Trump e Temer passam por momentos políticos conturbados, criados principalmente pela agressividade do processo eleitoral que envolveu a chegada de ambos ao poder. Por aqui tivemos um penoso e demorado processo de impeachment, agravado por denúncias e investigações que escancaram a corrupção estrutural em nosso país. O impeachment foi necessário para que se desentravassem as pautas e trouxesse de volta a confiança dos mercados, entretanto deixou sua marca. A reputação de nossas instituições está enfraquecida diante da opinião pública e, apesar dos investidores verem com bons olhos as mudanças que estão sendo implementadas, a insegurança da população em relação à parcela política brasileira é real e comentada diariamente nas ruas, e isso respinga no governo Temer.
Já ao norte do Equador, os Estados Unidos passaram por uma das eleições mais controversas dos últimos tempos. Além das prévias agitadas, com acusações de espionagem russa e sabotagem eleitoral, a ida às urnas também deixou o país com os nervos à flor da pele. Com a economia oscilando, ainda resquício da crise de 2007, os americanos apostaram na figura polêmica de Donald Trump em detrimento de Hillary Clinton. Em uma eleição disputada e vendida como uma luta do novo contra o velho, a promessa do empresário em “Make America Great Again!” conquistou os votos e garantiu a vitória em um dos sistemas eleitorais mais complexos do mundo. Com esses contextos em mente, era de se esperar que a governabilidade de Temer, acusado de golpe, fosse pior que a de Trump, que se tornou o presidente com a vitória nas urnas. Entretanto, como todos bem sabemos, as águas da política nunca são tão claras, e as marés nunca se repetem a ponto de permitir previsões com alguma precisão. Virtual desconhecido da população em geral, Michel Temer é renomado na política pelo perfil articulador e conciliador. A prova disso foi o fato de ter bem-sucedido na tarefa de unificar o PMDB, algo que nem mesmo FHC e Lula conseguiram. Além deste feito, Temer trouxe os demais partidos para sua base, obtendo assim vitórias desde que assumiu a Presidência da República ano passado. Aprovou a PEC dos Gastos e avançou as discussões sobre a Reforma da Previdência e Política. Também montou uma equipe econômica que conseguiu domar a inflação, aliviando o bolso da população, o que é sempre bem recebido pelo mercado. Nem todas essas vitórias, entretanto, são capazes de domar as ruas que, em sua maioria, rejeita o seu governo. A situação é exatamente inversa no hemisfério norte. Fossem palavras, Trump seria o antônimo de Temer. O presidente americano é adepto de um estilo polêmico, já conhecido através do reality show O Aprendiz, algo que seduziu boa parte do eleitorado, mas que faz com que o presidente colecione desafetos até mesmo dentro do próprio grupo político. Em um governo composto basicamente por dois partidos, o Republicano e o Democrata, ter domínio do próprio quintal é requisito obrigatório para governabilidade. Faltaram a Trump votos republicanos suficientes até para aprovar o nome de um Secretário e, ao invés de conciliar, Trump manteve o estilo. Sua última derrota foi a retirada de pauta do projeto que visava substituir o Obamacare pelo chamado Trumpcare. Mais uma vez faltavam votos dentro do próprio Partido Republicano, o que levou o governo a retirar o texto de votação. A implosão da pauta coloca em cheque a imagem projetada pelo presidente americano durante a campanha, de que sua experiência empresarial seria uma vantagem quando em mesas de negociação política. Sua próxima incursão é a reforma tributária e, a julgar pela experiência até agora, Trump pode não alcançar o resultado desejado. É importante lembrar que Barack Obama governou sem ter maioria no Congresso, e mesmo assim aprovou o Obamacare. Governabilidade é uma conquista diária, onde Brasil e Estados Unidos tem muito a aprender um com o outro. É importante lembrar sempre que um governo que não conta com apoio das ruas, não persiste, e um presidente que é apoiado pelas ruas mas não tem os votos necessários para fazer valer sua vontade, não existe. Negociação é um jogo de ganha-ganha e, em política, faz bem a todos lembrar que, não importa o modelo e o estilo de governo, quem tem que ganhar é sempre a população. Só assim um governo pode não só existir, mas também persistir.O momento econômico é bastante favorável ao Brasil até porque todas as previsões econômicas continuam sendo otimistas principalmente quanto ao aspecto da inflação que teve como principal vitória a quebra da inércia dos preços administrados, o que mostrava o acerto na persistência em romper este ciclo, tornando factíveis as previsões de queda de juros. Apesar disto, não podemos simplesmente creditar todos os bonos à equipe econômica do governo, pois a retração causada pelo mal gerenciamento das contas públicas deixou o consumidor com uma baixa capacidade de pagamento de suas suas próprias contas, o que faz com que a economia real se torne anêmica e aumente ainda mais o índice de desemprego.
