Para quem não é do meio, fica muito difícil acompanhar os acontecimentos mundiais que impactam as moedas, os investimentos, a Bolsa. Então, decidi fazer um paralelo entre esses assuntos que acontecem ao mesmo tempo e que estão criando expectativas no mercado financeiro do mundo todo.
Nos EUA, se aguarda o resultado das eleições presidenciais que acontecem esse ano. A disputa tem sido cheia de polêmicas, inclusive com discursos extremistas. A cada notícia de força entre os adversários, o mercado reage. Há uma expectativa de que se a Hilary vencer, o mercado terá mais conforto. E se o mercado dos EUA estiver confortável, o resto do mundo é afetado positivamente.
Na Europa, o assunto é o Brexit, que causou uma tempestade de incertezas na zona do Euro. As consequências, com as quedas consecutivas da Bolsa, ainda são uma incógnita aos investidores. As incertezas e a volatilidade do mercado podem causar retração da economia europeia, o que causaria consequências negativas no mundo todo.
Já no Brasil, a expectativa é a consolidação do impeachment. O mercado tem reagido positivamente às posições do governo Temer e sua equipe econômica, com reais expectativas de recuperação, mesmo sabendo que é um processo lento e difícil. A incerteza que paralisa é a dúvida se a presidente afastada retorna ou não ao comando do país.
Como podemos observar, a política afeta a economia em todos esses cenários. E, em qualquer dos ambientes, o que precisamos para que voltem os investimentos é de solução, conclusão, definição. A partir da definição de todos esses assuntos é que começaremos a ver os resultados.
Ao Brasil interessa tanto a estabilidade interna quanto externa, pois isso tem reflexo direto nas exportações. Em um país com câmbio elevado como agora, a exportação é uma ferramenta importantíssima para captação de recursos e equilíbrio da balança comercial.
Para se ter ideia, só nas duas primeiras semanas de julho, a balança comercial teve um superávit de US$ 1,48 bilhões (fonte: MDIC). As exportações têm tido uma média diária de mais de 800 milhões de dólares, o que significa aumento de 2,9% em relação a 2015. Já as importações tiveram um recuo de 17,2%.
Hoje tivemos a notícia de que o PIB de maio teve um tombo em relação ao mês anterior. A queda do PIB em relação ao ano passado é de 3,8%, caracterizando a forte recessão: desemprego, inadimplência, queda de consumo e produção. E, como nosso mercado interno não está aquecido, nossas indústrias têm se mobilizado para atender o mercado externo. A estabilidade americana e europeia são essenciais para continuarmos vendendo e, consequentemente, administrando a crise e trabalhando para reconstruir a nação.
Como podemos ver, no mercado de investimentos não há independência. Os três assuntos são relevantes para a relação de fluxo de capitais no Brasil.
Resumindo, a eleição de Donald Trump significa para os EUA o mesmo impacto que o Brexit tem para os europeus e a volta de Dilma para o Brasil. Espero que não tenhamos uma pororoca tríplice, seria uma catástrofe. Que Deus nos abençoe. Amém!
O criterioso processo de escolha da nova equipe econômica do governo foi baseado na meritocracia. A escolha do Ilan Goldfajn para presidir o BC não foi nenhuma surpresa, assim como o anúncio da Maria Silvia para o BNDES também constituiu uma boa escolha, além de outras, todas baseadas no conhecimento técnico e experiência institucional que, sem dúvida, é muito importante no momento.
As escolhas para equipe econômica não poderiam ser melhores e dão um cacife de peso contra os torcedores do caos ou mesmo pessoas mais míopes que têm dificuldade proposital em enxergar que a política populista, em décadas, não teve nenhuma efetividade prática de tirar pessoas da pobreza como alardeiam.
Dar somente Bolsa Família ou casa para as pessoas não é nenhuma grande virtude. Se fosse assim, poderíamos também distribuir dinheiro para os necessitados jogando de cima de um helicóptero e também estaríamos fazendo um bem social. Na visão deles, se jogássemos dinheiro de helicópteros nas favelas seria socialmente correto.
O mais relevante que estes governos populistas poderiam fazer para tirar as pessoas da miséria não seria distribuir dinheiro e sim colocá-las no mercado de trabalho e dar condições educacionais para que saiam da pobreza de um modo mais nobre e digno, dando condições profissionais de concorrer no mercado de trabalho.
Assim, reconstruir a credibilidade começa por uma boa equipe econômica. Num momento de transição pode-se até errar nas escolhas de alguns ministérios, mas não nesta formatação e âncora que devolverão a credibilidade ao país, fazendo com que volte a confiança e em seguida o investimento. A moeda da credibilidade na economia, sem dúvida, vem lastreada pelas escolhas e coesão. Pode até dar errado, mas sem esse primeiro passo nada acontece em seguida.
A Presidente Dilma optou por seguir a linha de atuação que pudesse agradar um pouco ao PT e a alguns setores da economia, mas não gerou credibilidade suficiente para que a confiança retornasse e o governo foi se esfacelando em todos os quesitos econômicos.
