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análise

Finanças, Política
Os mercados e a eleição presidencial brasileira
14 de maio de 2018 at 16:00 0

Os mercados dão sinais claros que os tempos fáceis acabaram. Daqui para frente o grau de incerteza tende a aumentar consideravelmente, o que elevará a volatilidade consequentemente.

Pressionado por vários motivos e variáveis que poderão impactar em seu preço, o dólar americano já deu a cara de como vai começar a se comportar. A cotação do dólar oscila por diversos motivos, como as variáveis externas que fogem ao controle brasileiro. É o que está acontecendo atualmente já que a política de Donald Trump tem afetado as economias emergentes.

Uma das promessas de Donald Trump foi valorizar a indústria americana. Com isso, políticas protecionistas foram implantadas nos EUA, o que certamente tem contribuído para o aquecimento da economia norte-americana. Pesa também a redução de impostos corporativos com maior controle da inflação, o que consequentemente gera maior expectativa no aumento da taxa de juro americana. Estes fatores por si só já têm capacidade de apreciar o dólar, consequentemente desvalorizando as moedas emergentes.

Uma das economias que têm sofrido com isso é a argentina, nem tanto pelo efeito externo, mas pela anemia de sua economia, combalida desde os anos 2000. Ajustes fiscais e econômicos foram feitos na Argentina, mas muito ainda precisa ser feito para que os hermanos consigam sair da armadilha inflacionária. Para se ter uma ideia, a expectativa de inflação oficial foi revista de 15% para quase 25% a.a, e a taxa de juros que aqui no Brasil está em 6,25% foi a 40% na Argentina.

Diferentemente do Brasil, a Argentina não possui uma grande reserva cambial que sirva de firewall aos ataques especulativos. Isso fez com que os argentinos pedissem um empréstimo de mais de US$ 30 bilhões ao FMI, contrariando uma promessa de campanha do presidente Mauricio Macri. Além da Argentina, Turquia, Rússia e Brasil agora sofrem com a desvalorização de suas moedas em um efeito que se estenderá por todos os emergentes. O grau de impacto deverá variar de acordo com a confiança externa e a solidez de cada nação. 

O mercado está otimista em relação ao Brasil, e isso me preocupa. Embora com taxa de juro historicamente baixa e inflação no piso, não podemos imaginar um cenário onde o Brasil volte a surfar em céu de brigadeiro, como foi durante a crise global de 2008. Qualquer análise deve sempre levar em conta o cenário interno, mais especificamente o eleitoral, que certamente impactará a economia a depender do eleito e da base partidária que o acompanhará.

Dentre os candidatos viáveis, podemos traçar as seguintes hipóteses:

Uma vitória da centro-direita com Alckmin, Álvaro Dias, Flávio Rocha ou Henrique Meirelles trará poucas mudanças na política econômica. Neste caso teremos uma manutenção do cenário financeiro, com dólar abaixo dos parâmetros já antes da eleição e juros no patamar atual. Isso se deve à crença do mercado na manutenção das reformas econômicas, o que segurará o dólar estável, juro baixo e bolsa em alta.

Caso a centro-esquerda vença com Ciro Gomes, um candidato do PT ou Marina Silva, que se posiciona um pouco mais ao centro, teremos maior indefinição econômica. A tendência pela suspensão das reformas e incerteza de cenários pressionará o dólar que, com a taxa de juro indefinida, fará com que a bolsa entre em queda.

Candidato de extrema-direita líder das pesquisas atuais, Jair Bolsonaro fará os mercados reagirem com bastante volatilidade em caso de vitória. Tudo dependerá da equipe econômica escolhida por ele e qual base eleitoral sustentará seu governo na Câmara e no Senado. Assim como Ciro Gomes, Bolsonaro será questionado pelo mercado por suas políticas na economia e na área social. Neste caso, o dólar deverá extrapolar os preços habituais e o juro deverá subir ligeiramente, em uma tentativa de segurar a especulação no dólar.

Levando todas essas alternativas em consideração, caso tivesse que decidir hoje por um curso de ação eu ficaria fora da bolsa, neutro na questão do juro, ou levemente comprado, e com maior posicionamento no dólar. Não é possível avaliar um cenário de curto prazo com grandes ou pequenos ganhos na compra em bolsa ou juros.

Há pouco para se ganhar e muito para se perder, apesar dos fundamentos financeiros do Brasil ainda estarem estáveis.

E lembre-se do velho ditado, eu sou você amanhã, hermano.

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Política
O baralho eleitoral do Brasil e o cenário possível durante eleições
23 de abril de 2018 at 17:21 0

Uma eleição é como um jogo de baralho. No certame presidencial brasileiro deste ano, a partida será jogada com diversos "decks" de cartas. O quadro eleitoral é incerto graças às complicações jurídicas vividas pelos partidos, pela nova legislação eleitoral e o número de candidatos novos, que oxigenam a disputa.

Do ponto de vista econômico, as novas regras de financiamento de campanha trazem mudanças importantes. Além da imposição de um limite de gastos às campanhas, há também restrição de quem pode fazer as doações e até como as campanhas de televisão podem ser feitas. 

