O anúncio da criptomoeda do Facebook em consórcio com grandes players de meios de pagamento como PayPall, Mastercard, Visa e algumas das principais companhias do mundo no segmento, gerou uma expectativa e uma explosão de interpretações das mais variadas correntes, tanto institucionais quanto técnicas, e de agentes financeiros como os Bancos Centrais de diversos países.
Todos sabemos que o sistema financeiro atual tem uma aparência de perfeito, porém a realidade está muito distante. Desde o evento das Torres World Trade Center, em 2000, o mundo mudou consideravelmente e não podemos dizer que foi para melhor. Assim, o mundo financeiro estruturou um fechamento de liberdade económica nunca visto anteriormente, pois seguido aos controles antiterroristas de fluxo de capitais, ainda tivemos a crise sistêmica dos bancos em 2008, proveniente da bolha dos chamados “ativos tóxicos” ou sub prime.
Em conjunto aos controles de compliance antiterrorismo, a normatização bancária imposta pelos órgão reguladores, que normatizavam e moderavam os capitais segundo o critério de que o capital deveria ser somente para os incluídos no conceito patrimonial correto, ou seja, capital versus garantias reais, sejam imobiliárias, recebíveis ou correlatos. Da mesma forma, criou-se uma barreira de entrada na economia ativa, isto é, transferências e outras movimentações bancárias somente para a massa comprovadamente empregada dentro do sistema regulado trabalhista.
Impedir a inclusão bancária a quem não possui comprovadamente uma relação formal de trabalho torna muito difícil a vida dos que estão na cidade ou no campo e possuem uma produção econômica. Somente considerando o Brasil, podemos dizer que 40% da população não se encontra dentro desta formalidade. A Libra está de olho neste público que não tem conta, mas têm celular e poderia se conectar financeiramente com o mundo por este meio de pagamento. Por incrível que pareça, traria de certa forma a inclusão econômica para milhões de pessoas que se conectam pela internet e pelos celulares.
Porque uma criptomoeda e não um ativo real, como muitos acostumados a regulação atual pensam? Onde está o lastro?
Atualmente, o lastro de todas as moedas é a credibilidade. Nesse sentido, a proposta do Facebook é abrangente e, com certeza, deverá ser utilizada por milhões de pessoas que se sentem desassistidas para mínimos movimentos financeiros em que se substitua o papel moeda em definitivo. Assim poderia existir a verdadeira inclusão financeira. Lembrem-se que hoje, para que se possua algum meio de pagamento, seja o cartão ou transferência, é necessário o Cadastro de Pessoa Física, CPF, ou o celular, que por sua vez deverá funcionar como uma wallet ou documento de identidade. É o novo mundo chegando.
Somente para corroborar o meu apoio a esta proposta, já venho me posicionando há algum tempo sobre a questão das criptomoedas e blockchain, este também uma revolução nos sistemas de tecnologia e desburocratização. Nós hoje já não somos donos do nosso dinheiro e nem da movimentação livre. Se você quiser pegar seu dinheiro declarado e simplesmente sacar ou movimentar por qualquer razão quantias que não são normalmente aceitas, já se torna uma pessoa suspeita pelo compliance. Atualmente o seu direito de movimentar já não esta mais na vertente principal do sistema bancário.
Como estamos hoje? Porque a proposta da Libra é amplamente favorável, no meu ponto de vista.
Sem dúvida, as regulamentações tem que vir a reboque, para que não tenhamos mecanismos sem nenhum critério de controle do mau uso da ferramenta. Os órgãos reguladores estão aí para isto mesmo, colocar ordem nos avanços da tecnologia, para que não vire mais um mecanismo de corrupção e desvio de impostos.
Em nossos dias, o domínio mundial de uma moeda é muito preocupante, principalmente para os países emergentes, que não produzem tanto dólar ou euros e precisam possuir uma reserva absurda em moeda estrangeira somente para se proteger da desvalorização cambial. Não é producente e levanta a questão do por quê não existir um comércio exterior entre países menores que não dependa, necessariamente, de euro ou dólar e sim nas suas moedas nacionais.
Sabemos que a resposta é a falta de credibilidade e podemos apontar como caso prático o Brasil e a Argentina.