Realmente a confiança esta voltando e uma das causas, sem dúvida é a queda da inflação e a queda anunciada de juros que vai ajudar na retomada da economia. As reformas que estão em pauta como a da Previdência e a Trabalhista, além das discussões sobre a desburocratização e muitas outras. Estas reformas tem tido uma atenção especial das duas casas, tanto do Senado quanto da Câmara do Deputados. Por que agora as reformas passaram a ser tão importantes?
As reformas são o principal fator de melhora de ambiente macroeconômico e, consequentemente, de melhora de expectativas futuras, o que gera um ambiente bastante benigno para os investimentos, tanto locais como estrangeiros. A equação para retomada da economia real passa pela necessidade de voltar a um patamar mínimo de investimentos para que se quebre a inércia gerada pela crise nos vários setores da economia.
Essa agenda agora passou a ser tão importante para os políticos em geral porque a melhora da economia vai influenciar o momento político de 2018. Sem dúvida a maioria dos futuros candidatos à reeleição veem na melhoria da atividade econômica e diminuição do desemprego a boia de salvação do atual governo e de seus mandatos. As pessoas tendem a ser mais tolerantes em um ambiente econômico mais favorável e nossos políticos sabem disso.
Acho que estamos diante de um momento altamente propício a ter efetivos ganhos institucionais com as reformas e gerar uma visibilidade externa positiva em face das reformas propostas. O grande unificador dos maiores partidos em torno de reformas será a continuidade da "Lava a Jato" que joga uma pressão maior na classe como um todo. Fazer essas reformas não deve ser uma medida para retirar o foco de atenção dos escândalos, porém a pressão sobre nossa economia diminui e poderemos entrar mais rápido em um ciclo de melhora. A tendência é que a aprovação do modelo adotado pelo governo Temer aumente e gere bônus para a eleição de 2018, até porque desmonta definitivamente os argumentos petistas de golpe e além disso, tanto PMDB como o PSDB voltariam a ganhar algum fôlego eleitoral para o próximo ano. Sem duvida nenhuma as reformas nunca sairiam por vontade espontânea política, principalmente em um ano que antecede as eleições presidenciais e estaduais.
Reformar leis consolidadas já há mais de meio século é um grande passo, porém o nome já contextualiza a questão, uma vez que tudo na vida precisa de ajustes com o passar do tempo. Nossa casa, empresas e até mesmo os nossos hábitos também demandam mudanças de tempos em tempos, pois sem isto tendemos a ficar literalmente velhos e obsoletos. Em um país como o nosso, em que muitas das legislações – especialmente a previdenciária e a trabalhista - foram estabelecidas há muito tempo, é preciso se readaptar dentro de uma nova realidade moderna e contemporânea.
No caso da Previdência, o ponto central é a idade mínima de 65 anos. Se compararmos quando foi elaborada a Lei da Aposentadoria, a expectativa de vida da população era outra, talvez uns 20 anos a menos. A contestação de direito adquirido e intocável não faz nenhum sentido sob este ponto de vista. Fazer reformas de verdade, no entanto, mexe com direitos que as pessoas consideram imutáveis e é assim que é apresentada questão por aqueles que são contra a reforma.