A coisa complica também quando se olha o lado humano. A inviabilização de candidatos tradicionais e consolidados, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e os senadores Aécio Neves e José Serra, abre caminho para a entrada de novos atores à cena. São candidatos que representam uma multitude de espectros políticos, da esquerda à extrema-direita. Essa pluralidade de candidatos torna a eleição mais complexa, já que haverá muita mudança de intenção de votos entre candidatos do mesmo espectro político.

Tendo em vista este cenário, podemos empregar uma análise lógica. Não considerarei a candidatura de Lula, já que a tendência é que ele permaneça inelegível, o que torna a análise mais complexa, já que caso Lula concorresse, seria natural que todos os candidatos se alinhassem contra ele. Sem o ex-presidente o confronto será de todos contra todos. E isso adiciona um novo conjunto de cartas ao baralho.

Existem duas grandes forças em disputa: de um lado a esquerda e centro, e do outro a direita. 

Na centro-esquerda o destaque é Geraldo Alckmin, que oferece ao eleitor um currículo eleitoral com 14 anos de mandato como governador de São Paulo. A complexidade do maior estado da federação, e também a riqueza dele, dão solidez à campanha no quesito realizações e conquistas. Destaca-se a questão da segurança pública, como abordei no artigo anterior, a realização de obras e a administração do orçamento. Em comparação com os outros estados, São Paulo se saiu bem na crise econômica de 2014. Alckmin já disputou o cargo em 2006, o que lhe trará recall. Além disso, ele terá dois candidatos ao governo em São Paulo puxando voto para sua candidatura: Márcio França e João Dória. 

Apesar desses pontos a favor, Alckmin ainda não decolou nas pesquisas. Pesa também o aumento da rejeição ao partido devido às acusações contra Aécio Neves, embora Alckmin tenha passado ileso pela Lava-Jato.

Os demais candidatos do bloco que à esquerda ainda não decolaram, estão atualmente tentando tornar suas candidaturas viáveis. Entre eles encontram-se personalidades sem cunho partidário, mas com poder de conquista em segmentos diversos da sociedade, como o ex-ministro Joaquim Barbosa e o empresário Flávio Rocha. Ciro Gomes e Marina Silva, por exemplo, ainda não se posicionaram nacionalmente como candidatos. Além disso, a presença de dois candidatos de renome na esquerda pode acabar esvaziando as urnas dos dois.

A grande incógnita será a postura do Partido dos Trabalhadores nesta eleição. Jacques Wagner e Fernando Haddad, dois nomes ventilados pelo partido, não conseguem sequer atrair o voto do ex-presidente Lula. Com seu principal candidato inviabilizado, o PT terá como missão manter o cacife eleitoral da legenda, essencial na negociação de alianças. As cartas nos naipes do primeiro bloco, de esquerda e centro, estão se movimentando tentando abocanhar parte do eleitorado petista, órfão de um candidato viável.

No lado à direita do campo, Jair Bolsonaro enfrenta um problema oposto ao de Geraldo Alckmin. Sobra ao deputado carisma e intenção de voto, mas falta conteúdo administrativo e de gestão, já que Bolsonaro nunca ocupou nenhum cargo executivo. A inexistência de bandeiras é um dos principais problemas de Bolsonaro, que perde credibilidade eleitoral junto ao eleitor com maior índice de escolaridade e renda, parte importante do voto avesso à esquerda. 

Com a prisão de Lula e a entrada de novos candidatos no jogo, o candidato do PSL tem como maior desafio a consolidação do voto que, aparentemente, já é seu. Mesmo com todos esses poréns, Bolsonaro já é um candidato viável e estabelecido, ao contrário de boa parte dos pré-candidatos que aventaram candidatura. No pior dos cenários, Jair Bolsonaro é forte candidato ao segundo turno, algo ainda distante a grande parte dos outros candidatos.

Contra tudo e contra todos, entretanto, restam as “Fake News”, que devem dominar o cenário graças à leniência da legislação brasileira, que falha em coibir e punir veículos que divulgam notícias falsas, caluniosas ou tendenciosas. Jair Bolsonaro, por ser polêmico, deve ser uma possível vítima desse expediente, além de outros candidatos que se aventurem por temas mais polêmicos.

O candidato que se posicionar ao centro terá vantagem na disputa, basta para isso uma melhora no da economia. O número chave é 2,5% de crescimento do PIB. A história e as estatísticas mostram que o discurso do centro ganha adesão com melhor ambiente econômico, enquanto a direita e a esquerda dependem de um cenário econômico ruim para ganhar força. São os votos da mudança e, se está bom para todos, a mudança deixa de ser atrativa.

A partida de baralho está apenas começando, e quanto mais tentamos enxergar a mesa, mais embaralhadas e confusas ficarão as cartas. É preciso esperar que as cartas sejam jogadas, dentro e fora do baralho, para que possamos ver, de antemão, qual surpresa nos aguarda nesta eleição.

Será um verdadeiro jogo de cartas.

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