser evitado.

 O que mais se ouve é: “vou me mudar para Miami”. É o começo do fim.

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Juros, Política
Meta de inflação
6 de outubro de 2015 at 16:41 0

meta da inflação

O tema da inflação está ressurgindo nos debates econômicos. Os modelos discutidos pelas diferentes linhas de teorias econômicas, tanto a ortodoxa como heterodoxa, têm dado o tom das possíveis soluções para atual crise econômica. Qual seria o modelo ideal? Aumento de juros, controle cambial, diminuição de juros para aumentar a atividade econômica, aumento de impostos para fechar o orçamento e por aí vai.

 Nesse domingo uma economista chamada Monica Baumgarten, do Instituto Peterson de Economia Internacional, propôs voltarmos para o modelo de âncora cambial com âncora fiscal abandonando a meta de inflação, pois segundo a matéria podemos ter inflação na ordem de até 20% a.a. caso não consigamos arrumar a casa. Sem dúvida começam a aparecer as mais variadas teses econômicas e de diversas correntes, que só aparecem em função da incógnita sobre o futuro. Inicialmente vamos NÃO pensar nessa hipótese.

O modelo de target inflation, ou meta de inflação, é um modelo baseado nos instrumentos clássicos da política monetária através de juros, dívida pública e câmbio. Estes instrumentos que são utilizados pelo BC fazem o controle da demanda de consumo e são os indutores de expectativas projetadas no comportamento dos mercados, como maior ou menor liberdade de compulsórios de bancos para aumentar a base de crédito na economia, além de outras ferramentas econômicas de maior ou menor calibre, como também até mesmo o controle cambial quando se faça necessário. O nosso modelo era uma mistura dos dois: ortodoxo e o heterodoxo, sendo o BC fazendo o ortodoxo e o ministro Mantega o heterodoxo. Agora parece o modelo foi unificado com o Ministro Levy.

Realmente é difícil de imaginar que as coisas dessem certo em relação ao controle da inflação, pois não se combinam tanto na tese econômica como no resultado, porque a política econômica não tem uma grande efetividade no controle quando as portas do crédito são abertas por outras vias, principalmente por subsídios diversos e aumento considerável de estímulos de aumento de consumo.

Não existe vencido nem vencedor em teoria econômica, pois elas funcionam quando são aplicadas em momentos corretos. A teoria econômica mais ortodoxa serve para dar âncora ao desenvolvimento, se colocada em momento adequado.

O risco atual de termos um repique de inflação acima das expectativas ou das previsões é real, pois o fator do imponderável cenário político embute um risco de perda de eficiência da política monetária como política de controle.

Como assim? A maioria dos economistas acredita que a inflação deverá cair com o baixo consumo: além da queda da renda, o aumento do desemprego propiciam uma maior queda na demanda. Diria que este é um cenário básico e bem racional, caso as coisas se arrumem no campo político.

Necessariamente a baixa demanda não garante queda na inflação, basta ver a economia dos hermanos argentinos em que o tamanho foi reduzido a um terço do PIB ao longo dos anos de devaneio econômico da era Kirchner, mas a inflação real se mantém acima dos 20%, pela falta de elasticidade na demanda de consumo, além das restrições e das dificuldades da economia de mercado atuarem em contraponto ao aumento de preço. Tanto lá como aqui, somos das economias que mais protege as suas indústrias via Impostos de Importação e outras barreiras comerciais.

Os mercados já precificaram os juros e o dólar, mas ainda não a inflação, aí o IPCA, IGPM e outros indexadores poderão se tornar uma boa opção para efeito de investimento. Acredito que os juros deverão se manter ou subir na margem caso o cenário seja de controle da situação e do câmbio. Neste ponto as medidas ortodoxas poderão ter baixa eficiência em controlar a inflação via aumento de juros, sem gerar mais déficit e aprofundamento da recessão.

Eu penso que teremos tanto o IGPM como o IPCA surfando em índices parecidos com 2015, perto da casa de dois dígitos.  Os mercados trabalham com estimativa de 5,5% a 6% e a meta de inflação que o governo trabalha ainda está em 4,5% para 2016.