Por fim, para entendimento das pessoas que têm menos intimidade com os jargões econômicos, é bom compreender que a equipe econômica é o centro de todo governo. Basta olhar para o recente episódio do impeachment. A Dilma caiu pelas mazelas econômicas e consequentemente pela deteriorização da economia: desemprego, crescimento negativo e tudo mais que sabemos. Ninguém cai com a economia dando resultado, com ou sem pedalada. Dilma caiu porque se não caísse a continuidade da política econômica desastrosa acabaria com as contas públicas do país e tomaríamos um caminho como o da Venezuela, sem volta, pois aqui nós temos bastante alavancagem nos mercados.
O inverso vale para o Temer, pois se ele errar na economia também não chega ao fim de governo. Por isso ele trouxe os melhores e não poderia ter escolhido melhor nome do que o Meirelles, que tem o viés econômico e o político, diferenciando-se de outros técnicos economistas.
Boa sorte ao Brasil. Que tudo corra como acreditamos e torcemos: com responsabilidade, técnica e muito trabalho.
Em dezembro o mercado financeiro ficou em alerta pela possibilidade da votação da MP 694/2015 no Senado Federal. Essa Medida Provisória altera drasticamente as regras de tributação dos investimentos. A votação foi adiada para fevereiro, pois há muitas divergências.
A Medida propõe aumento de tributação para aplicações financeiras como, por exemplo, as alíquotas do Imposto de Renda cobradas sobre os juros da renda fixa (como CDB e debêntures) para 22,5% no caso de operações de até 360 dias, chegando a 15% para prazos acima de 1.080 dias. Também serão criadas alíquotas de tributação que variam de acordo com prazo para os rendimentos que são isentos desde 2012, como as LHs (letras hipotecárias), LCIs (letras de crédito imobiliário), CRIs (certificado de recebíveis Mobiliários) e LIGs (letra imobiliária garantida).
Se aprovada a MP, todos os ativos sofrerão grande impacto. O crescimento da indústria imobiliária será diretamente afetado, para pior. E a tributação, como para qualquer setor obviamente, será repassada ao consumidor final.
O governo precisa, realmente, rever muitas coisas. Mas que seja de maneira bem pensada e planejada, pois os incentivos promoveram para o país grandes investimentos, injetando bilhões de reais em projetos prioritários, especialmente os de infraestrutura, como transporte, energia, saneamento, desenvolvimento tecnológico e outros.
Inúmeros investidores deixarão de apostar nestes projetos, caso o texto seja aprovado como está. Precisam ouvir o setor, para não piorar ainda mais a situação da economia com uma “solução” do déficit feita às pressas e descuidadamente.
Acredito que até o mês que vem percebam os enormes efeitos negativos que esse aumento na tributação pode causar, principalmente em uma economia já em recessão e com o poder de compra do cidadão comum sendo corroído por uma inflação de mais de 10% ao ano.
Sem dúvida é para ficarmos chocados com o nível de violência urbana que temos visto em várias cidades brasileiras. Mas algumas têm maior impacto midiático em função da sua relevância, como é o caso do Rio de Janeiro.
Na última semana tivemos mais um evento de violência gratuita, protagonizado por um casal de empresários do setor de turismo que conhecem as nuances da cidade, mas ainda assim foram enganados pelo sistema de GPS, porque houve situação de homônimo de ruas. Um mês antes já havia acontecido o mesmo com uma artista da Globo que caiu na mesma armadilha. E olhem que não estamos falando de pessoas que não conhecem o RJ, são pessoas com o mesmo grau de conhecimento da cidade e assim devemos rezar pelos turistas que, porventura, se aventurem a saírem andando por aí sozinhos, pois não existe nenhuma orientação indicando o grau de risco que eles correm andando pelas favelas ou bairros conhecidamente perigosos.
O absurdo destas situações é tão grande que não dá para aliviar as autoridades responsáveis de sua incapacidade em administração pública, neste quesito de segurança pública. Já é conhecido por todos que nós convivemos que temos um regime de impostos municipais e estaduais de primeiro mundo, mas com situação semelhante à de países do Oriente Médio. Se você entra por engano em uma via de favela e é metralhado, como aconteceu nestes dois casos, acredito que a Síria é aqui.
A situação é esta: pagamos impostos de primeiro mundo e recebemos serviços de quinto mundo pois a segurança inexiste. É facada em ciclista, arrastões generalizados nas praias, roubos de celulares e relógios, roubo com armas em semáforos e muito mais. Lembrem-se que não temos luta de classes, nem religiosas ou mesmo por terra, como acontece nas zonas de conflito. É Chicago mesmo, nos bons tempos da lei seca americana em que os bandidos tomaram conta da cidade. As autoridades poderiam fazer mais do que se solidarizar com as vítimas, pois arrecadar impostos é o primeiro fator de obrigação do governo para utilização nos serviços prioritários. Será que segurança nunca será prioritário? Tivemos uma falsa impressão de que tínhamos controlado a situação com a criação da UPPs, um grande engano!