É preciso contextualizar o assunto e lutar por uma reforma que possa reconstituir um sistema que seja compatível com dias de hoje, até porque, se não o fizermos, as instituições não serão capazes de suportar as despesas recorrentes causadas pelo envelhecimento da população. Os investimentos serão diretamente proporcionais às reformas que fizermos e são ponto fundamental para que os recursos retornem e comecem a gerar novos empregos, para que nao tenhamos uma geração de filhos pobres com avós e pais ricos - que é o que hoje começa a se desenhar no seio familiar, em que muitas vezes a renda do filho classe media é pior que a dos pais aposentados.
Por fim, o Brasil tem agora uma oportunidade ímpar de se reorganizar com estas reformas e caminhar para termos uma possibilidade real de uma nova década virtuosa.
A notícia que o governo liberou o saque de contas inativas do FGTS não foi surpresa, afinal os debates sobre mudanças no fundo vêm ocorrendo há vários meses, atraindo a atenção dos trabalhadores brasileiros. A Medida Provisória 763/2016 liberou o saque das contas inativas vinculadas a contratos vencidos até 31 de dezembro de 2015 e também elevou a rentabilidade por meio da distribuição dos lucros.
Engana-se quem acredita que é apenas um pacote de bondades, como o que temos visto nos últimos anos nos últimos governos. A liberação do saque faz parte de um conjunto de medidas que tem o objetivo de fortalecer a economia brasileira, que ainda patina. Todos sabíamos que a recuperação não seria fácil, mas temos visto um esforço genuíno do governo atual em fazer o Brasil crescer novamente.
A questão do saque do FGTS é um exemplo claro desse esforço, já que a liberação desses valores tem potencial para injetar mais de RS 30 bi na economia. A maior parte desses saques são de valores até um salário mínimo e que, embora pareça pouco, pode ser o suficiente para o pagamento de dívidas que permitam que o trabalhador volte a consumir.
A outra mudança importante é a rentabilidade que o FGTS vai oferecer ao trabalhador, que irá se aproximar de 6% mais a TR, resultado da distribuição dos lucros. É uma mudança importante, já que o fundo vem acumulando perda de rendimento e chega a ter um rendimento pior que a poupança – em 2016, por exemplo, não chegou a recompor a inflação anual.
É importante verificar, como a mudança na regra da remuneração impacta no setor de infraestrutura. O FGTS é utilizado pelo governo para investimentos em obras de infraestrutura básica, saneamento, imobiliários e outros, e nós sabemos que estamos diante de um grave problema de confiança no segmento, com o envolvimento das construtoras na Operação Lava-Jato.
Outra grande mudança no Fundo de Garantia é a liberação dos recursos do trabalhador para a aplicação em imóveis de maior valor, até R$ 1,5 mi. Especialmente nos centros urbanos, essa medida tem uma consequência muito boa, no sentido de ajudar a reduzir os estoques imobiliários. As construtoras, por sua vez, são forçadas a construir novos empreendimentos de alta renda e reabrir os quase 780 mil postos de trabalho encerrados nos últimos anos.
De modo geral, acredito que é uma boa medida recompor o poder de compra dos brasileiros para estimular o consumo e o investimento. O governo espera que o ano de 2017 se encerre melhor que 2016, com mais brasileiros empregados e mais dinheiro circulando. Depois de tanto tempo em recessão, um pequeno respiro é bem-vindo para todos nós.
Já era esperado que 2016 seria um ano difícil economicamente, depois de tanta tensão acumulada no processo do impeachment que se arrastou em 2015. O interessante é que o ser humano mantém a esperança e o ano novo renova este sentimento de uma maneira curiosa: as nossas expectativas são reajustadas de acordo com as possibilidades do novo ano e não como resultado de todas as decisões que fizemos no anterior.
