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Banco Central

Câmbio, Política
Os mercados antecipam as eleições?
27 de junho de 2018 at 11:32 0

Sem dúvida a greve dos caminhoneiros antecipou o calendário eleitoral. Tanto a bolsa quanto os juros futuros e o câmbio incorporaram os fatores externos advindos da mudança de postura da economia americana. O aumento de juros e o protecionismo da economia americana fez com que fosse interrompida a calmaria que vinha perdurando nas economias emergentes em geral.

Além disso, essa mesma greve evidenciou a realidade e a fragilidade do governo atual que, para se livrar de um incômodo pontual, acomodou a situação e deixou a sensação de que estávamos muito mais vulneráveis do que imaginávamos.

O principal detonador da crise de confiança do mercado foi a demissão do Presidente da Petrobras, Pedro Parente, em função da falta de alinhamento com o discurso do governo de não estar mais vulnerável ao intervencionismo do preço de combustíveis. O governo, entretanto, por meio de decreto, acabou baixando o preço do óleo diesel. Pedro Parente saiu.

Com os mercados extremamente voláteis e seis meses eleitorais pela frente, fica a indagação dos mercados sobre o que esperar da diretriz econômica. Não há sequer um perfil aproximado do possível novo presidente, com exceção dos candidatos de centro, que não parecem ser os favoritos da população conforme as pesquisas recentes.

Aparentemente o gerenciamento dessa crise de confiança coube ao Banco Central. Instalada desde antes da Copa do Mundo, restou ao BC conduzir essa difícil e complicada transição eleitoral, evitando a solidificação do caos e pânico aditivados pelo grau de incerteza agora instalado.

Os mais experientes, como eu e outros da minha geração, já viveram várias crises cambiais. Sabemos como elas começam e os distúrbios gerados à vida cotidiana. A instabilidade do cenário, além de gerar uma grande incerteza na economia e nos negócios em geral, detona o índice de confiança, fundamental para os investimentos.

Nosso câmbio já vinha sendo precificado sem grandes interferências do BC, porém a onda de desvalorização dos mercados emergentes fez necessária a adição de todas as variáveis de risco político.

Em sua última reunião, o FED americano sinalizou uma alta gradual de juros, inviabilizando uma trégua cambial no curto prazo. Essa medida já contamina a curva de juros futuros, criando uma expectativa inflacionária a ser avaliada. Já aqui no Brasil, a decisão do COPOM no último dia 19 não surpreendeu quem acreditava no discurso de meta inflacionária do presidente do BC. O foco continua sendo o target inflacionário, o que não impactaria a trajetória de juros pelos distúrbios no câmbio, deixando de atrair capital especulativo e, consequentemente, diminuindo prêmio de risco do câmbio.

Há um velho ditado do mercado que diz: “a bolsa machuca, os juros aleijam e o câmbio mata”. A sabedoria das gerações passadas se mostrou novamente realidade.

Para que haja clareza: entregar um governo com a volatilidade econômica controlada é uma tarefa árdua, mas possível. Isso dependerá exclusivamente da perícia do Banco Central em administrar a tensão do mercado, dependendo de como vai operar os grandes momentos de estresse cambial.

O dólar a R$ 4,00 já é uma realidade no curto prazo, mesmo com as intervenções diárias do Banco Central. O grande problema não é o alto valor do dólar em si, já que setores da economia se beneficiam disso, e sim a oscilação em alto grau. A mudança de cotação de R$ 4,00 para R$ 4,50 fragiliza a confiança na política cambial brasileira.

O BC não terá trégua diante da intensidade dos eventos de descontinuidade política. Como ficou demonstrado nas últimas semanas, o mercado antecipou as eleições que estavam marcadas para depois da Copa. Cada pesquisa será refletida no dólar, nos juros e na bolsa. Como o câmbio mexe com toda cadeia econômica do país, a volatilidade exacerbada acaba paralisando a atividade econômica. Nessa situação, os agentes financeiros e a própria cadeia de importadores e exportadores têm dificuldades na formação de preço dos seus produtos. Se o dólar estiver muito volátil, o exportador pode estacionar os recursos no exterior, enquanto o importador adiará o fechamento do câmbio.