Assim, para concluir o meu raciocínio, um facilitador de meio de pagamento ajudaria bastante o mundo pois, contrariamente aos que pensam que o Facebook deteria controle, não é minha interpretação. Em um consórcio, a empresa teria um voto exatamente como os demais. Outro nível de segurança é o próprio sistema inviolável do blockchain, um dos inúmeros benefícios dessa ferramenta. Compreendo o receio de algumas autoridades e respeito a opinião dos argumentos divergentes sobre este tema tão polêmico. O que o Facebook está propondo, entretanto, é uma opção ao sistema do Bitcoin, uma melhoria que dá mais organização, uma vez que a utilização do bitcoin ainda é baseada na especulação, com alta volatilidade e assim não cumpre o papel de uma moeda de usabilidade.
Enfim, vale a pena pensar neste novo mundo.
Março começou cheio de notícias com potencial de modificar o panorama econômico mais uma vez. A semana curta e meio morta depois do Carnaval ficou bem agitada para o observador econômico, como notícias do Banco Central, Mercado Financeiro, FED e Balança Comercial.
Certamente a mais importante é a projeção da redução da taxa SELIC para a faixa de 9,25% ao final de 2017 por analistas do mercado financeiro, resultado da estabilidade de 4 semanas da taxa. Já o Comitê de Política Monetária – COPOM, avalia que o cenário é favorável e que há possibilidade de desinflação, com meta do IPCA em 4,5% para 2017 e 2018.
Esses números são estimativas e sempre baseados no comportamento das economias em época de crise. Por exemplo, se os preços não aumentam, a inflação tende a diminuir e o consumo a aumentar. Os analistas já estimam que o crescimento da economia fica 2,37% para 2018 e o dólar cai de R$ 3,40 para R$ 3,37.
Parece cedo para apresentar essas estimativas para 2018 e até 2019 em alguns casos, mas essas previsões são fundamentais nas tomadas de decisões. De forma prática, as informações são essenciais na escolha de um investimento pré ou pós-fixado, por exemplo.
Nos Estados Unidos os anúncios do FED também são importantes pois divulgam dados da atividade econômica americana e como isso pode afetar o restante da economia mundial. A expectativa é de alta de juros, especialmente se o presidente Trump implementar algumas medidas anunciadas no discurso ao Congresso americano no último dia 28.
O superávit da balança comercial brasileira de US$ 4,56 bi em fevereiro é recorde para o mês, desde 1989, e resultado do aumento das exportações de semimanufaturados e manufaturados. A projeção de queda do dólar tende a aumentar a demanda por produtos brasileiros, aumentando também os postos de trabalho e fazendo girar a economia. Talvez não seja ainda resultado direto dos dados a serem anunciados pelo FED, mas com as exportações brasileira já estão aumentando.
As notícias mostram que os caminhos estão se alinhando para nós, brasileiros. Que nós saibamos caminhar na direção certa e tomar as melhores decisões, aproveitando o momento que, se não é totalmente favorável, com certeza pode é bem melhor que neste mesmo período do ano passado.
Semanas atrás falei sobre o Índice de Sustentabilidade e como apostar em uma gestão que apoia o desenvolvimento sustentável faz a diferença na reputação da empresa frente aos investidores e consumidores dos seus produtos. É interessante desenvolver a questão, uma vez que mercados mais sofisticados tendem a segmentar melhor os grupos de ações, dando ao investidor opções para diversificar em momentos de crise.
Um desses segmentos é o chamado The Vice Bin, constituído de empresas consideradas politicamente incorretas, do ramo de tabaco, bebidas alcoólicas, armamentos, cassinos e outras e, questões morais à parte, o raciocínio é que as pessoas não param de beber, fumar ou jogar em decorrência da crise, pelo contrário.
Antes de prosseguir é importante salientar que não há juízo de valor do mercado em relação a esses fundos, no entanto alguns investidores possuem uma política de responsabilidade social que os impede de aplicar nesses fundos. Com o esvaziamento dessas carteiras as ações ficam mais baratas e a rentabilidade maior. Os investidores procuram ações de empresas que sejam estáveis e tenham boa rentabilidade e as empresas listadas nesse nicho oferecem esses atributos, pois atuam em setores chamados inelásticos, ou seja, a demanda por esses produtos não flutua em razão de instabilidades políticas ou econômicas.