Todos os impostos, CPMF, CIDE, aumento de combustíveis e etc, de uma forma ou outra virão e são inflacionários, pois serão repassados aos preços finais. Máxi cambial + aumento de impostos = mais inflação. Tomara que a fórmula esteja errada.

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Bolsa, Câmbio, Finanças, Investimentos, Juros, Política
Agenda apertada
30 de setembro de 2015 at 18:57 0

agenda apertada

A desarrumação na economia, pela alta abrupta do câmbio em curto espaço de tempo, vai trazendo consequências por parte, principalmente, do endividamento das empresas que tomaram recursos através de corporate bonds, fazendo com que as mesmas tentem a recomposição de caixa para fazer frente ao aumento dos encargos da dívida.

A Petrobras anunciou o aumento dos combustíveis com este objetivo, pois é uma das empresas mais endividadas do mundo e ela precisa de recomposição de caixa. Fala-se em 6.5 bilhões! Sem dúvida o mercado gostou, pois além de dar uma clara sinalização de certa autonomia operacional, apesar de inflacionário esse aumento, se tem a percepção de que não deverá impactar tanto nos repasses, pela fraca demanda.

Até nisso temos uma situação esdrúxula, pois o petróleo está nos níveis mais baixos no mundo e mesmo assim precisamos aumentar o preço internamente. Este é um dos efeitos da alta do dólar sobre o endividamento, que acaba sendo do descolamento de preços das commodities pela necessidade de caixa. Neste ponto poucos poderiam fazer o mesmo, pois a concorrência atuaria como regulador de preço. Enfim, é o que temos de melhor.

Continuo apostando no tema que citei outro dia no artigo "remédio amargo", que é a questão da CPMF que acabará passando no Congresso pela goela abaixo, pois o tempo é curto e não existe outra proposta na mesa para fechar as contas do orçamento.

Além do mais, na situação atual, acredito que nem um outro governo (caso viesse) teria tempo para implementar alguma medida de eficácia real. Basta ver que o ministro Levy não muda a conversa na sua peregrinação, afirmando que este é o plano A e o B e o C. É o que tem na mesa, pois de fato corte de custo tem uma dificuldade maior. Sabemos que precisa de um prazo maior para implementação, além de cortes sempre poderem ser contestados juridicamente pelas classes que não querem perder seus direitos. Pode ser que eu me engane, mas daqui a pouco a grande maioria aceitará o CPMF como um mal menor e não como o maior.

Além disso, a redistribuição de cargos nos Ministérios para o PMDB passa a sensação de que a presidenta se fortalece contra o cenário de impeachment, pois essa questão está justamente nas mãos do PMDB. Assim, também a substituição do Ministério da Casa Civil, é uma demanda de parte do PMDB e do próprio ex presidente Lula por um político de maior aceitação pelo PMDB. A agenda política e econômica está bem apertada para o Executivo, pois corre contra o relógio inclusive para mostrar uma sinalização ao mercado de que a crise está sendo administrada ativa e não passivamente, pois ainda tem as agências de risco rondando os novos rebaixamentos de risco.

Esses próximos dias serão cruciais para a agenda política econômica que pode vir marcada por novas surpresas. Quem sabe a luz no final do túnel não seja um trem na contramão.

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Bolsa, Investimentos, Juros, Política
O endividamento das empresas
29 de setembro de 2015 at 13:12 0

endividamento das empresas

As empresas brasileiras estão vivendo um momento extremamente delicado. O endividamento está chegando a níveis insustentáveis. Isso quer dizer que não conseguem manter o fluxo de caixa – a saída de dinheiro está bem maior do que a entrada.

