O tema da desigualdade de gênero no mercado de trabalho é espinhoso não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Desde países onde a economia está mais avançada aos mais pobres, a diferença no tratamento das mulheres em relação aos homens é uma questão que deve ser debatida com atenção especial. A economia mundial agradece, eu explico por que.
A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do Brasil, Pnad, mostrou que as mulheres são 51,4% da população e respondem pelo sustento de 37,3% das famílias. O IBGE estima que elas ainda têm, em média, cinco horas semanais de trabalho a mais – e não contabilizadas – que os homens, referentes aos trabalhos domésticos. Mesmo assim, ganham menos que os homens e ocupam menos posições de chefia (apenas 7,4%, segundo a FGV).
Se continuarmos no mesmo ritmo, estima-se que as coisas ainda demorarão muito a mudar: os salários só serão os mesmos em 2085. Apenas em 2213 teremos 51% de altas executivas, a mesma proporção de mulheres na população em geral. Na política, as vagas serão proporcionais em 2083 no Senado, em 2160 nas Câmaras Municipais e 2254 na Câmara dos Deputados.
Mesmo em países mais avançados existe essa discrepância. Os EUA estimam que ainda demora 40 anos para uma taxa de ocupação igualitária em altos cargos executivos. Para um efeito mais imediato, Suécia e França estipularam cotas em conselhos e o Reino Unido fez uma grande campanha para que governo e corporações firmassem compromissos públicos.
Essa desigualdade cobra um alto preço. As mulheres tomam a maior parte das decisões no orçamento doméstico, logo, é natural que um orçamento maior e mais independência reflitam diretamente em toda a economia do país. Além da correlação entre o PIB e a igualdade salarial, a qualidade dos gastos melhora, uma vez que os investimentos preferencialmente escolhidos por elas são na área de saúde, educação, segurança e bem-estar.
Horários flexíveis, ampliação na rede de cuidados infantis (berçários, creches, escolas de tempo integral) e ações no sentido de qualificá-las para o empreendedorismo são algumas medidas que podem valorizar e promover maior presença das mulheres no mercado, além de beneficiarem todos os colaboradores. Proporcionar a construção dessas carreiras é uma das metas do Fórum Econômico Mundial. É interessante ver como esse ingresso no mercado modifica a qualidade do ambiente de trabalho e de toda a sociedade.
Já o mercado financeiro é uma área muito competitiva. Para as mulheres, especificamente, construir uma carreira nesse meio é questão de talento e também oportunidade. Tenho orgulho de ser CEO de uma empresa que conta com mais de 40% dos cargos de chefia ocupados por mulheres e seria demagogo da minha parte não utilizar esse conhecimento.
Nosso segmento privilegia a performance e consistência na execução de processos, portanto a capacitação e inteligência corporativa colocam essas mulheres em posição privilegiada, com mais poder do que imaginamos. Elas vêm conquistando cada vez mais espaço nas corporações e no mercado de trabalho como um todo. Ainda bem!
Há muito o que melhorar nesse sentido. A BM&FBovespa divulgou em novembro a 12ª carteira do ISE e apenas 50% das empresas conta com uma ou mais mulheres participando efetivamente em seus Conselhos de Administração – número menor que em 2015. Devemos, entretanto, destacar que 81% das empresas do índice acredita que é importante alcançar a igualdade de gênero.
O tema, felizmente, avançou do discurso social para o campo econômico e, como sabemos, o dinheiro fala alto. Investir nas líderes é mais do que usar o discurso feminista, é abrir caminho para uma gestão que beneficie a todos igualmente, gere lucros e melhore a reputação da empresa. Apostem nisso!
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