A palavra talvez seja novidade para alguns, mas crowdfunding (ou financiamento coletivo) não é exatamente uma invenção moderna. Quem nunca participou da famosa “vaquinha” para financiar um presente para um amigo ou ajudar uma instituição de caridade. A diferença do crowdfunding talvez seja a proporção da “vaquinha”, uma vez que a internet é um meio muito mais amplo de repercutir a ideia.
O financiamento coletivo vem mudando a relação que as pessoas têm com iniciativas culturais no Brasil. Sim, nós temos a Lei Rouanet, que conta com a colaboração de empresas e pessoas físicas para o patrocínio dos projetos em troca de benefícios fiscais, mas projetos independentes de baixo e médio orçamentos não conseguem o auxílio necessário pois não dão toda a exposição que a empresa deseja. Então, o crowdfunding nesse aspecto é um importante mecanismo de diversificar a nossa produção cultural, oferecendo meios para que várias iniciativas possam ser conhecidas pelo grande público.
Os exemplos de quem pede um financiamento no Brasil são muitos, desde atletas, músicos, ONG’s de proteção aos animais, ativistas sociais e educadores. Até o Vasco foi beneficiado, quando um de seus torcedores iniciou uma campanha para abater as dívidas do clube com a Receita Federal.
Startups, especialmente as de tecnologia, são também grandes beneficiadas por essa ferramenta e desde 2012 os Estados Unidos contam com legislação específica para o chamado equity crowdfunding. A Jumpstar Our Business Startups Act, ou JOBS Act, sofre severas críticas pois não cumpre a proposta de facilitar o acesso das MPEs ao mercado e aponta o Brasil como exemplo a ser seguido nessa questão. Nossa legislação foi editada antes do JOBS Act pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM e é bastante inovadora no sentido de que não limita o aporte individual de capital, um ponto muito importante para o relacionamento entre as startups e os investidores anjo. A limitação ocorre nos valores anuais de financiamento, que não pode ultrapassar o limite anual de R$ 2.4 milhões.
Basicamente o investimento em startups utiliza o modelo de recompensas, doações, equity e crowddebt. Este último, que consiste em tomar dinheiro emprestado a taxas bastante interessantes para ambos os lados, sofre severas restrições por parte do Banco Central do Brasil, que dificulta o empréstimo entre pessoas físicas. O equity se mostra uma alternativa bastante eficaz, mas que ainda carece de algumas seguranças para o investidor. O medo de fraude é sempre presente, entretanto a CVM demonstra interesse em fortalecer o setor e vem fazendo um trabalho muito cuidadoso.
Contar com a colaboração de investidores para abrir a própria empresa é realidade no mundo todo. O Pebble Watch se tornou sucesso de vendas e arrecadação de financiamento além de mostrar que as pessoas estão interessadas em investir em gadgets que facilitem a própria vida e ouçam o usuário. O jogo Star Citizen, maior fenômeno do que o crowdfunding pode fazer, deixou claro que não devemos ignorar que as memórias afetivas também são importantes nesse tipo de projeto e arrecadou quase US$ 50 milhões ao final da campanha onde pedia US$ 500 mi para manter o desenvolvimento de um jogo que seria descontinuado.
Ainda temos muito que avançar no crowdfunding, sob vários aspectos, mas o principal talvez seja ter maturidade no mercado. O objetivo principal do financiamento coletivo, aliás, de todo projeto coletivo, não é financiar desejos e caprichos de um pequeno grupo, mas beneficiar a sociedade como um todo, seja colaborando com a cultura nacional, financiando um jogo ou mesmo fazendo hambúrguer.
Estamos no caminho, só precisamos de atenção e foco para não nos desviarmos dele.