Segundo matéria que li no Valor, uma das agências de risco que faz as análises do grau de investimento dos países, a Fitch, calcula que a alavancagem média das empresas brasileiras deve fechar o ano em 4,5 vezes. E isso coloca em estado de alerta máximo todo o mercado financeiro, desde os analistas aos investidores. Para alguns outros pesquisadores, o endividamento x o lucro das empresas já está em 5 vezes. Ou seja: as empresas devem 5 vezes mais do que estão lucrando. O risco de insolvência das empresas que estão neste nível de endividamento é muito grande. A desvalorização do Real, em 12 meses, já chegou a 70%. Isso significa que as empresas que tem dívidas em moeda estrangeira está com a capacidade de 1/3 do pagamento dessas dívidas. Isso gera a incerteza do mercado que para de investir nas empresas brasileiras. É uma bola de neve que não para de crescer, com os juros e o dólar em disparada e a possibilidade da perda real do grau de investimento pelas outras agências. O governo precisa encontrar uma saída urgente, além dos ajustes fiscais, o corte de gastos e, quem sabe, a venda de ativos, para controlar esse cenário antes que ele fique pior. Os números de desemprego assustam. Os empresários e as famílias brasileiras estão todos no mesmo barco da crise política e econômica pela qual estamos passando. Vender os ativos, com preços atrativos (pelo fato da valorização do dólar), pode ser uma saída inevitável para atrair novamente os investidores estrangeiros e voltarmos a crescer.
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Câmbio, Política
Até onde vai o stress do dólar?
24 de setembro de 2015 at 17:32 0
dólar

A pergunta recorrente em todos os lugares que tenho frequentado é: a que preço vai o dólar? Realmente não é uma tarefa fácil prever a situação da moeda americana, mas alguns esclarecimentos poderão ajudar os amigos a parametrizar a situação da moeda:

Tecnicamente não há mais paridade alguma, pois saímos do campo econômico para o político e vice-versa. E aí as variáveis são as mais diversas. Para quem sabe e já passou momentos de crises cambiais e econômicas no stress, é jogar a máquina de calcular fora e transformar em feeling e interpretação dos momentos políticos e econômicos.

Adicionado ao stress do dólar, vem a corrida para qualquer operação cambial ficar atrelada a um hedge da moeda. Hoje importamos um volume considerável e acredito que o bom senso dos importadores fará um hedge, pois a volatilidade e a incerteza econômica poderão comer a margem dessas empresas.

O overshooting que estamos assistindo, sem dúvida, é uma somatória de tudo isso:

  • Hedge cambial para cobrir exposição de dívida em dólar;
  • Ajuste de mercado derivativo de Fundos;
  • Proteção patrimonial pelas grandes tesourarias de Bancos e grandes grupos com negócio no Brasil;
  • Aposta contra alguma solução política e econômica no curto prazo.

E por aí vai... tudo isso, misturado com o medo de não ter solução a curto prazo, faz com que o dólar caminhe para o céu e qualquer número é válido: R$ 4,50, R$ 5,00, tudo pode.

Como falei no artigo "Reflexões de um feriado", o dólar vai acabar impactando fortemente nos juros e consequentemente nas previsões de inflação.

O que pode conter esta crise cambial? A saída é simples: ela se chama "credibilidade", mas ao mesmo tempo está longe de ser alcançada, pois somente com ruptura política é que poderemos enxergar uma luz no fim do túnel. Os poderes estão, de certa forma, contaminados pelo ambiente da Operação Lava Jato e dificilmente cederão à tentação de deixar a crise esfriar, porque assim acabam se protegendo dentro do conceito de que “o mal maior abafa o mal menor” e o grau de aceitação dos delitos acabam sendo atenuados. Sempre foi assim.

Também estamos assistindo ao "mais do mesmo": loteamento de Ministério para compra de votos. A nossa presidente poderia apostar em uma melhor escolha, a nível mais técnico, como forma de mostrar que quer uma mudança verdadeira e não um apoio incondicional de alas do Congresso. Este é o ponto central, a palavra "credibilidade " está comprometida por completo.

A frase do dia para o toma-lá-dá-cá é: mais do mesmo.

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Investimentos, Juros, Política
O dilema dos juros
23 de setembro de 2015 at 15:58 0
juros Com o momento político-econômico se agravando em função da queda de braço entre os poderes Executivo e Legislativo, há a possibilidade de agravamento da crise cambial e isso faz com que haja uma mudança nas expectativas em relação aos juros.