Não podemos desconsiderar a sensação de desalinhamento entre os juros internos e os juros americanos. Esse descolamento somado à baixa atratividade de investimentos em títulos soberanos brasileiros tem uma consequência: a curva futura de juros sobe.

A medida governamental de intervenções programadas de SWAP, como a anunciada no último dia 8, torna a política cambial mais ativa e menos reativa. Naquela ocasião, o câmbio despencou 6% em um dia e deu uma forte sinalização de mudança de comportamento. O que poucos notaram, entretanto, foi o fato da intervenção vir colada à oferta de crédito ponte de R$ 50 bilhões do FMI para a Argentina, que já estava sofrendo um ataque a sua moeda.

A realidade é que o preço do dólar não está mais alinhado aos indicadores técnicos e à metodologia de preço justo, mas ao prêmio de risco associado ao imponderável, isto é, àquilo que não enxergamos, principalmente no campo eleitoral. Um cenário otimista a favor do câmbio seria o crescimento dos candidatos de centro, em especial Geraldo Alckmin.

Jogue sua calculadora financeira fora, pois será de pouca utilidade para operar o mercado. O momento atual é de observação e sentimento. Fique atento às pesquisas, pois elas serão o gatilho de alta ou baixa do dólar.

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Política
Economia reage, inflação cai e PIB cresce. Fim da crise à vista?
16 de maio de 2017 at 17:58 0

Economia reage, inflação cai e PIB cresce. Fim da crise à vista?

O anúncio de que o IBC-Br teve uma alta de 1,12% nos três primeiros meses do ano foi motivo de comemoração para economistas. Esse indicador é construído pelo Banco Central e funciona como uma tentativa do Governo de antecipar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, já adiantando algumas decisões, especialmente em relação às taxas de juros. Confirma o que falei há algum tempo sobre a importância dos indicadores tanto na tomada de decisões quanto para acompanhar a saúde econômica brasileira.

A grande estrela do resultado positivo do IBC-Br é a safra recorde de grãos já que o levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), prevê que a safra 2016/2017 deve chegar a 230 milhões de toneladas. É um crescimento de 24,3% em relação ao período anterior e significa uma incrível movimentação econômica com geração de empregos diretos e indiretos e movimentação de várias cadeias produtivas.

Embora o resultado seja positivo, afinal significa que o país está no rumo certo, não é realista esperar um crescimento expressivo diante de tantos meses de crise. Nos últimos anos o Brasil sofreu perdas consideráveis de credibilidade: um longo processo de impeachment, a queda do grau de investimento e consequente fuga de capital.

Michel Temer e sua equipe fizeram um esforço considerável no sentido de aprovar medidas percebidas como impopulares, porém muito necessárias para a recuperação do país. A aprovação da PEC do Teto provou aos investidores que o Brasil tem a intenção em conter seus gastos públicos e, como resultado, a Moody’s alterou o rating brasileiro de negativo para estável. A própria agência afirma que a continuidade e implementação consistente dessas políticas pode afetar positivamente futuras classificações.

Uma das grandes vitórias é o controle da inflação, grande trauma para os brasileiros. Isso significa que um governo que mantém os preços sob controle e garante renda e poder de compra consegue a confiança da população. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril ficou em 4,08%, o menor para o mês desde o início do Plano Real, em 1994. As categorias que puxaram esse número para baixo, dessa vez, foram os combustíveis, energia elétrica e habitação.

Estamos apenas no começo de um longo caminho na retomada do crescimento. As reformas Previdenciária e Trabalhista estão a poucos meses de serem aprovadas e estamos a pouco mais de um ano de um processo eleitoral que não apenas promete ser um dos mais acirrados das últimas décadas, mas irá garantir a continuidade dos ganhos dos últimos meses ou colocar tudo a perder.

Como diz o ditado, esforço e trabalho duro oferecem suas recompensas. A economia brasileira agradece.

