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Investimentos, Política
A Síria é aqui.
9 de outubro de 2015 at 18:05 1

violência

Sem dúvida é para ficarmos chocados com o nível de violência urbana que temos visto em várias cidades brasileiras. Mas algumas têm maior impacto midiático em função da sua relevância, como é o caso do Rio de Janeiro.

Na última semana tivemos mais um evento de violência gratuita, protagonizado por um casal de empresários do setor de turismo que conhecem as nuances da cidade, mas ainda assim foram enganados pelo sistema de GPS, porque houve situação de homônimo de ruas. Um mês antes já havia acontecido o mesmo com uma artista da Globo que caiu na mesma armadilha. E olhem que não estamos falando de pessoas que não conhecem o RJ, são pessoas com o mesmo grau de conhecimento da cidade e assim devemos rezar pelos turistas que, porventura, se aventurem a saírem andando por aí sozinhos, pois não existe nenhuma orientação indicando o grau de risco que eles correm andando pelas favelas ou bairros conhecidamente perigosos.

O absurdo destas situações é tão grande que não dá para aliviar as autoridades responsáveis de sua incapacidade em administração pública, neste quesito de segurança pública. Já é conhecido por todos que nós convivemos que temos um regime de impostos municipais e estaduais de primeiro mundo, mas com situação semelhante à de países do Oriente Médio. Se você entra por engano em uma via de favela e é metralhado, como aconteceu nestes dois casos, acredito que a Síria é aqui.

A situação é esta: pagamos impostos de primeiro mundo e recebemos serviços de quinto mundo pois a segurança inexiste. É facada em ciclista, arrastões generalizados nas praias, roubos de celulares e relógios, roubo com armas em semáforos e muito mais. Lembrem-se que não temos luta de classes, nem religiosas ou mesmo por terra, como acontece nas zonas de conflito. É Chicago mesmo, nos bons tempos da lei seca americana em que os bandidos tomaram conta da cidade. As autoridades poderiam fazer mais do que se solidarizar com as vítimas, pois arrecadar impostos é o primeiro fator de obrigação do governo para utilização nos serviços prioritários. Será que segurança nunca será prioritário? Tivemos uma falsa impressão de que tínhamos controlado a situação com a criação da UPPs, um grande engano!

Qual o trabalho e custo que um governo sério e preocupado com a segurança teria de melhorar a sinalização, mostrando onde as pessoas podem ou não podem ir como uma sinalização de perigo real do banditismo? A hipocrisia mostrada para a sociedade de que as favelas são bonitas e legais nas novelas, com uma vida feliz, é mais outra grande mentira consentida pela sociedade, que não mostra a realidade da pobreza, a falta de saneamento e o risco de vida para os moradores (com as chuvas, por exemplo). Mas continuamos a ter uma aparência de que todos são felizes.

Quando o Estado se ausenta, a bandidagem ocupa o espaço do Estado. Mas para sociedade como um todo, a situação é de consentimento consensual pois temos nos acomodado além do racional, do “por que se incomodar?”.

Para os políticos é mais fácil não olhar ao redor do problema, que de uma forma ou outra acaba explodindo, em vez de terem uma proposta honesta e efetiva para um dos maiores problemas nacionais que é a violência urbana. Aqui no Brasil morre mais gente por causa dela do que em zona de conflito do Oriente Médio.

O RJ, em especial, deveria ter esse cuidado redobrado pois a sua grande vertente econômica não voltará por um bom tempo: o petróleo. A Petrobras não se aguenta sozinha com seus problemas de investimentos para resolver, assim acredito que precisamos de uma nova vocação para a nossa cidade e, agora, a grande oportunidade serão as Olimpíadas, pois o Porto Maravilha estará pronto, podendo ser um grande receptivo de turismo. Isso dará uma nova chance à cidade de se reinventar, mas precisamos implementar.

Para isso precisamos implantar a tolerância zero, como foi feito em outras grandes cidades como NY. É difícil? É. Mas precisamos, no mínimo, de consciência social das autoridades e da população de que a violência urbana já é o nosso maior mal e pode engolir o cidadão no seu direito mais básico que é o de ir e vir, além de afetar os investimentos e melhorias progressivas das nossas cidades.

A violência no Brasil não é segredo e nem novidade. Em maio deste ano, a UNESCO divulgou o Mapa da Violência/2015, que diz que 42.416 pessoas morreram em 2012 vítimas de arma de fogo no Brasil, o equivalente a 116 óbitos por dia. As mortes por homicídio representam mais de 94%. Estes dados são coletados desde 1980 e este ano é o maior em número de mortes registradas desde o início da série histórica, tanto que a UNESCO decidiu desmembrar e fazer um relatório especifico sobre mortes com arma de fogo. O resultado é ainda mais aterrador quando percebemos que 59% dessas mortes ocorrem entre brasileiros na faixa entre os 15 e 29 anos. O número é 463,6% maior desde que este dado foi registrado pela primeira vez. Sem a necessidade de uma análise mais profunda, está claro que faltam políticas públicas para que essa parcela da sociedade não morra por algo que pode ser evitado.

