X

marina silva

Política
Back to the game
27 de julho de 2018 at 13:26 0

Faltando pouco mais de dois meses para as eleições, começa de fato a corrida eleitoral e nunca existiu tanta indefinição em relação a quem serão os candidatos. Tendo em vista que, tradicionalmente, a maioria das disputas eleitorais se dava entre dois ou três maiores partidos no caso o PSDB, PT e PMDB e agora nós acompanhamos uma inversão dos papéis. 

Estamos diante de uma grande mudança do contexto eleitoral. A Operação Lava a Jato, principalmente, transformou o mundo político em antes e depois e juntamente com o primeiro ano da nova lei de financiamento de campanhas e da Lei da Ficha Limpa já estão impactando a eleição deste ano. Se tornou mais difícil fazer campanhas pelo modo antigo e convencional.

Inicialmente, alguns pré-candidatos tinham pretensões e se posicionarem como tal, porém acabaram se retraindo após avaliar até que ponto é vantajosa a exposição de mídia, além dos desgastes emocional e financeiro. O nível de exigência passou a ser maior em relação a alguns valores, que até então foram esquecidos pelos eleitores. 

O fato de termos um novo modelo de financiamento de campanhas torna, de certa forma, as eleições um pouco mais igualitárias, apesar da divisão do bolo ser proporcional ao tamanho do partido. Isso é bem demonstrado quando existem candidatos de partidos pequenos liderando as pesquisas, apesar de que o verdadeiro teste de fogo terá início juntamente com o horário eleitoral na TV. Não restam dúvidas que a propaganda eleitoral sempre teve forte impacto, porém acredito que será menor nessas eleições, com exceção das classes C e D que ainda sofrem influência mais abrangente da TV tradicional. 

No campo das mídias digitais os candidatos estão, potencialmente, no mesmo patamar de competitividade. As redes sociais, inclusive o WhatsApp, continuam mostrando cada vez mais sua relevância e influência com o eleitor. Sem dúvida, a união entre a mídia tradicional e as mídias digitais será o grande diferencial nessa eleição.

A eleição começou agora de fato, com o posicionamento de alguns partidos. O chamado “Centrão” já se coloca em relação a alguns partidos especialmente em função do seu histórico político, já que o grupo congrega várias vertentes e apoiar um candidato controverso pode não ser uma boa estratégia política. No caso, a melhor opção é o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB-SP). 

Tenho feito uma aposta pessoal na melhora do desempenho de Alckmin pois, como já falei algumas vezes no blog, ele é um dos únicos que realmente tem um lastro de governo durante 12 anos, sendo recentes os últimos 8 anos. Além disso, é o único que tem números consistentes para mostrar, pois São Paulo vem tendo um desempenho econômico e social bem acima de média de outros estados.

Com o tempo de televisão altamente favorável, algo em torno de 40% de todo o espaço, e com o apoio do Centrão, a candidatura de Alckmin deverá alavancar uma camada eleitoral de indecisos e até mesmo de eleitores próprios que estavam titubeando com a própria indecisão do PSDB em cair de cabeça na sua candidatura. Acredito que o grupo tentará atrair este nicho de eleitores que estavam indecisos e que começaram a desacreditar que ele pode ser um candidato competitivo.

O título “Back to the game” encarna esta realidade com a consolidação da aliança destes partidos com o PSDB.

Do outro lado ainda teremos que avaliar a maior incógnita da eleição que será o PT e Lula e seu possível candidato que parece que tende ser mais o Haddad ex-prefeito de São Paulo. 

O PT ainda não se refez enquanto partido, mas não se enganem que o rei não está morto. Está sim nocauteado, mas ainda está vivo e respira bem. Conhecendo a forma como o PT age, acredito que deixará para o último minuto a divulgação do nome do seu candidato, sempre pensando de forma estratégica para não queimar o cartucho e não serem atacados pelos concorrentes. 