O circuit breaker da bolsa chinesa logo na primeira segunda feira de 2016 foi, entretanto, um choque de realidade. Todo o mundo foi afetado e pego de surpresa pelo inédito encerramento das atividades da Bolsa de Valores da China, que acarretou queda da BM&FBovespa e disparou o dólar para acima dos R$ 4,00. Como se essa notícia não fosse o bastante, logo em seguida o governo brasileiro acabou com a isenção fiscal para despesas educacionais, hospitalares e de serviços turísticos no exterior.
Até a conclusão do impeachment o Brasil sofreu as piores perdas de credibilidade na economia. A recusa do governo em assumir a gravidade da crise sofreu um baque quando a Moody’s cortou dois níveis da nota brasileira e passou a classificar o Brasil como “junk”. Perdemos o grau de investimento e com ele a credibilidade, mas, especialmente, o capital.
O impeachment foi a grande reviravolta que o Brasil sofreu em 2016. A quebra no poder foi dramática em todos os sentidos, especialmente na nossa política econômica. O Governo Dilma protelou em admitir a crise, em executar medidas que a contivesse ou mesmo em planejar a recuperação do país. Temer assumiu com o compromisso de executar as reformas fiscal, previdenciária e conter os gastos públicos em um dos piores momentos políticos pelo qual o país já passou.
A sensação de confiança do mercado, entretanto, deu os sinais positivos que o governo precisava para iniciar com a chamada PEC do Teto e, com isso, criar sua primeira grande crise.
Não é de se espantar que o país fervilhou nesse período. A internet e as redes sociais amplificaram a mudança do comportamento dos cidadãos e mostraram que o eleitor tem exigido participar dos processos políticos. A nova geração não apenas compartilha informação e promove manifestações através dos aplicativos, mas eles modificaram a maneira de se relacionar com o mundo e fazer negócios em 2016. As redes tradicionais de televisão, por exemplo, se sentiram ameaçadas pelo Netflix e, ao mesmo tempo que fizeram mudanças para atrair o consumidor, pressionaram o plenário para proteger os interesses do segmento.
É interessante notar como é a tecnologia quem vem mostrando que o país só perde pela maneira como alguns segmentos econômicos são estruturados no Brasil. O próprio sistema bancário é alvo de análises nesse sentido, já que a alta concentração tem sido acusada de ser a grande responsável pelas dificuldades na obtenção de créditos. Repensar o sistema bancário, com desintermediação bancária e facilitação de levantamento de capitais pode ser uma alternativa à crise e que acompanha a evolução da sociedade nos últimos anos.
O Novo Mercado da Bolsa de Valores também sofreu algumas reformulações em 2016. Foram medidas importantes que protegem os minoritários, uma bandeira que carrego desde o início da minha carreira, pois acredito que dá credibilidade ao mercado. As questões de governança corporativa estão muito em alta no momento e precisam ser debatidas com seriedade e cautela, não apenas por motivos midiáticos. A Bolsa brasileira ainda precisa muito evoluir, especialmente no mercado de balcão. O ano de 2016 mostrou que a economia da tecnologia tende a crescer e necessita de uma Bolsa que atenda suas especificidades.
Como dizem os nossos jovens, 2016 chegou na season finale. Foi um ano agitado, intenso, acelerado, mas parece ter cumprido o seu propósito: chacoalhou as coisas, mexeu com as pessoas, acordou o país. Como bom brasileiro, vou olhar para 2017 com as possibilidades que ele nos traz. Um novo, em branco, para ser escrito com a sabedoria que 2016 nos deu.
Feliz ano novo!
Existe uma teoria econômica autoexplicativa que muitas vezes é utilizada para expor a razão do momento econômico de uma forma bastante simples, principalmente para responder as questões de “por que a economia não reage” e “quando ela voltará a crescer”, que estão no centro das expectativas do nosso dia a dia, tornando este assunto como uma variável bastante relevante para nós.