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Finanças, Política
Independência do Banco Central
29 de abril de 2016 at 13:25 0
independência do banco central Durante a campanha eleitoral de 2014, falou-se muito sobre a independência do Banco Central. Com a crise econômica e a deterioração da nossa moeda, o assunto voltou às manchetes dos jornais como uma medida possível em um provável governo Temer. Cotado como Ministro da Fazenda do novo governo, o ex-ministro Henrique Meirelles defendeu semana passada a independência do BC. Há de fato benefícios em deixar que o Banco Central corra solto às políticas do governo? Desde que foi fundado, em 1964, o Banco Central nunca foi independente, pelo menos no papel. Porém, alguns governos o deixaram funcionar com bastante autonomia, como durante a implementação do Plano Real, na década de 90. Durante a implementação do Plano Real, que acabou com a hiperinflação e estabilizou nossa economia em 1994, o Conselho Monetário Nacional deixou de possuir inúmeros membros, passando apenas a três: o Ministro da Fazenda, do Planejamento e o presidente do Banco Central. Essa tríade passou a controlar com lupa os gastos públicos e guardar a estabilidade monetária do país. Nos governos seguintes, houve mudança de diretrizes e o Banco Central passou a responder ao Ministério da Fazenda. Em resumo, o BC passou a acompanhar as políticas fiscais do governo, como por exemplo: a redução da taxa de juros para aumentar a oferta de crédito à população e estimular o consumo. Essas políticas, apesar de estimularem o crescimento do PIB, foram causadoras da alta da inflação, que é um dos efeitos da expansão monetária. A estratégia do governo, que pretendia impulsionar a atividade econômica acabou por, além de aumentar a inflação e diminuir o consumo, criar os chamados pibinhos. A diminuição do PIB brasileiro afetou famílias e empresas. Hoje, qualquer governo que queira seguir rumo à retomada econômica deverá repensar as políticas fiscais e fazer muitos ajustes. A possibilidade de Henrique Meirelles novamente no governo anima o mercado, pela sua biografia e seu grande conhecimento do mercado financeiro e experiência na vida pública. Um BC independente pode ser uma possibilidade de menor pressão política e talvez possamos pensar de verdade nas soluções a longo prazo. O Brasil deve começar a trabalhar com os olhos nas próximas décadas, não somente no dia de amanhã. Seguimos na esperança de que as coisas mudem e comecemos a navegar sempre para o futuro.  
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Finanças, Juros, Política
A concentração bancária e a crise no Brasil
29 de março de 2016 at 12:22 0
concentração bancária

O segmento bancário brasileiro está seguindo cada vez mais a tendência do “Too big to fail” (grande demais para falhar). Isso fortalece o sistema, mas ao mesmo tempo deixa o mercado financeiro vulnerável a um número reduzido de Bancos, a chamada concentração bancária.

Ontem lemos no Jornal Valor Econômico uma matéria que fala justamente dos efeitos negativos causados pela concentração bancária às empresas. A matéria nos conta que as empresas brasileiras já passaram por várias crises, mas nunca tendo uma concentração bancária tão grande. A dificuldade em conseguir crédito, complica a vida dos empresários. Houve um êxodo dos bancos estrangeiros, encolhimento dos médios bancos e os bancos públicos estão sem capital, o que agrava ainda mais a crise que vem se instalando no Brasil há dois anos, refletindo diretamente na geração de emprego e renda da população.

As notícias são preocupantes. As manchetes desta segunda-feira também nos mostram o fechamento de mais de 4 mil fábricas no estado de São Paulo em um período de um ano, o que é o retrato do desemprego no país. As empresas que conseguiram tomar empréstimos estão tendo dificuldades para honrar com suas dívidas e a inadimplência também tem sido crescente. Por isso muitas são obrigadas a demitir ou até mesmo fechar as portas.