Qual o trabalho e custo que um governo sério e preocupado com a segurança teria de melhorar a sinalização, mostrando onde as pessoas podem ou não podem ir como uma sinalização de perigo real do banditismo? A hipocrisia mostrada para a sociedade de que as favelas são bonitas e legais nas novelas, com uma vida feliz, é mais outra grande mentira consentida pela sociedade, que não mostra a realidade da pobreza, a falta de saneamento e o risco de vida para os moradores (com as chuvas, por exemplo). Mas continuamos a ter uma aparência de que todos são felizes.
Quando o Estado se ausenta, a bandidagem ocupa o espaço do Estado. Mas para sociedade como um todo, a situação é de consentimento consensual pois temos nos acomodado além do racional, do “por que se incomodar?”.
Para os políticos é mais fácil não olhar ao redor do problema, que de uma forma ou outra acaba explodindo, em vez de terem uma proposta honesta e efetiva para um dos maiores problemas nacionais que é a violência urbana. Aqui no Brasil morre mais gente por causa dela do que em zona de conflito do Oriente Médio.
O RJ, em especial, deveria ter esse cuidado redobrado pois a sua grande vertente econômica não voltará por um bom tempo: o petróleo. A Petrobras não se aguenta sozinha com seus problemas de investimentos para resolver, assim acredito que precisamos de uma nova vocação para a nossa cidade e, agora, a grande oportunidade serão as Olimpíadas, pois o Porto Maravilha estará pronto, podendo ser um grande receptivo de turismo. Isso dará uma nova chance à cidade de se reinventar, mas precisamos implementar.
Para isso precisamos implantar a tolerância zero, como foi feito em outras grandes cidades como NY. É difícil? É. Mas precisamos, no mínimo, de consciência social das autoridades e da população de que a violência urbana já é o nosso maior mal e pode engolir o cidadão no seu direito mais básico que é o de ir e vir, além de afetar os investimentos e melhorias progressivas das nossas cidades.
A violência no Brasil não é segredo e nem novidade. Em maio deste ano, a UNESCO divulgou o Mapa da Violência/2015, que diz que 42.416 pessoas morreram em 2012 vítimas de arma de fogo no Brasil, o equivalente a 116 óbitos por dia. As mortes por homicídio representam mais de 94%. Estes dados são coletados desde 1980 e este ano é o maior em número de mortes registradas desde o início da série histórica, tanto que a UNESCO decidiu desmembrar e fazer um relatório especifico sobre mortes com arma de fogo. O resultado é ainda mais aterrador quando percebemos que 59% dessas mortes ocorrem entre brasileiros na faixa entre os 15 e 29 anos. O número é 463,6% maior desde que este dado foi registrado pela primeira vez. Sem a necessidade de uma análise mais profunda, está claro que faltam políticas públicas para que essa parcela da sociedade não morra por algo que pode ser evitado.
O que mais se ouve é: “vou me mudar para Miami”. É o começo do fim.
Com a curva futura dos juros apontando para 16%, começa a se delinear uma possível projeção de inflação mais aquém da meta estimada pelo Banco Central para 2016. A projeção do futuro embute um clima de descrédito quanto à possível queda da inflação dentro da meta estimada.
A corrente que está formada pelo fluxo da incerteza no âmbito político-econômico vem fazendo com que o dólar seja apreciado constantemente e, assim, acabe impactando na expectativa futura dos juros, apesar da piora considerável na demanda de consumo. O ciclo vicioso está formado.
O dilema da subida dos juros, na atual situação, pode agravar bastante o déficit brasileiro, além de colocar mais gasolina na fogueira. No caso específico do sistema de crédito de habitação, cria um descasamento fantástico. O sistema de poupança vem batendo recordes de saques, principalmente pela falta de atratividade, além de o volume de operações ter crescido de forma agressiva principalmente pela Caixa Econômica (em que saímos de 4% a uma década para 20% do sistema).
Hoje, com a subida dos juros e com os saques crescentes da poupança, os Bancos emitem CDB ou LCI para financiar este déficit, fazendo com que tenham um spread negativo em torno de 3% entre o captado em títulos fora da poupança e o crédito já dado em base de TR. Na realidade o problema é de todo sistema de poupança, apesar de a Caixa ser mais contundente, pois o programa Minha Casa Minha Vida teve uma expansão e representatividade como programa de governo.
O contexto hoje é bem diferente de outros tempos em que o crédito imobiliário não era tão significativo. A subida dos juros, caso se tenha necessidade de usar o crédito imobiliário como política monetária, fará com que o déficit orçamentário, além dos títulos públicos, aumentem significativamente.
Veja esses gráficos:
A dimensão do dilema: a possível alta dos juros, caso haja necessidade, poderá fazer um grande estrago nas contas públicas e o não aumento dos juros poderá ser interpretado pelo mercado, já bastante nervoso, como um certo abandono das metas de inflação.
Uma coisa é certa: especular neste momento com juros e dólar é muito arriscado. O conselho é ser conservador em relação aos seus investimentos, sem perder a visão das oportunidades.