 O que mais se ouve é: “vou me mudar para Miami”. É o começo do fim.

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Bolsa, Câmbio, Finanças, Investimentos, Juros, Política
Agenda apertada
30 de setembro de 2015 at 18:57 0

agenda apertada

A desarrumação na economia, pela alta abrupta do câmbio em curto espaço de tempo, vai trazendo consequências por parte, principalmente, do endividamento das empresas que tomaram recursos através de corporate bonds, fazendo com que as mesmas tentem a recomposição de caixa para fazer frente ao aumento dos encargos da dívida.

A Petrobras anunciou o aumento dos combustíveis com este objetivo, pois é uma das empresas mais endividadas do mundo e ela precisa de recomposição de caixa. Fala-se em 6.5 bilhões! Sem dúvida o mercado gostou, pois além de dar uma clara sinalização de certa autonomia operacional, apesar de inflacionário esse aumento, se tem a percepção de que não deverá impactar tanto nos repasses, pela fraca demanda.

Até nisso temos uma situação esdrúxula, pois o petróleo está nos níveis mais baixos no mundo e mesmo assim precisamos aumentar o preço internamente. Este é um dos efeitos da alta do dólar sobre o endividamento, que acaba sendo do descolamento de preços das commodities pela necessidade de caixa. Neste ponto poucos poderiam fazer o mesmo, pois a concorrência atuaria como regulador de preço. Enfim, é o que temos de melhor.

Continuo apostando no tema que citei outro dia no artigo "remédio amargo", que é a questão da CPMF que acabará passando no Congresso pela goela abaixo, pois o tempo é curto e não existe outra proposta na mesa para fechar as contas do orçamento.

Além do mais, na situação atual, acredito que nem um outro governo (caso viesse) teria tempo para implementar alguma medida de eficácia real. Basta ver que o ministro Levy não muda a conversa na sua peregrinação, afirmando que este é o plano A e o B e o C. É o que tem na mesa, pois de fato corte de custo tem uma dificuldade maior. Sabemos que precisa de um prazo maior para implementação, além de cortes sempre poderem ser contestados juridicamente pelas classes que não querem perder seus direitos. Pode ser que eu me engane, mas daqui a pouco a grande maioria aceitará o CPMF como um mal menor e não como o maior.

Além disso, a redistribuição de cargos nos Ministérios para o PMDB passa a sensação de que a presidenta se fortalece contra o cenário de impeachment, pois essa questão está justamente nas mãos do PMDB. Assim, também a substituição do Ministério da Casa Civil, é uma demanda de parte do PMDB e do próprio ex presidente Lula por um político de maior aceitação pelo PMDB. A agenda política e econômica está bem apertada para o Executivo, pois corre contra o relógio inclusive para mostrar uma sinalização ao mercado de que a crise está sendo administrada ativa e não passivamente, pois ainda tem as agências de risco rondando os novos rebaixamentos de risco.

Esses próximos dias serão cruciais para a agenda política econômica que pode vir marcada por novas surpresas. Quem sabe a luz no final do túnel não seja um trem na contramão.

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Câmbio, Política
Até onde vai o stress do dólar?
24 de setembro de 2015 at 17:32 0
dólar

A pergunta recorrente em todos os lugares que tenho frequentado é: a que preço vai o dólar? Realmente não é uma tarefa fácil prever a situação da moeda americana, mas alguns esclarecimentos poderão ajudar os amigos a parametrizar a situação da moeda:

Tecnicamente não há mais paridade alguma, pois saímos do campo econômico para o político e vice-versa. E aí as variáveis são as mais diversas. Para quem sabe e já passou momentos de crises cambiais e econômicas no stress, é jogar a máquina de calcular fora e transformar em feeling e interpretação dos momentos políticos e econômicos.

Adicionado ao stress do dólar, vem a corrida para qualquer operação cambial ficar atrelada a um hedge da moeda. Hoje importamos um volume considerável e acredito que o bom senso dos importadores fará um hedge, pois a volatilidade e a incerteza econômica poderão comer a margem dessas empresas.

O overshooting que estamos assistindo, sem dúvida, é uma somatória de tudo isso:

  • Hedge cambial para cobrir exposição de dívida em dólar;
  • Ajuste de mercado derivativo de Fundos;
  • Proteção patrimonial pelas grandes tesourarias de Bancos e grandes grupos com negócio no Brasil;
  • Aposta contra alguma solução política e econômica no curto prazo.

E por aí vai... tudo isso, misturado com o medo de não ter solução a curto prazo, faz com que o dólar caminhe para o céu e qualquer número é válido: R$ 4,50, R$ 5,00, tudo pode.

Como falei no artigo "Reflexões de um feriado", o dólar vai acabar impactando fortemente nos juros e consequentemente nas previsões de inflação.