Neste cenário de incertezas, os bancos – especialmente os menores - não emprestam para as empresas que estão em situação grave e indefinida. Passamos a enfrentar uma crise de liquidez e muitos dos bancos menores estão sendo absorvidos pelos grandes, através da compra de títulos de crédito por exemplo, que começou quando o BC liberou os compulsórios, numa manobra de tentar salvar os pequenos.

Mas como melhorar o patamar e ajudar a economia neste cenário da concentração bancária? O ideal seria que tivéssemos mais espaço para o trabalho dos bancos segmentados, que atuariam em setores específicos como, por exemplo, as microempresas. Seria bem melhor que cada setor do mercado tivesse uma opção de instituição financeira que o atendesse com os olhos voltados aos seus problemas específicos. Em outro artigo eu disse que já passamos da hora de repensarmos o modelo dos bancos pequenos e médios.

Por sorte temos visto um movimento incansável da sociedade para que o governo tome posições econômicas consistentes e é o que esperamos que aconteça, pois apenas isso poderá recobrar a credibilidade e começar a mudar o panorama para melhor.

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Leia mais no meu artigo sobre concentração bancária no Brasil.

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Bolsa, Câmbio, Finanças
Moody’s rebaixa Brasil com perspectiva negativa
25 de fevereiro de 2016 at 16:15 0

grau de investimento

Em setembro de 2015 a Standard and Poor’s rebaixou o grau de investimento da economia brasileira. Este movimento foi um choque de realidade para o governo brasileiro, que ainda não tinha assumido publicamente a gravidade da crise. Em dezembro foi a vez da Fitch rebaixar a nota brasileira. A Moody’s, única agência de classificação de risco que ainda mantinha o grau de investimento brasileiro, cortou ontem 2 níveis da nossa nota de uma só vez. O Brasil atualmente é classificado pela Moody’s como Ba2, considerado o nível "junk”, ou uma economia especulativa, não confiável para os investidores.

Uma série de fatores foi determinante para que a Moody’s seguisse esse caminho, assim como aconteceu com a S&P e a Fitch. Além da deterioração nas métricas de crédito do Brasil, o baixo crescimento e o descontrole das dívidas públicas foram determinantes. A perspectiva de que em breve a dívida pública brasileira deverá atingir 80% do nosso PIB é assustadora para os analistas de risco. A falta de credibilidade política também foi um fator determinante nesta decisão.

Segundo a agência, se continuarmos como estamos, ficaremos por dois ou três anos no chamado “crescimento anêmico”, que é quando não há crescimento significativo. A receita é simples: uma economia estagnada não produz dinheiro novo, logo o pagamento de dívidas é prejudicado. Fica também muito difícil conseguir dinheiro para que o governo promova investimentos. Com a taxa de juros se mantendo elevada, o Brasil terá muita dificuldade em pagar a dívida, porque só os juros vão representar aproximadamente 20% de toda receita do governo.

A próxima reunião do Copom será um desafio para o BC, pois apesar do aprofundamento da recessão, a inflação não tem dado trégua como esperado. A grande dificuldade em avaliar a economia daqui para a frente, complica ainda mais a tomada de decisões. O IPCA mais recente demonstrou claramente que o efeito da queda de atividade no Brasil ainda está longe de quebrar a inércia da indexação dos preços administrados, além da inelasticidade de alguns mercados nos preços praticados, o que deixa o efeito da recessão mais rígido e o processo de recuperação mais lento.

Possivelmente seremos obrigados a aprofundar ainda mais a crise para que a inflação comece a cair, pois o efeito da força da política monetária via juros, aparentemente, continuará neutro. Mas apesar de toda dificuldade do quadro, temos de seguir em frente e nos mantermos firmes e confiantes que muitas oportunidades também deverão surgir.

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Bolsa, Juros, Política
Os rumos do Brasil
20 de janeiro de 2016 at 08:29 0

post_blogdosaul

Todos já sabemos que o Brasil passa por um problema sério com suas commodities, principalmente pela baixa histórica do barril de petróleo e da volatilidade da economia chinesa, responsável pela importação de 50% do nosso minério de ferro. Cada vez mais interessado por economia, muitos brasileiros já se conformaram com as projeções pessimistas para 2016. Não há remédio milagroso, e a melhora vai depender de ajustes certeiros tanto na área financeira quanto na política, que não está ajudando na suavização da crise.