Analisar o que vem pela frente não é um trabalho fácil para os cientistas políticos. Lula sabe que não pode errar de novo como aconteceu no caso da indicação da Dilma, sem dúvida um dos maiores desastres estratégicos da atualidade. Ele e seu partido pagaram um alto preço por essa escolha e ao tentar transformar a sua prisão em um fato político, como tentou há pouco com uma liminar de soltura. O lance do PT tende a ser único e estratégico, pois poderá mudar o resultado conforme a cooptação dos seus eleitores em torno do candidato indicado pelo partido e Lula.

Já o candidato Bolsonaro segue na sua toada, desbravando um campo aberto praticamente sem obstáculos. Ao lançar-se candidato enquanto a maioria dos outros partidos ainda tentava consolidar apoios ou decidir se lançavam candidato próprio, manteve-se em uma liderança, de certa forma, folgada. A corrida começa efetivamente em agosto e acredito que Bolsonaro bateu no teto das pesquisas ou próximo a ele. Não vejo crescimento maior do que o atual, porque agora nós vamos viver um pouco mais dos conteúdos do programa de governo. 

O discurso de Bolsonaro é eclético, ora comprometido com promessas de um novo momento sem corrupção para o Brasil e ora com discurso sobre compromissos econômicos de boa gestão, dependendo da audiência. Com exceção do programa do economista Paulo Guedes, que trouxe racionalidade econômica ao candidato, não dá para acreditar muito quando se olha seu histórico. Bolsonaro tem apenas a experiência de 15 anos de ter sido Deputado Federal na sua vida política e conseguiu atrair a atenção dos eleitores pela suas críticas e posicionamento muitas vezes polêmico. Se mostrando corajoso com as palavras, ele atrai um grande público por seu carisma, mas sem dúvida terá contra si o fato de nunca ter realizado nada como administrador ou mesmo gestor, especialmente em um possível segundo turno. 

Já Ciro Gomes mantém o seu forte ritmo de trabalho, fazendo-se ser lembrado por seu discurso polêmico principalmente na área econômica, apesar de ser o candidato que menos alegria irá dar aos agentes econômicos em geral. Tenta convencer com seu discurso embolado um eleitorado desiludido politicamente, que se posiciona muito a esquerda e às vezes quer fazer acordo com o Centrão. Difícil de entender, mas sabe que tem chances reais de ir ao segundo turno, além de saber fazer política. Longe de ser descartado como um dos protagonistas principais.

Assim como todos, Marina Silva vem trabalhando para o nome de seu vice ajude a dar maior consistência ao seu nome, como aconteceu na época de sua aliança com antigo governador do Recife, Eduardo Campos, e sem dúvida também é uma forte candidata ao segundo turno. Aparenta ser frágil, apesar de não ser e vai precisar de novamente escolher um vice que faça bem o equilíbrio da sua candidatura. 

Fazer uma análise política em momentos de transformação eleitoral brasileiro é quase um exercício lotérico. Cada movimento poderá influenciar os eleitores, que em sua maioria ainda não sabem em que candidato irão votar há apenas dois meses da eleição do primeiro turno.

Enfim, a grande novidade é que Alckmin is “Back to the Game”.

Leia mais
Câmbio, Política
Entre a realidade e a ficção eleitoral
5 de julho de 2018 at 15:56 0

Estas eleições serão, certamente, as mais imprevisíveis e emocionantes das últimas décadas. Além da imprevisibilidade total, algo raro, outro fator que torna esta eleição única é a importância que deverá ser dada, por cada um dos candidatos, ao projeto econômico de sua coligação. Será neste ponto que será possível fazer a diferença entre a ficção e a realidade de cada campanha.

O perfil e a história de cada um dos candidatos permite uma ideia do que esperar no campo econômico. A intensidade da crise vivida deu aos brasileiros a urgência da saúde financeira do país, e isso dá aos candidatos a certeza que não será qualquer meia dúzia de besteiras econômicas que convencerão o eleitor.

