As notícias de que o mercado imobiliário e a construção civil estão passando por uma crise muito difícil têm saído nos jornais diariamente. Hoje mesmo vimos a notícia de que lançamentos de imóveis em São Paulo caíram 37% em 2015.
Por isso, o governo e o Banco Central precisam pensar em algo para estimular a economia. Percebemos que não estão tão avessos a esses estímulos lendo a notícia de que estudam novas medidas para estimular o setor imobiliário.
De acordo com a matéria do jornal O Globo, o Banco Central criou um grupo de trabalho que vai estudar a redução dos compulsórios, a pedido de empresários que têm sofrido principalmente com os distratos (desistência dos compradores), que atingiram 40% em 2015.
A matéria diz que “de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o valor dos financiamentos com dinheiro da caderneta caiu 30,9% em janeiro na comparação com dezembro. Foram financiadas no período menos 135 mil unidades (queda de 38,5%).
O GT criado vai estudar, principalmente, o impacto que essa redução pode ter na dívida pública. A escassez dos recursos da poupança e o travamento do crédito habitacional estão deixando a construção civil à beira de uma crise irrecuperável e o aumento de crédito pode ajudar muito no destravamento do setor, reduzindo os distratos e a vacância.
Os compulsórios são o dinheiro captado por bancos através da Poupança e que ficam retidos no BC. Falam em injetar no mercado cerca de R$ 25 bilhões, com a redução de apenas 5% dos compulsórios, o que estimularia os bancos a ampliar o crédito imobiliário.
Eu acredito que essa seria uma boa saída, viável no momento, que ajudaria a estimular a economia e daria fôlego para o segmento. O enfoque do vice-presidente da Caixa Econômica Federal é de que as famílias, apesar do medo de contraírem dívidas durante a recessão, também continuam com o objetivo de ter sua casa própria e essa seria uma possibilidade de muitos saírem do aluguel, além de preservar empregos dos trabalhadores da construção. Faz sentido.
O maior desafio do BC, como venho dizendo nos meus artigos, é a decisão dos juros. O aumento dos juros é visto como medida para reduzir a inflação e, no caso, prejudicaria os empréstimos. Apesar das ações divulgadas pela Caixa ontem para estimular o crédito imobiliário, ainda isso é insuficiente (elevou em 70% a cota de financiamento para imóveis usados), diante da diminuição drástica dos recursos disponíveis na Poupança, apesar de positivo.
Vamos ficar atentos às decisões desse Grupo de Trabalho e torcer para que saiam propostas que façam com que o governo tome as decisões necessárias.
Em dezembro o mercado financeiro ficou em alerta pela possibilidade da votação da MP 694/2015 no Senado Federal. Essa Medida Provisória altera drasticamente as regras de tributação dos investimentos. A votação foi adiada para fevereiro, pois há muitas divergências.
A Medida propõe aumento de tributação para aplicações financeiras como, por exemplo, as alíquotas do Imposto de Renda cobradas sobre os juros da renda fixa (como CDB e debêntures) para 22,5% no caso de operações de até 360 dias, chegando a 15% para prazos acima de 1.080 dias. Também serão criadas alíquotas de tributação que variam de acordo com prazo para os rendimentos que são isentos desde 2012, como as LHs (letras hipotecárias), LCIs (letras de crédito imobiliário), CRIs (certificado de recebíveis Mobiliários) e LIGs (letra imobiliária garantida).
Se aprovada a MP, todos os ativos sofrerão grande impacto. O crescimento da indústria imobiliária será diretamente afetado, para pior. E a tributação, como para qualquer setor obviamente, será repassada ao consumidor final.
O governo precisa, realmente, rever muitas coisas. Mas que seja de maneira bem pensada e planejada, pois os incentivos promoveram para o país grandes investimentos, injetando bilhões de reais em projetos prioritários, especialmente os de infraestrutura, como transporte, energia, saneamento, desenvolvimento tecnológico e outros.
Inúmeros investidores deixarão de apostar nestes projetos, caso o texto seja aprovado como está. Precisam ouvir o setor, para não piorar ainda mais a situação da economia com uma “solução” do déficit feita às pressas e descuidadamente.
Acredito que até o mês que vem percebam os enormes efeitos negativos que esse aumento na tributação pode causar, principalmente em uma economia já em recessão e com o poder de compra do cidadão comum sendo corroído por uma inflação de mais de 10% ao ano.
Os fundos imobiliários tiveram uma das melhores posições dentre as opções de investimentos no primeiro semestre deste ano, mas nos últimos meses houve uma piora neste mercado também.
Dentro da indústria, há vários tipos de fundos imobiliários, com características específicas e muito diferentes entre si, mas que não são classificadas de forma a atrair e facilitar para o investidor a compreensão das vantagens e dos riscos. Hoje, o investidor precisa ler todo o regulamento completo de uma carteira para poder saber os riscos.
Mas a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) elaborou, pela primeira vez, um retrato com os dados do mercado de fundos imobiliários que entrou em vigor no dia 1º de outubro. Essa classificação envolve um total de 234 carteiras, das quais 124 possuem cotas negociadas na BM&FBovespa. O levantamento desses dados tem a intenção de melhorar o processo de seleção dos investidores, esclarecendo a eles exatamente que tipo de negócio estão comprando.
Na minha opinião, a classificação vai funcionar como educação financeira, pois o investidor vai conseguir entender que há vários tipos de fundos imobiliários dentro da indústria, por exemplo.
Eu defendo muito a entrada de mais pessoas físicas no mercado de investimentos e sei que uma das maiores barreiras é a falta de conhecimento. Acredito que essa classificação possa ajudar bastante a atrair este tipo de investidor.
O número de pessoas físicas que detêm cotas de fundos imobiliários é estável, mas neste mês de setembro verificou-se uma diminuição em relação a dezembro do ano passado: 90.242 hoje, contra 92,7 mil de dezembro.
É importante que o investidor saiba que os fundos imobiliários ainda estão com rendimento acima da inflação e, embora também esteja sofrendo os efeitos da crise, muitas classes ainda poderão ter vantagens.
Quem quiser acessar os documentos da nova classificação da Anbima, pode acessar AQUI.