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Finanças, Sustentabilidade

Quanto custa o risco reputacional ao nosso patrimônio

20 de fevereiro de 2019 0

A vida nos prega peças inesperadas e o desastre de Brumadinho nos lembra que não existe segurança total nos mundos dos negócios. 

À parte o aspecto moral das vidas perdidas e de quem é a culpa do desastre ambiental, fica mais uma vez claro de que o risco patrimonial dos investidores sempre estará presente, mesmo apostando em empresas gigantes e de aparente solidez e a principal razão é nossa capacidade de avaliarmos o risco implícito do negócio na sua amplitude maior.

Mal acabamos de sair da grande crise corporativa da Petrobras, em que a empresa foi usada para fins políticos e foi palco de um esquema de bilhões de reais em corrupção para alguns privilegiados e apenas agora voltou aos preços históricos de 5 anos atrás.

A Petrobras passou por uma faxina nas áreas de governança e compliance– procedimento necessário após o escândalo. A nova diretoria tem muitos anos de explicação em inúmeros processos que mancharam a reputação da empresa e acumula a função de limpar toda a sujeira exposta e apagar da nossa memória o fato de ser a campeã do vexame nacional.

Outra grande companhia que foi durante muitos anos um orgulho nacional, possui atualmente o capital misto e ainda recebe influência governamental (via BNDES e PREVI) é a Vale S.A. 

A companhia não sairá ilesa desse desastre ambiental e estrutural dos projetos das barragens, principalmente pela reincidência. Está comprovado que o controle preventivo falhou e a falta de sistemas funcionais e alarme e evacuação de pessoas comprometeu inúmeras vidas. Empresas do porte da Vale tem recursos necessários e capacidade tecnológica para, no mínimo, não deixar acontecer a pane no alarme.

Em casos semelhantes, o risco de imagem é incalculável. Os prejuízos financeiros e jurídicos para os acionistas tornam-se gigantes e comprometem a reputação de uma das maiores empresas da Bolsa de Valores, inclusive em razão do incomensurável prejuízo ambiental. 

A grande questão é: como os investidores no futuro poderão mitigar este tipo de risco e perdas bilionárias?

Antes de 2014, alguém poderia prever que seria exposto um sistema de corrução na Petrobras nos níveis em que foram descobertos? Acredito que não. Talvez alguns mais próximos imaginariam, mas o mercado não é formado de poucos. A grande maioria, como eu, apostaria muito na solidez da empresa. Alguém poderia imaginar que poderíamos ter outro desastre como o de Mariana? Também acredito que não. A percepção coletiva natural é que depois de um grande erro ou catástrofe, as empresas teriam agido para evitar tais desastres e prejuízos.

Cada vez mais tenho a percepção que vamos conviver mais próximos aos novos perigos de investimento de capital, e que deixam marcas que vão muito além dos prejuízos financeiros, jurídicos e reputacionais para todos envolvidos e não envolvidos: os prejuízos para humanidade. 

Essa é uma discussão interminável e antiga. A grande novidade é a importância e o peso do chamado “risco reputacional” em qualquer situação ou contexto de crise. Esse risco aumentou consideravelmente o poder de destruição e impacto nas companhias.  

Reputação Monitorada: nos dias de hoje, a reputação das pessoas e das corporações passa a ser o grande diferencial nos mundos dos negócios.

Alguns casos recentes no Brasil e no mundo mostraram claramente o potencial e o efeito devastador para os investidores: Petrobras, Facebook , Carrefour (em razão da ação de um segurança que levou a morte um animal de ruas), Extra (onde um segurança matou um rapaz nas dependências de uma unidade), BTG Pactual (quando da prisão do CEO), JBS,  Odebrecht e agora Vale. Esses são apenas um exemplo de como muitas companhias perderam valores do seu market capitalem um piscar de olhos. É espantosa a velocidade da destruição de riqueza em função dos gigantismos dos fatores associados a reputação. 

No campo da carreira pessoal e corporativa, a destruição de imagem também está presente em razão da construção do tribunal nas redes sociais, de culpabilidade imediata e execução sumária. Dois casos recentes confirmam essa teoria, do jornalista William Waack e agora Donata Meireles. 

O risco reputacional irá interferir cada vez mais na vida de pessoas públicas e poucas tem habilidade ou estão preparadas para ter uma atuação perto do ideal, com objetivo de conter a disseminação de notícias fora do contexto.

As redes sociais já se tornaram um dos grandes desafios do presente e a velocidade da informação é enorme. Na falta de administração adequada, o que tende a aumentar o risco que envolve a imagem, é preciso ter bastante sangue frio. O atual governador de São Paulo, João Doria, conseguiu reverter o quadro de uma fakenewsàs vésperas da eleição. Donata e Waack não tiveram apoio institucional das suas organizações para assumir uma situação de divulgação de imagens deturpadas de seu verdadeiro sentido.

Basta uma frase fora do contexto, uma foto ou um documento para destruir sumariamente vidas e empresas. Não existe lógica para esses eventos, classe social, sexo ou religião, mas sempre é possível encontrar a motivação, quando investigados. Quem se lembra do caso da mulher assassinada quando a esposa de seu amante, ao descobrir o caso, decidiu atacar sua reputação acusando-a de pedofilia nas redes sociais? Ela foi morta por linchamento, na rua de sua casa e por seus vizinhos, ao terem acesso a fotos montadas e fora do contexto. Essas fotos foram criadas exatamente com esse objetivo: incitar o ódio e o julgamento coletivo.  

E como evitar fakenewsou lidar com uma situação de risco reputacional?  Além de prevenir, a resposta é principalmente a forma e a rapidez na ação, segundo as especialistas Claudia Martinez e Sheila Lustoza da SISAK Gestão de Risco Reputacional. É necessário agir com precisão e administrar situações de crise, sejam elas mentirosas e difamatórias (Donata, João Doria e outros), bem como oriundas de fatos reais.

“Não existe uma receita única, sempre é possível evitar e sempre é possível conter ou diminuir os efeitos de uma crise – o importante é estar preparado” Claudia Martinez 

Com a entrada da Lei de Proteção de Dados, o risco corporativo tenderá a aumentar substancialmente. As redes sociais e grandes corporações que guardam registros pessoais serão passíveis de processos em caso de divulgação de dados não autorizados ou mesmo negligenciados. As multas são grandes e este processo inicia também de uma nova era corporativa. Empresas ou operações digitais, como aplicativos e outros, terão que se adaptar à nova legislação que deverá começar a valer em breve. 

Enfim o mundo mudou e está mudando cada vez mais rápido. Com certeza o risco reputacional corporativo pessoal terá cada vez mais peso em relação às suas consequências, uma vez que seus dirigentes e conselheiros deverão ficar cada vez mais expostos perante a lei e redes sociais.

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