Com a curva futura dos juros apontando para 16%, começa a se delinear uma possível projeção de inflação mais aquém da meta estimada pelo Banco Central para 2016. A projeção do futuro embute um clima de descrédito quanto à possível queda da inflação dentro da meta estimada.

A corrente que está formada pelo fluxo da incerteza no âmbito político-econômico vem fazendo com que o dólar seja apreciado constantemente e, assim, acabe impactando na expectativa futura dos juros, apesar da piora considerável na demanda de consumo. O ciclo vicioso está formado.

O dilema da subida dos juros, na atual situação, pode agravar bastante o déficit brasileiro, além de colocar mais gasolina na fogueira. No caso específico do sistema de crédito de habitação, cria um descasamento fantástico. O sistema de poupança vem batendo recordes de saques, principalmente pela falta de atratividade, além de o volume de operações ter crescido de forma agressiva principalmente pela Caixa Econômica (em que saímos de 4% a uma década para 20% do sistema).

Hoje, com a subida dos juros e com os saques crescentes da poupança, os Bancos emitem CDB ou LCI para financiar este déficit, fazendo com que tenham um spread negativo em torno de 3% entre o captado em títulos fora da poupança e o crédito já dado em base de TR. Na realidade o problema é de todo sistema de poupança, apesar de a Caixa ser mais contundente, pois o programa Minha Casa Minha Vida teve uma expansão e representatividade como programa de governo.

O contexto hoje é bem diferente de outros tempos em que o crédito imobiliário não era tão significativo. A subida dos juros, caso se tenha necessidade de usar o crédito imobiliário como política monetária, fará com que o déficit orçamentário, além dos títulos públicos, aumentem significativamente.

Veja esses gráficos:

jurosgrafico poupanca 02

A dimensão do dilema: a possível alta dos juros, caso haja necessidade, poderá fazer um grande estrago nas contas públicas e o não aumento dos juros poderá ser interpretado pelo mercado, já bastante nervoso, como um certo abandono das metas de inflação.

Uma coisa é certa: especular neste momento com juros e dólar é muito arriscado. O conselho é ser conservador em relação aos seus investimentos, sem perder a visão das oportunidades.

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Política
Ajuste fiscal, um remédio amargo.
15 de setembro de 2015 at 15:28 0
ajuste fiscal  

Sem dúvida o pacote de aumento de impostos e corte de despesas proposto nesta segunda pelo Poder Executivo, o tão esperado ajuste fiscal, não é do agrado ninguém, pois a possível volta de um imposto amaldiçoado como a CPMF estará de volta caso o Congresso e o Senado aprovem.

O governo somente tirou os cortes de custo da cartola quando percebeu que não havia outra opção, pois a escolha seria entre a bancarrota do país ou pagar a conta ideológica petista, porque corte de custo significa também custo eleitoral. Sem contar o aumento de impostos que gostaria de diluir com o PMDB, que pulou fora quando rapidamente percebeu a manobra. O PT pagará a conta eleitoral, mas a presidenta Dilma poderá colher alguns frutos com a reversão de expectativas.

Sem dúvida que a Standard & Poor’s deu uma ajuda para que os cortes rapidamente aparecessem e as receitas, via aumento de impostos, para o equilíbrio fiscal viessem à tona.

Não adianta nada ficarmos revoltados com IR, que é injusto mesmo - porque não corresponde, em retorno de benefícios, ao que pagamos, mas o importante é termos impostos para pagar, pois o pior seria a inércia do governo. Assim, pelo menos, teremos uma chance de estancar as expectativas negativas e crescentes de descontrole econômico, caminhando para uma deterioração perigosa e de difícil retorno à estabilidade econômica.

Acho que ainda teremos uma aprovação das medidas econômicas com bastante sacrifício, pois nada no Congresso e no Senado passa sem uma barganha política e eleitoral. Faz parte da política, mas penso que passa com algumas modificações - sem tirar a essência da proposta, como no caso da CPMF, de ser utilizada exclusivamente na aposentadoria. A saída não deixa de ser inteligente, pois tem uma boa conotação.

Enfim, como diz o velho ditado "está ruim, mas sempre pode ficar pior".

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