Falei em meu último artigo sobre a volta da volatilidade aos mercados. Esperávamos um viés de baixa na bolsa, causado pelo momento externo americano e a situação eleitoral brasileira. Os preços não refletem a realidade do cenário externo e isso teria rescaldo em nossa economia.
Só que tudo foi antecipado pela greve dos caminhoneiros. É necessário cautela e poucos movimentos direcionais, pois a chance de se errar agora é maior. A cautela é necessária pois a volatilidade atrai o capital de maior teor especulativo, principalmente junto aos grandes players, ou quem tem apetite para assistir e digerir prejuízos com maior naturalidade.
Os maiores vencedores serão aqueles que mantiverem posição neutra, isto é, com operações com componente de maior hedge ou mesmo com limites de perdas controladas pela maior liquidez de ativos. Por sinal, a liquidez também cobrará um preço e um bom médico financeiro recomendaria cautela com a segunda e a terceira linha de bolsa. Em momentos de estresse a liquidez desaparece.
Para não me repetir, sugiro a leitura dos meus artigos anteriores em que faço a relação entre economia e política. Eles mostrarão como as tendências de mercado serão dadas pelos boletins de pesquisas eleitorais. No campo macroeconômico externo, o principal fator de influência serão os Estados Unidos, já que se fizermos uma análise 360º do mundo veremos que a política Trump continua a ser a grande novidade e atua como trigger do mercado. Quanto mais o presidente americano se movimentar para implementar seu programa de crescimento e melhoria das condições do mercado interno, maior será a pressão do dolad nas moedas locais dos mercados emergentes.
A volatilidade e a volta da concentração do fluxo de investimentos na América são muito ruins. A proteção de capital em ativos menos voláteis e vulneráveis à piora doméstica começa a se tornar estratégica. Como o consumo interno não terá grande crescimento devido à queda do índice de confiança, uma boa alternativa para os investidores em bolsa é a mudança de capital para empresas exportadoras.
O câmbio deverá seguir pressionado até que a situação eleitoral brasileira se mostre mais clara. Uma super desvalorização é improvável, mas a incerteza poderá funcionar como combustível para piora do cenário interno.
Pontos de atenção:
- O governo é frágil e demonstrou isso cedendo às demandas feitas pelos caminhoneiros;
- Fluxo cambial desfavorável e com política intervencionista, que controla os fluxos desfavoráveis e aumentam o pessimismo;
- A situação econômica ruim é boa para os candidatos de extrema esquerda e extrema direita, conforme exposto em meu último artigo;
- Interrupção no ciclo de baixa do juros e possível viés de alta;
O cenário internacional também deve contribuir com a turbulência brasileira. A zona do Euro terá a Itália como novo protagonista nos noticiários, já que as eleições acenderão novamente a questão da política econômica ortodoxa, com controle do déficit e manutenção de estabilidade em detrimento do chamado bem-estar social. Isso fará com o que debate sobre a saída de alguns países da zona do Euro reacenda. A Grécia é sempre uma lembrança.
Tivemos grandes avanços econômicos, dentre eles a reforma trabalhista, mesmo com um presidente campeão da impopularidade e com pouca margem de manobra. A situação política traz o ceticismo quanto à viabilidade das reformas mesmo após as eleições, afinal o desgaste da classe política dará ao futuro presidente pouca margem de manobra para implementar as reformas estruturais que o país precisa.
O Brasil deverá crescer 2% este ano, já que o ano político econômico acabará este mês. O segundo semestre estará reservado à Copa do Mundo e eleições.
Apesar de todas essas questões, o cenário brasileiro ainda é positivo e as conquistas deste governo em relação ao controle da inflação e ao juro baixo são inegáveis.
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