A teoria do copo cheio, faz uma analogia bastante simplista, porém bastante explicativa e sem economês, imaginando que o copo é a matriz econômica e o nível de água que está no copo é a capacidade de consumo, fazendo com que o nível seja flutuante e se movimente conforme as atividades e a capacidade das pessoas de consumir. O nível aumenta na medida em que as pessoas vão se endividando, perdendo emprego ou mesmo diminuindo o consumo pela falta de confiança. Conforme os estímulos da economia, o nível aumenta, especialmente quando fomentados pelo crédito e alavancagem dos financiamentos em geral.
Assim, com todos os anos de aumento de estímulos e farto crédito, chegamos a este momento em que o nível da água está quase transbordando o copo. Enfim, ele está completamente cheio.
O tempo é fator racional que explica a analogia do copo cheio em relação à teoria econômica baseada no consumo, como é a do Brasil. A atividade econômica é recuperada pelo TEMPO, uma vez que a “evaporação” diminui o nível da água e faz com que as pessoas voltem a consumir e manter essa capacidade. Enfim, não tem mágica. Somente com a evaporação da água do copo é que o nível de água voltará ao normal.
Foi assim que aconteceu na crise americana, em que uma grande parte da população adquiriu crédito hipotecários, as chamadas mortgage, e isso acabou por destruir a capacidade dos indivíduos de consumirem por um longo período. Durante o período entre 2009 a 2011, os grandes magazines americanos, Bloomingdale’s, Macy’s, Saks Fifth Avenue e outros, estavam abarrotados de turistas, com os poucos americanos comprando estavam catando pechinchas nos outlets. Agora é nossa vez de catar pechinchas, já que possivelmente teremos o pior Natal do comércio em décadas.
Como diriam os americanos: the consumers are gone, ou, em bom português, os consumidores se foram.
Lá nos EUA a teoria do copo cheio também prevaleceu. O processo de recomposição de renda do indivíduo levou quase 4 anos e foi acompanhada de vários estímulos. O principal deles foi o crédito com menor alavancagem e taxa inicial de juros muito baixa, o que prevalece até hoje.
Voltando ao plano interno, acredito que o Banco Central já está percebendo que a retomada da economia não deverá ser tão rápida como alguns agentes econômicos esperavam. Inicialmente a estimativa do PIB para 2017 foi de 2% positivo, posteriormente reajustada para 1,5% e agora fala-se em 1%, caminhando para zero em 2017.
Retornamos à "teoria do copo cheio" que, por mais simples que pareça, é a única realidade conhecida no momento. O fator tempo é considerado na medida em que a recomposição da renda se dá com a capacidade da economia em reagir, principalmente pelo lado do consumo. Não adianta reativar somente o crédito se o consumidor não tem capacidade de pagar. O patamar dos juros deverá ter um papel importante neste contexto, para que a equação consumo, crédito e capacidade de pagamento aconteça.
Assim, o ponto de partida se dará pela queda dos juros como, talvez, o único fator momentâneo. Isso poderá trazer algum estímulo aos consumidores e, consequentemente, reanimar a economia como um todo, alinhado pelo conjunto de reformas necessárias, inclusive fiscal e previdenciária.
Tomar medidas firmes é necessário para governar um país rumo ao desenvolvimento econômico, mas a história mostra que é possível. Faltando apenas 30 dias para encerrar o ano, o momento é planejar.
A PEC que limita os gastos públicos no teto da inflação e sua aprovação foi, sem dúvida, a notícia mais recorrente nos últimos dias. A discussão sobre assunto tomou grandes proporções uma vez que praticamente todos os setores do governo e da economia se posicionaram contra ou a favor e atraíram a atenção para o assunto até mesmo de pessoas que não dominam a matéria econômica.
É preciso ter um olhar macro sobre a situação. A relevância da PEC do Teto, como foi apelidada, reside em fortalecer a percepção dos investidores de que o Brasil é capaz de conter seus gastos e não ficar à deriva, em rota de colisão com um dívida pública incontrolável.