As economias dos países emergentes, em geral, têm sofrido bastante com a queda generalizada dos preços das commodities e a valorização do dólar. Especialmente a Venezuela e o Brasil que, além de terem uma grande parte de sua receita atrelada às exportações de petróleo e minério, ainda passam pelos problemas domésticos – que não são poucos. Países de primeiro mundo também sofrem com esses problemas, e a moeda canadense que normalmente segue a regra do um para um, desvalorizou quase 50%, e hoje são necessários 1,45 dólares canadenses, o CAD, para comprar one dollar bill.

Preocupado com o problema brasileiro mais sentido pelos pais de família, que é a inflação que derrete a renda de famílias e empresas, o Copom fará hoje a sua primeira reunião do ano para definir se sobe a taxa de juro para 14,25%. O resultado da reunião sairá a noite, mas é provável e quase certo que sim, o BC irá manter a taxa ou no máximo subir 0,25%.

Já disse anteriormente que a subida da taxa é uma decisão necessária, mas com resultados pouco garantidos, podendo afetar ainda mais as dívidas com o percentual repassado aos preços. Já em janeiro o IPCA deu um susto na população, nos mostrando as altas nos preços dos itens mais básicos.

Muitos amigos me perguntam sobre a realidade da economia brasileira e as chances de recuperação, mas tudo o que tenho são interrogações. Por mais que os especialistas tentem analisar e prever, no fim das contas ninguém consegue saber muito. Qual a eficácia da política monetária no momento? Qual o impacto de elevação dos juros no controle da inflação, se a percepção é fiscal? Qual o impacto dos juros SELIC no custo dos empréstimos, se os spreads estão exacerbados em função do risco Brasil? Quanto da inflação não está indexada aos contratos e aos indexadores que mantém/reduzem a capacidade dos juros?

Enfim, meus amigos. O negócio é torcer para que quem está no controle saiba o que está fazendo, e trabalhar muito, com muita cautela, porque este ano não será céu de brigadeiro. Isso, ao menos, é uma certeza.

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Investimentos, Juros, Política
A difícil decisão do rumo dos juros.
9 de dezembro de 2015 at 16:09 0
alta dos juros Com a Ata do Copom confirmando de manutenção do patamar dos juros atual e sinalizando uma vigilância do BC em relação à inflação, passando a percepção de que não está assistindo passivamente a persistente manutenção dos altos índices de inflação, mesmo que isso implique em maior redução da atividade econômica, voltou a reinar a discussão novamente sobre qual será  o rumo dos juros.

Já existe uma corrente de economistas que começou a exercitar a possível alta do juros em função da Ata do Copom, principalmente aqueles mais adeptos da teoria ortodoxa, que pregam a qualquer cenário a perseguição do cumprimento das metas de inflação, utilizando sua principal arma que é a alta dos juros para que a economia rompa este ciclo inflacionário através de um choque na oferta e na demanda, cujo resultado seria a queda dos preços.

Sem dúvida que, tecnicamente, a tese é perfeita e sempre que a contrariamos pagamos um alto preço futuro por este relaxamento. Vejam o que aconteceu com a economia, que vinha em um ciclo de expansão tipicamente desenvolvimentista e heterodoxo, cujo resultado está aí: a economia se desarrumou fortemente até porque ancorou o crescimento em crédito e estímulo ao consumo, com alongamento de prazo.

Assim, os defensores da política econômica ortodoxa têm a política monetária como pilar dos ajustes da situação macroeconômica em que o BC não é, nem pode ser, parceiro de crescimento, mas sim controlador da inflação, induzindo ou não os mercados e a atividade real a fazerem seus movimentos de investimentos. Isso, por credibilidade, assim como funcionam as economias mais desenvolvidas como a dos EUA, com o Fed (a mais de uma ano e meio) somente fazendo menção sobre sua atuação na possibilidade de subida dos juros gradualmente, em função da percepção de que o aquecimento da atividade industrial e comercial comecem a contaminar a inflação. Assim, as curvas de juros mais longas capturam estas tendências e se movimentam já com um impacto sobre a economia de empréstimo, como está acontecendo. Este é o movimento clássico.

