O desafio de criar um modelo de negócios sustentável e inovador é a marca da era da internet. Gerar valor a partir de uma ideia é tarefa ousada e com resultado incerto, por isso a decisão de empreender e investir não pode ser feita levianamente. Analisar os cenários é fundamental para não ter prejuízos como os que aconteceram no estouro da bolha da internet, no início dos anos 2000.
Google, Yahoo!, Aol e outras sobreviveram à queda da Nasdaq e mostraram a capacidade de se reinventar é tão importante quanto um forte padrão de negócios, que seja lucrativo e possa ser replicado. O curioso é ver que quase 20 anos depois estamos diante de uma nova revolução. Todos sabemos que a chamada web 2.0 modificou a maneira como a comunicação com as massas é feita, no entanto o modelo mais tradicional, a televisão, agora quer conversar com as “pontocom”.
Já era de se esperar que isso viesse a acontecer um dia. O acesso a tablets e smartphones aumentou muito nos últimos anos. Estudo encomendado pela LG Eletronics estima que 32% dos aparelhos de televisão no Brasil são smart e 91% deles estão conectados à internet. Se adicionarmos os dispositivos Chromecast, Apple TV e Nexus Player, acredito que esse número pode alcançar quase metade dos televisores no país.
Toda essa facilidade muda a relação da televisão com os telespectadores. Segundo o Youtube, jovens entre 13 e 24 anos assistem cerca de 3 horas semanais a mais de vídeos na plataforma, em oposição à televisão tradicional. Além disso, sentem-se melhor ao escolher o que querem assistir.
A criação de conteúdo especificamente para consumo “on demand” é uma aposta interessante do ponto de vista dos negócios. Já falei sobre como a utilização de games pode transformar o marketing. Acredito que da mesma forma a utilização de várias plataformas pode mostrar um conteúdo mais rico e dar novas possibilidades tanto a investidores de tecnologia quanto a anunciantes.
Há muitos anos as redes de televisão brasileiras vêm ensaiando entrar no mercado web e apesar de não existir uma fórmula perfeita, saber conversar com a audiência é a parte mais importante do processo. No Canadá, a Rogers Communications Inc. decidiu concorrer com a Netflix e criou a Shomi. O serviço de streaming ficou no ar por menos de dois anos e deu prejuízos de aproximadamente R$ 250 mi e os executivos das empresas afirmaram que este tipo de negócio é mais difícil de gerenciar do que parece. Nas redes sociais a audiência da Shomi lamentou a decisão e deu várias sugestões de como o streaming poderia melhorar.
O canal Viva foi uma tentativa da Rede Globo de valorizar seu catálogo e combater a pirataria de seu acervo e deu tão certo que chegou a liderar a audiência da TV paga com a reprise de novelas em 2015. A audiência da Rede Globo é tradicionalmente receptiva, porém a inauguração dos serviços GloboPlay e Globosat Play foi no sentido de acompanhar a tendência da migração do consumo ativo de conteúdo pelas novas gerações. Com uma conexão simples de internet em um computador ou tablet, é possível a todo o acervo da maior emissora de televisão do país.
A Globo vai virar um Netflix brasileiro? Não, mas certamente ela se posicionou para diminuir a distância entre ela e o gigante do streaming, especialmente no que diz respeito aos valores cobrados dos assinantes: R$ 14,20 por mês ou cadastro nas TVs por assinaturas parceiras.
Nenhum povo é igual ao outro e essas diferenças culturais refletem no mercado. A migração do analógico para o digital pode ser feita, mas deve ser planejada com calma para dar resultado. O episódio canadense ensina que serviços como esse devem estar bem adaptados às novas comunicações, que é de duas vias entre a empresa e o telespectador. E o brasileiro que não basta mais uma boa ideia e investimento, é preciso falar o que o público quer ouvir, de maneira criativa.
O pioneirismo consiste não apenas em chegar na frente, mas estipular um novo padrão. Será que conseguiremos imaginar onde o futuro pode nos levar?
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