Divulgar informações fora do contexto faz com que a opinião pública tenha uma compreensão equivocada dos fatos, especialmente no que diz respeito ao comprometimento dos investimentos sociais, como saúde e educação. Antes de mais nada é preciso ter em mente que o orçamento brasileiro é muito amplo e é possível remanejar as prioridades em setores tão relevantes e que merecem atenção especial, como estes.
Acredito que o maior trunfo que a PEC 241 pode proporcionar neste momento é recuperar a confiança dos mercados em geral. Esta confiança traz de volta os investimentos, tanto nacionais quanto estrangeiros, além de um maior entendimento sobre o governo do Presidente Michel Temer, que aparenta ter por base e ponto central o compromisso político com a economia, fazendo as coisas voltarem ao rumo, ou seja, fazendo uma gestão financeira e econômica responsável. Não resta outro caminho para a consolidação de seu governo e aceitação popular. Não será uma campanha de marketing ou reposicionamento de imagem que fará com que a população esqueça o desgaste sofrido pela atual administração durante processo de impeachment.
O grande desafio ainda será mostrar ao país que um mínimo de organização fiscal sera benéfica para todos, inclusive para ampliar os benefícios sociais que são demandados pela população. Superar esta etapa será decisivo no sucesso ou não dessas reformas.
Com aprovação desta PEC o caminho está aberto para a redução de juros. A volta gradativa dos juros a patamares aceitáveis beneficia todos os setores econômicos e, em especial, a produção de modo geral e o mercado imobiliário, que se beneficiam e voltam a ter condições mínimas de juros compatível com a curva do setor.
O movimento natural de uma melhora econômica passa primeiramente pelo mercado de capitais, que antecipa os movimentos futuros da economia real. Poderemos ver nos próximos meses uma recuperação real nas atividades produtivas.
O ministro da economia Henrique Meirelles, assim como o presidente, sabem que tudo começa com o ajuste nos gastos e apostaram pesado na aprovação da PEC 241. Aparentemente, ao obter sucesso nesta jogada, abriu-se caminho para que outros desafios econômicos e políticos estejam brevemente na agenda das reformas, sendo que a mais relevante será a da Previdência Social - sem dúvida um outro enorme desafio.
Duas questões também em pauta se destacaram pela sua importância no período. Dada a relevância da Petrobrás para o país, a aprovação do fim da participação compulsória da empresa na exploração do pré-sal dá oportunidade para que outros players do setor façam esses investimentos. O valor de mercado das ações praticamente triplicou e voltou ao patamar de 220 bilhões, muito em função da percepção de uma gestão mais transparente e mais independente, já que todos sabem da importância social da empresa e esta também sabe que tem contas a prestar aos acionistas.
Também a possível mudança na lei de repatriação de Recursos (PL 2.617/15) fazendo correções mais inteligentes e possivelmente arrecadando mais, deve entrar em breve na pauta do Congresso. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, fez um esforço no sentido de que todos possam se aproveitar do beneficio de ter uma arrecadação mais robusta e que beneficie toda sociedade, uma vez que essa medida proporciona a possibilidade de diminuir a necessidade de aumentar impostos. Concretamente esta é a única variável de curto prazo que pode ser traduzida em arrecadação direta no curtíssimo prazo.
Não se trata de justiça social, mas sim efeito caixa, já que temos um déficit gigante. Simplesmente poderemos diminuir, com esta conta, o que pode chegar a ser R$ 15 bi a R$50 bi, dependendo da segurança jurídica que dará aos beneficiados. Caso se concretize, ajudará a resolver problemas dos estados da União e melhorar a nossa conta corrente.
Acredito que temos uma janela aberta, que nos traz esperança de podermos voltar a crescer mesmo que timidamente e com os enormes desafios e adversidades a serem superados.
A PEC 241 não é a solução no presente, mas sem dúvida é a solução para o futuro do país nos próximos 20 anos.
