Existe uma teoria econômica autoexplicativa que muitas vezes é utilizada para expor a razão do momento econômico de uma forma bastante simples, principalmente para responder as questões de “por que a economia não reage” e “quando ela voltará a crescer”, que estão no centro das expectativas do nosso dia a dia, tornando este assunto como uma variável bastante relevante para nós.
A teoria do copo cheio, faz uma analogia bastante simplista, porém bastante explicativa e sem economês, imaginando que o copo é a matriz econômica e o nível de água que está no copo é a capacidade de consumo, fazendo com que o nível seja flutuante e se movimente conforme as atividades e a capacidade das pessoas de consumir. O nível aumenta na medida em que as pessoas vão se endividando, perdendo emprego ou mesmo diminuindo o consumo pela falta de confiança. Conforme os estímulos da economia, o nível aumenta, especialmente quando fomentados pelo crédito e alavancagem dos financiamentos em geral.
Assim, com todos os anos de aumento de estímulos e farto crédito, chegamos a este momento em que o nível da água está quase transbordando o copo. Enfim, ele está completamente cheio.
O tempo é fator racional que explica a analogia do copo cheio em relação à teoria econômica baseada no consumo, como é a do Brasil. A atividade econômica é recuperada pelo TEMPO, uma vez que a “evaporação” diminui o nível da água e faz com que as pessoas voltem a consumir e manter essa capacidade. Enfim, não tem mágica. Somente com a evaporação da água do copo é que o nível de água voltará ao normal.
Foi assim que aconteceu na crise americana, em que uma grande parte da população adquiriu crédito hipotecários, as chamadas mortgage, e isso acabou por destruir a capacidade dos indivíduos de consumirem por um longo período. Durante o período entre 2009 a 2011, os grandes magazines americanos, Bloomingdale’s, Macy’s, Saks Fifth Avenue e outros, estavam abarrotados de turistas, com os poucos americanos comprando estavam catando pechinchas nos outlets. Agora é nossa vez de catar pechinchas, já que possivelmente teremos o pior Natal do comércio em décadas.
Como diriam os americanos: the consumers are gone, ou, em bom português, os consumidores se foram.
Lá nos EUA a teoria do copo cheio também prevaleceu. O processo de recomposição de renda do indivíduo levou quase 4 anos e foi acompanhada de vários estímulos. O principal deles foi o crédito com menor alavancagem e taxa inicial de juros muito baixa, o que prevalece até hoje.
Voltando ao plano interno, acredito que o Banco Central já está percebendo que a retomada da economia não deverá ser tão rápida como alguns agentes econômicos esperavam. Inicialmente a estimativa do PIB para 2017 foi de 2% positivo, posteriormente reajustada para 1,5% e agora fala-se em 1%, caminhando para zero em 2017.
Retornamos à "teoria do copo cheio" que, por mais simples que pareça, é a única realidade conhecida no momento. O fator tempo é considerado na medida em que a recomposição da renda se dá com a capacidade da economia em reagir, principalmente pelo lado do consumo. Não adianta reativar somente o crédito se o consumidor não tem capacidade de pagar. O patamar dos juros deverá ter um papel importante neste contexto, para que a equação consumo, crédito e capacidade de pagamento aconteça.
Assim, o ponto de partida se dará pela queda dos juros como, talvez, o único fator momentâneo. Isso poderá trazer algum estímulo aos consumidores e, consequentemente, reanimar a economia como um todo, alinhado pelo conjunto de reformas necessárias, inclusive fiscal e previdenciária.
Tomar medidas firmes é necessário para governar um país rumo ao desenvolvimento econômico, mas a história mostra que é possível. Faltando apenas 30 dias para encerrar o ano, o momento é planejar.