Apesar de inesperado, o anúncio do novo CEO da Nestle, Ulf Mark Schneider, não foi exatamente uma surpresa. Desde junho, quando Peter Brabeck-Letmathe decidiu se aposentar, a empresa decidiu que era hora de reformar os cargos executivos e apostar em uma nova política que acompanhe as demandas do mercado e privilegia o consumo de alimentos saudáveis.
É interessante que a decisão da Nestlé não é única, outras empresas têm feito mudanças semelhantes. A Pepsico foi uma das pioneiras e já há uma década desenvolveu o programa Performance com Propósito, que concilia o crescimento dos negócios da empresa com sustentabilidade. Uma das inovações mais interessantes é a mudança no portfólio de produtos disponíveis nas máquinas de vendas automáticas, as famosas vending machines inclusive com a criação de uma marca exclusiva para essas máquinas: Hello Goodness. O compromisso não é apenas com a saúde dos consumidores, mas com aproveitar um nicho de mercado que, mesmo em retração, movimentou US$ 4,5 bilhões em 2014.
A nova geração de consumidores é preocupada com toda a cadeia produtiva e tem acesso a informações que interferem no processo de compra. Os consumidores vão a mais de uma loja, preferem produtos locais e menos processados, com menos açúcar, gordura e sal. Lançar marcas com essas características também não é uma alternativa viável do ponto de vista econômico, o que leva as grandes empresas a comprar marcas menores e conhecidas do público local, como a Jasmine, por exemplo. A empresa, que começou com uma operação simples na cozinha de casa, faturou R$ 150 milhões em 2014 e hoje faz parte de um conjunto de empresas japonês que fatura mais de US$ 14 bi por ano.
Com 150 anos em operação, a Nestlé é uma gigante que se reinventa de maneira assombrosa de tempos em tempos, especialmente dadas as controvérsias que atingem as operações da empresa. Schneider chega com o know-how de uma empresa de saúde e com crescimento anual de 23%. É uma incógnita como será sua gestão na empresa e se ele terá carta branca para impor as transformações que desejar, uma vez que é conhecido por fazer aquisições agressivas.
A Nestlé fechou o ano de 2015 com 335.000 funcionários e um faturamento de cerca de US$ 86,76 bi, bem maior que a Fresenius Group, antiga empregadora de Ulf Schneider, que fornece produtos e serviços para o setor de saúde. A pressão é muita, especialmente porque Schneider é o primeiro profissional de fora do quadro da empresa a ocupar o posto desde 1922.
É uma grande aposta para os dois, Schneider e Nestlé e exatamente o que esperamos de um novo ano: grandes mudanças e uma boa dose de ousadia.
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