Como temos visto cotidianamente e ao nosso redor, já é possível constatar a melhora de humor do mercado financeiro, apesar da contínua piora de alguns indicadores, como o próprio desemprego, além do déficit das contas públicas e da queda brutal da arrecadação. O índice de confiança primeiramente aflora em alguns segmentos, geralmente nos que indicam o fundo do poço da crise econômica e consequentemente dão o sinal da possível virada econômica.
O gráfico a seguir, publicado pelo Valor, mostra o quanto nosso índice de confiança caiu, ultrapassando 2008, quando tivemos uma crise mundial sem precedentes.
O índice de confiança, nos dias de hoje, é mais representativo e significativo economicamente uma vez que faz a leitura potencial do grau de avaliação no consumo e nos investimentos. A confiança representa para o trabalhador assalariado e prestadores de serviços com baixa ou média renda o "stop and go" para o consumo em geral. Já para os empreendedores, representa a decisão de investir ou não no mercado de capitais, principalmente nos negócios.
Depois que o lastro da moeda foi extinto, o que dá sustentação é a credibilidade que vem casada com a confiança nos agentes econômicos e governos. Por isso a Zona do Euro, por exemplo, tem regras rígidas para que demonstrem um mínimo de credibilidade fiscal, como manter os principais indicadores, déficits e orçamento fiscal em níveis adequados.
No Brasil podemos dizer que a virada do índice de confiança vem, sem dúvida, acoplado a uma solução política minimamente confiável. O governo da Presidenta Dilma carecia muito de credibilidade e de processos de gestão, principalmente diante da preferência por ocupar os quadros de primeiro e segundo escalão com base na fidelidade partidária ao PT, em detrimento do mérito, competência e experiência. Pudemos ver, em primeira mão, onde esse critério de escolha nos levou. Sem dúvida o Presidente interino Michel Temer sabe que a única forma de conquistar a confiança da população é demonstrando uma gestão eficiente. Para isso, colocar pessoas competentes nestes postos estratégicos demonstra claramente a direção correta - e a reversão da tendência do índice de confiança mostra isso.
De modo geral, diria que algumas situações nos permitem observar o cenário macro com certo otimismo. Veja essas possibilidades:
1) A Europa vive um momento confuso e o Brexit pode trazer desdobramentos complexos. Os Estados Unidos estão passando por um emocionante período eleitoral e o resultado pode criar situações semelhantes ao Brexit. Trilhões de euros e dólares, no momento aplicados a juros negativos ou muito baixos, de zero a 1%, de alguma forma tendem a procurar high yeld e acredito que algum fluxo de capital virá para os países emergentes, inclusive o Brasil. Caso o impeachment de Dilma se confirme no Senado, a expectativa é que o nosso país seja um forte candidato a receber uma boa parte deste capital.
2) O aumento do índice de confiança deve gerar melhoria no consumo e demanda por serviços. Principalmente no varejo, o impacto dos juros não é tão significativo nos crediários - que tradicionalmente já têm taxas muito altas, mas a confiança gera coragem no consumidor que está empregado e/ou detinha alguma poupança (mesmo estes não conseguiam ver nenhuma luz no fim do túnel).
3) Diferentemente do varejo, onde poderemos sentir uma melhora considerável e com relativa rapidez, o setor imobiliário poderá ser o último a voltar a crescer com força. O segmento de imóveis é diretamente ligado às taxas de juros oficiais, que só deverão cair aos razoáveis patamares dos 10% no final de 2017. Por outro lado o setor sempre atrai capital de investimentos asset para adquirir ativos ainda depreciados. Como o estoque está bastante grande, as incorporadoras poderão ter uma possível folga de liquidez na venda desses ativos.
Confiança é e será um ativo de grande valia para o novo governo, entretanto essa confiança não durará para sempre se não houver real percepção de mudança. É preciso que aconteçam demonstrações efetivas de reformas fiscal-orçamentárias tanto no Congresso como no Executivo, tão logo passe a votação do impeachment e se confirme o novo presidente do Brasil. Seguimos observando com esperanças.