Voltando ao Brasil, não podemos desconsiderar vários fatores que podem contrapor esta teoria, como o ambiente político adverso e como o ciclo de recessão, assim como uma boa dose de predominância fiscal, que inegavelmente se encontra instalada nos dias de hoje. Mesmo que o BC não goste de considerar este aspecto, pois joga contra ele, dá a entender que poderá ficar neutro, o que não é bom.

Além de que, quando o mercado incorpora o conceito de predominância fiscal, contribui para neutralizar mais ainda a política monetária e fica na dependência, predominantemente, do ajuste fiscal, que acaba na pauta política incluindo as reformas e aumentos de impostos.

A questão agora é: se houver alta dos juros, caso o BC decida retomar, até que ponto seria vista como um impacto redutor da demanda de consumo com consequências na queda da inflação? Ou será  vista como um realimentador de mais um repasse de preços, pelo custo do crédito em geral? O aprofundamento da recessão e o próprio aumento dos juros pode deprimir ainda mais a combalida economia e não surtir o efeito desejado de buscar o centro da meta de inflação e ainda implicar em um custo social muito mais elevado do que já se encontra.

No meu ponto de vista, não vejo como uma alta de juros poderá contribuir para uma já tão combalida economia, pois o ponto não é ser ortodoxo ou heterodoxo. Não estamos em um ambiente de pleno exercício de eficácia das ferramentas de juros e câmbio, mas sim em um ambiente maligno, no qual  já existe uma contração das linhas de crédito, como também os spreads bancários estão muito acima de uma situação de normalidade. Isso faz com que  a economia como um todo perca a sua dinâmica e impacte fortemente a cadeia de fornecedores e  consumidores. Este ponto é relevante, pois poderá o aumento de juros induzir a recompor as margens das empresas já tão impactadas pelas taxas altas dos empréstimos.

Outro ponto relevante é o setor imobiliário, que funciona através da captação de poupanças e a falta de atratividade tende a piorar a competitividade e aumentar o rombo da Caixa Econômica, que detém algo em torno de 70% do mercado imobiliário. O déficit dos saques da poupança estão em torno de R$ 70 bilhões. Este também é um problema sério que deverá ser levado em conta, pois vai aumentar o déficit do governo.  A Caixa Econômica capta estes déficits em CDB e LCI, que são taxas Selic, gerando um spread negativo em função dos empréstimos antigos já contratados em bases de captação. (TR +6% a.a).

Vocês conhecem aquela história do homem que estava ajustando a porca no parafuso e pensou “vou dar mais uma atarrachada” mas daí a porca espanou? Este é o dilema maior do BC: se apertar demais a porca pode espanar, mas se não fizer nada pode ter uma alta da inflação com pouca margem de controle.

Solução à vista? Só um choque de credibilidade.

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Investimentos, Juros, Política
A encruzilhada dos juros
21 de outubro de 2015 at 17:36 0

juros

A penúltima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central de 2015 é hoje e não acredito que teremos grandes surpresas, pois a agenda econômica ou da política monetária está a reboque das agendas políticas.

Acredito na manutenção dos juros, até porque a percepção de aumento da SELIC agora teria pouco ou nenhum benefício efetivo de contenção da inflação, que já beira os 10% este ano e possivelmente ficará bem longe da meta estabelecida pelo BC para 2016, que eu estimaria entre 7% a 8%.

Um aumento de juros no momento atual, em que estamos perto de 3% de PIB negativo e aumento acelerado de desemprego, faz com que o Copom fique em uma encruzilhada no que se refere ao objetivo principal do modelo de Meta de Inflação ou Target Inflation - como é mais conhecido.