O nome e sobrenome do político não é mais garantia de voto, vide os baixos índices nas pesquisas de alguns deles. Há rejeição pela velha política. As pessoas querem ideias e propostas sólidas, principalmente no plano econômico: como e de que forma o candidato convencerá o eleitorado que sua proposta financeira é uma realidade, e não uma peça de ficção eleitoreira.

Nesta segunda-feira li uma entrevista do economista Paulo Guedes, o principal articulador econômico de Jair Bolsonaro, pré-candidato à presidência que desponta como a opção entre aqueles que buscam uma mudança na postura política, na forma de governar e no fisiologismo habitual dos noticiários.

Paulo Guedes demonstra de forma clara o limite entre o real e o intangível, já que Bolsonaro não assume qualquer risco político ao contrariar a imagem dele feita pelos eleitores, mesmo que isso não pertença ao programa econômico. É preciso ficar claro que um programa econômico é sempre uma obra autoral, pertencente ao mentor financeiro da coligação, e que ele sempre estará longe de ser um compromisso dos candidatos.

A entrevista coloca, na própria fala do mentor de Bolsonaro, uma série de dúvidas que ele mesmo tem em relação à capacidade de Jair Bolsonaro em assumir reformas necessárias e fundamentais para a política fiscal do país. Há também dúvidas quanto ao programa de privatizações, embora Guedes acredite no aval presidencial, caso Bolsonaro seja eleito, para dar cabo às privatizações. Há dúvidas quanto à assunção pública desses compromissos. Parece que não.

Ciro Gomes, apontado pelas pesquisas como alternativa viável, que já vinha acenando ao mercado com uma abordagem econômica mais moderada, deu uma guinada no discurso pró-esquerda, e agora se posiciona não só contra as privatizações, como também a favor de rever aquelas já realizadas, como os leilões da Petrobras. Ciro Gomes fala o que o mercado não quer ouvir, como “limite de gastos em juros é praticamente falar em tabelar”.

Esse é um discurso claramente montado para atrair grupos de eleitores, principalmente aqueles adeptos de um modelo classista com apoio estatal de programas setoriais, e não de modelos econômicos. Estes setores tendem à esquerda e ainda não adotaram nenhum candidato. É esta fatia do eleitorado que Ciro Gomes tenta conquistar.

A terceira opção é Marina Silva, que traz consigo um programa montado para acalmar os mercados, terá como maior desafio convencer os eleitores de maior escolaridade e os especialistas do setor financeiro quanto à viabilidade de seu plano econômico, visto com desconfiança. Muitos acreditam que Marina não tem perfil operacional, o que inviabiliza a implementação do programa econômico. Sendo assim, suas propostas ainda são classificadas como ficção.

Por último temos Geraldo Alckmin, que seria a tendência natural para manutenção de uma política econômica com rumo correto. Alckmin, que tem maior lastro administrativo e trajetória mais consistente, traz consigo Persio Arida, um grande economista com experiências no setor privado e na área pública. Este será o plano econômico com maior aderência à realidade mercadológica.

Por que então as pesquisas, e os eleitores, têm punido tanto Geraldo Alckmin? Acredito em dois fatores: o primeiro é o desgaste político do PSDB e o segundo é a personalização do que o eleitor acabou por rejeitar, que são as coligações partidárias e o toma lá dá cá. Há também a pouca exposição econômica dos méritos de sua administração, principalmente na defesa explicita de um programa reformista mas privatista, uma bandeira pétrea do PSDB. Ao não assumir posições explicitas e compromissos formais, como faz Bolsonaro, seu principal concorrente, Alckmin perde força junto ao eleitorado que busca um presidente que combaterá a criminalidade com tolerância zero.

A questão que fica é: até que pontos os programas econômicos tem capacidade para influenciar e impactar a decisões dos eleitores? Ficará o Brasil à mercê de devaneios econômicos como na era Collor? É certo que os programas econômicos e de governo terão mais atenção à medida que influenciam o cotidiano.

Leia mais