O que pode conter esta crise cambial? A saída é simples: ela se chama "credibilidade", mas ao mesmo tempo está longe de ser alcançada, pois somente com ruptura política é que poderemos enxergar uma luz no fim do túnel. Os poderes estão, de certa forma, contaminados pelo ambiente da Operação Lava Jato e dificilmente cederão à tentação de deixar a crise esfriar, porque assim acabam se protegendo dentro do conceito de que “o mal maior abafa o mal menor” e o grau de aceitação dos delitos acabam sendo atenuados. Sempre foi assim.

Também estamos assistindo ao "mais do mesmo": loteamento de Ministério para compra de votos. A nossa presidente poderia apostar em uma melhor escolha, a nível mais técnico, como forma de mostrar que quer uma mudança verdadeira e não um apoio incondicional de alas do Congresso. Este é o ponto central, a palavra "credibilidade " está comprometida por completo.

A frase do dia para o toma-lá-dá-cá é: mais do mesmo.

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Câmbio, Juros, Política
Reflexões do feriado e a política econômica brasileira
8 de setembro de 2015 at 16:45 0
Reflexões do feriado: a política em deterioração

Reflexões do feriado: a política em deterioração

Algumas notícias e artigos me chamaram a atenção neste fim de semana de feriado prolongado. Obviamente todas citam o nosso momento econômico e político. Uma das que mais me chamou atenção foi um artigo no Estadão, cujo título é "A crise de Dilma vai a Turquia". O artigo, além de chamar a atenção para o momento político e econômico bastante complexo, cita alguns comentários na reunião do G-20, realizada em Ancara, cidade Turca. Vou relatar alguns trechos deste artigo, pois relata a nossa atual realidade, vista pelo lado de fora, dentro da análise do cenário global esboçado pelos economistas do FMI, como: "condições políticas em deterioração", "no Brasil, a fraca confiança de empresários e consumidores, no meio de condições políticas difíceis, e o necessário aperto da política macroeconômica devem enfraquecer a demanda interna, com o investimento caindo de forma particularmente rápida". O Brasil foi citado por todas as suas dificuldades que são momentâneas, mas maiores que de seus pares emergentes em função, principalmente, de "condições políticas e deterioração". Outra pequena matéria, que não me passou desapercebida, foi sobre uma pesquisa oculta feita com políticos do PMDB em que se constatou que 50% já apoiam o impeachment. O que significa isto? Cada vez mais temos a percepção de que hoje o PMDB é quem realmente vai dar as cartas para decidir o futuro da Presidenta Dilma. Além disso, a fala do vice Michel Temer sobre a inviabilidade de governabilidade com baixa popularidade, também noticiada durante todos os meios de comunicação, deixou claro que existe um possível movimento de desembarque. Meu entendimento é que o mesmo já se coloca como uma real via alternativa de transição pois, em tese, o Vice não deveria se posicionar em público. E não é só uma forma de mostrar insatisfação, mas sim de se posicionar diante do possível desenrolar das decisões de aprovações - ou não - das contas, que sairão nos próximos dias. Enfim, foi um feriado bastante movimentado. O aspecto de mercado que me chamou a atenção nessa semana: A persistente alta do dólar tem chamado a atenção, pois as tesourarias dos grandes bancos locais e estrangeiros começam a perceber que os sinais emitidos pelo Banco Central de que há tendência de queda das taxas de juros já não é a mesma percepção do mercado. O BC ofereceu  títulos federais na semana passada, em um leilão de taxas pré-fixadas, mas o mercado pediu um prêmio mais alto. Assim, o BC cancelou o leilão e já avisou que vai oferecer leilões de Swaps em dólar, para diminuir a volatilidade e manter a paridade mais equilibrada. Isto não é um bom sinal, pois as tesourarias já começam a pedir um prêmio alto na dívida local, dado o risco institucional e o Investment Grade em questão. O problema é que não conseguimos enxergar o que é o preço técnico do dólar, se é que tem. Tecnicamente pode ser R$ 4,00 ou R$ 4,50, depende do grau de   deterioração econômica e política que agora passam a andar de mãos dadas. Isso significa que não tem nada certo em relação ao dólar e juros. Os juros, que até então aparentavam calmos e já se esperava uma possível queda no primeiro trimestre de 2016 - o que parecia ser suficiente para manter a meta de inflação sob controle, começam a despertar desconfiança caso o dólar continue nessa escalada de preço. Somado a isso, o prêmio mais alto pedido pelo mercado é uma sinalização preocupante. A indefinição na área política e nos ajustes necessários para a contenção de um déficit minimamente aceitável, criam uma situação bastante incômoda para o BC controlar a corrida para o dólar. Pode ser que só vender Swap não seja suficiente para acalmar os agentes, que começam a duvidar do equilíbrio econômico e é aí que as coisas se complicam, pois isso vai demandar vendas spot do dólar e alta de juros. O mercado está assustado, transmite sua inquietação através de preços dos ativos e sabe que, se não tivermos rapidamente uma solução para o embrulho político/econômico, as coisas podem ir para caminhos bem mais difíceis de serem resolvidos. Então, só restará a política econômica ortodoxa, com juros altos e controle de câmbio, ocasionando a queima de reservas cambiais. Já vimos isso antes.
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