A título de curiosidade, na Bolsa de Valores de NY, as ações da Phillip Morris tiveram, de janeiro a março deste ano, uma alta de 27,4% em relação ao ano passado. Já no Brasil, a AMBEV e a Souza Cruz têm se destacado pelos bons resultados e acumulam ganhos acima dos papeis de outras empresas.
Isso não significa que não haja riscos. As empresas de cigarro sofrem processos judiciais milionários e que têm impacto direto no valor de suas ações. Já as empresas de bebida alcoólica dependem dos resultados de outros setores que determinam a oferta dos produtos - como a produção agrícola de cevada e lúpulo, por exemplo. Outro ponto a se considerar é que muitas vezes as exigências para as empresas desses fundos são maiores em termos de governança e responsabilidade social, para melhorar a imagem junto ao público.
Nos Estados Unidos e Europa esse segmento vem obtendo sucesso e resultados muitos bons ao investidores, mas não há indícios de que esse setor possa se instalar no Brasil tão cedo. A confiança no mercado é a principal variável para que exista esse nível de segmentação e a Bolsa de Valores brasileira ainda tem muito o que caminhar nesse aspecto.
Para quem não é do meio, fica muito difícil acompanhar os acontecimentos mundiais que impactam as moedas, os investimentos, a Bolsa. Então, decidi fazer um paralelo entre esses assuntos que acontecem ao mesmo tempo e que estão criando expectativas no mercado financeiro do mundo todo.
Nos EUA, se aguarda o resultado das eleições presidenciais que acontecem esse ano. A disputa tem sido cheia de polêmicas, inclusive com discursos extremistas. A cada notícia de força entre os adversários, o mercado reage. Há uma expectativa de que se a Hilary vencer, o mercado terá mais conforto. E se o mercado dos EUA estiver confortável, o resto do mundo é afetado positivamente.
Na Europa, o assunto é o Brexit, que causou uma tempestade de incertezas na zona do Euro. As consequências, com as quedas consecutivas da Bolsa, ainda são uma incógnita aos investidores. As incertezas e a volatilidade do mercado podem causar retração da economia europeia, o que causaria consequências negativas no mundo todo.
Já no Brasil, a expectativa é a consolidação do impeachment. O mercado tem reagido positivamente às posições do governo Temer e sua equipe econômica, com reais expectativas de recuperação, mesmo sabendo que é um processo lento e difícil. A incerteza que paralisa é a dúvida se a presidente afastada retorna ou não ao comando do país.
Como podemos observar, a política afeta a economia em todos esses cenários. E, em qualquer dos ambientes, o que precisamos para que voltem os investimentos é de solução, conclusão, definição. A partir da definição de todos esses assuntos é que começaremos a ver os resultados.
Ao Brasil interessa tanto a estabilidade interna quanto externa, pois isso tem reflexo direto nas exportações. Em um país com câmbio elevado como agora, a exportação é uma ferramenta importantíssima para captação de recursos e equilíbrio da balança comercial.
Para se ter ideia, só nas duas primeiras semanas de julho, a balança comercial teve um superávit de US$ 1,48 bilhões (fonte: MDIC). As exportações têm tido uma média diária de mais de 800 milhões de dólares, o que significa aumento de 2,9% em relação a 2015. Já as importações tiveram um recuo de 17,2%.
Hoje tivemos a notícia de que o PIB de maio teve um tombo em relação ao mês anterior. A queda do PIB em relação ao ano passado é de 3,8%, caracterizando a forte recessão: desemprego, inadimplência, queda de consumo e produção. E, como nosso mercado interno não está aquecido, nossas indústrias têm se mobilizado para atender o mercado externo. A estabilidade americana e europeia são essenciais para continuarmos vendendo e, consequentemente, administrando a crise e trabalhando para reconstruir a nação.
Como podemos ver, no mercado de investimentos não há independência. Os três assuntos são relevantes para a relação de fluxo de capitais no Brasil.
Resumindo, a eleição de Donald Trump significa para os EUA o mesmo impacto que o Brexit tem para os europeus e a volta de Dilma para o Brasil. Espero que não tenhamos uma pororoca tríplice, seria uma catástrofe. Que Deus nos abençoe. Amém!