O aumento de juros é feito com objetivo de ancorar as expectativas futuras da inflação, que é 5,4% pelo BC (mas o mercado já estima em 6,72%) para 2016 e 4,6% para 2017. Dentro deste cenário o BC só terá duas escolhas daqui para frente:

1)    Aumentar os juros, como manda o figurino: acho pouco provável, pois o efeito de desaquecimento da economia, que já é muito grande, só traria mais perda de arrecadação além da percepção de um rombo maior no déficit orçamentário e, com certeza, acabaria impactando em aumento de dívida/PIB trazendo questionamentos indesejáveis sobre a real capacidade de endividamento da União.

2)    Em futuro próximo, poderia aumentar a meta de inflação: 5,5% 2016 estaria num patamar mais realista, pois a banda alta poderia ir até 7%, pelo que estamos podendo enxergar hoje.

Assim, o que se pode esperar do BC em relação ao Copom é, através do relatório, dar mais discloser para o mercado de que a situação continua sendo bem administrada e sob controle, apesar dos problemas sazonais que têm induzido a alta da inflação. Como exemplo, o reajuste cambial nos preços, além dos preços administrados e, assim, com uma visão mais realista do que se pode fazer diante de um intrincado quadro político que lhe dá pouca margem de manobra.

O BC sabe que sem uma política fiscal austera ficará difícil trabalhar somente com os instrumentos clássicos: juros, câmbio e restrição de crédito.

Com tudo isso, criou-se uma expectativa dos mercados não em relação ao aumento de juros, mas sim em relação ao modelo de Target Inflation.

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Investimentos, Juros, Política
O dilema dos juros
23 de setembro de 2015 at 15:58 0
juros Com o momento político-econômico se agravando em função da queda de braço entre os poderes Executivo e Legislativo, há a possibilidade de agravamento da crise cambial e isso faz com que haja uma mudança nas expectativas em relação aos juros.

Com a curva futura dos juros apontando para 16%, começa a se delinear uma possível projeção de inflação mais aquém da meta estimada pelo Banco Central para 2016. A projeção do futuro embute um clima de descrédito quanto à possível queda da inflação dentro da meta estimada.

A corrente que está formada pelo fluxo da incerteza no âmbito político-econômico vem fazendo com que o dólar seja apreciado constantemente e, assim, acabe impactando na expectativa futura dos juros, apesar da piora considerável na demanda de consumo. O ciclo vicioso está formado.

O dilema da subida dos juros, na atual situação, pode agravar bastante o déficit brasileiro, além de colocar mais gasolina na fogueira. No caso específico do sistema de crédito de habitação, cria um descasamento fantástico. O sistema de poupança vem batendo recordes de saques, principalmente pela falta de atratividade, além de o volume de operações ter crescido de forma agressiva principalmente pela Caixa Econômica (em que saímos de 4% a uma década para 20% do sistema).

Hoje, com a subida dos juros e com os saques crescentes da poupança, os Bancos emitem CDB ou LCI para financiar este déficit, fazendo com que tenham um spread negativo em torno de 3% entre o captado em títulos fora da poupança e o crédito já dado em base de TR. Na realidade o problema é de todo sistema de poupança, apesar de a Caixa ser mais contundente, pois o programa Minha Casa Minha Vida teve uma expansão e representatividade como programa de governo.

O contexto hoje é bem diferente de outros tempos em que o crédito imobiliário não era tão significativo. A subida dos juros, caso se tenha necessidade de usar o crédito imobiliário como política monetária, fará com que o déficit orçamentário, além dos títulos públicos, aumentem significativamente.

Veja esses gráficos:

jurosgrafico poupanca 02

A dimensão do dilema: a possível alta dos juros, caso haja necessidade, poderá fazer um grande estrago nas contas públicas e o não aumento dos juros poderá ser interpretado pelo mercado, já bastante nervoso, como um certo abandono das metas de inflação.

Uma coisa é certa: especular neste momento com juros e dólar é muito arriscado. O conselho é ser conservador em relação aos seus investimentos, sem perder a visão das oportunidades.

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