Cada dia que passa os cenários ficam mais confusos, pelas apostas em ambiente político e econômico. O desemprego aumentando a passos largos, inadimplência da cadeia organizada de fornecedores e dívidas bancárias, assim como a inadimplência em todos segmentos estão se acentuando com o passar dos dias. Desta forma, onde iremos ancorar as nossas expectativas de uma solução econômica que está a reboque da solução política sobre quem governa o país? Cada vez mais se acumula um grau maior de incerteza causada pela falta de ação governamental, o que está temporariamente paralisado pela disputa de poder.
Para o mercado em geral, a esta altura não interessa a questão da discussão sobre o contexto Jurídico e sim o que pode vir a impactar a vida de modo geral, pois alguns consensos já estão formados em relação ao que precisa mudar para que a economia volte a sinalizar confiança e que possamos voltar a rodar com perspectiva futura e os investimentos voltem a se normalizar.
A única certeza que temos é que para qualquer projeto econômico que dê perspectiva econômica para o país mudar sua rota de colisão, teremos de passar por reformas estruturais no Congresso, como a questão da previdência e até cortes nos benefícios sociais, além de outras que estão travadas. Essas medidas têm custo político de implementação pela impopularidade.
O embate do governo se cristalizou neste momento entre Dilma e Temer, juntamente com ala do PMDB que saiu da base aliada. O seu programa econômico batizado Plano Brasil, sem dúvida não apresenta grandes novidades, mas é um plano bem coerente e cola mais com o mercado embora também precise de apoio político, pois só será factível com medidas de aprovação junto ao Congresso. E é neste fato que o mercado enxerga maior probabilidade de reorganização econômica, dada a maior capacidade do partido em trazer o PSDB para apoiar o projeto junto ao Congresso.
A expectativa política e econômica, principalmente câmbio e bolsa estarão ancoradas nas votações da Câmara sobre o impeachment em todos os estágios, primeiro sobre a aprovação do encaminhamento do voto do relator que ontem foi aprovado, tendo agora o embate final no domingo próximo pelo Congresso. Mas acredito que o mercado já precificou grande parte do rito do impeachment dentro da velha máxima de mercado, que é: "sobe no boato e cai no fato".
Em um cenário onde o atual governo vença a disputa no Congresso, sem dúvida o novo governo Dilma deverá tentar reorganizar as suas bases políticas com partidos de menor expressão, como PCdoB, PSOL, PP e outros partidos menores de um governo mais à esquerda, além dos movimentos sociais como CUT, MST e outros que ganharão peso e tenderão a exigir um plano econômico que atenda ainda mais as demandas sociais deles em seu governo. Eles se fortalecerão e cobrarão a conta da salvação do seu governo. Sem dúvida será uma grande dor de cabeça para o novo governo Dilma/Lula.
Lula tem dito que a prioridade será novamente o emprego e crescimento e é deste discurso dissonante da realidade fiscal que o mercado não gosta, apesar de saber que normalmente o discurso de rua é repactuado com a realidade econômica. E Lula sabe bem como a economia funciona e também sabe que precisará acalmar os mercados novamente, como foi o caso quando se elegeu pela primeira vez. Assim, possivelmente tentará a mesma fórmula que deu certo em outros tempos e apresentará o nome de um Ministro da Economia que gere uma expectativa positiva, tentando induzir o mercado e a economia a superar este momento de crise aguda econômica.
Sem dúvida a tarefa do atual governo em caso de vitória será mais árdua do que a do Vice-presidente, pois o cacife de credibilidade está muito pequeno para dar a volta por cima de todos os problemas que não são apenas políticos, como os outros escândalos que vêm assolando o partido do PT.
Assim, para contextualizar os dois cenários: o atual governo deverá gerar maiores expectativas econômicas, dadas as dificuldades em recompor a sua base política, além de o próprio PT não conseguir acomodar todos interesses suprapartidários e próprios em relação à ocupação de cargos deixados pelo PMDB. Neste ponto, tanto dólar como a bolsa deverão sentir o impacto negativamente.
Já um novo governo assumido pelo Vice-presidente Temer, que será mais previsível e menos compromissado com qualquer ala, poderá gerar acordos mais "easy way" no mundo político, necessários para implementar reformas no Congresso.
Não adicionei mais pontos de imprevisibilidade de cenário alternativo, pelas variáveis como a Lava Jato e o TSE. Isso nos faria perder o foco no curto prazo.
Assim, a melhor parte do "day after" é termos alguma definição de para onde o país irá se dirigir, sem desconsiderar as dificuldades e desafios de ambos os lados, o que será sinalizado nesses próximos dias de definição, pois o país não aguentará por mais tanto tempo a disputa de poder.
O segmento bancário brasileiro está seguindo cada vez mais a tendência do “Too big to fail” (grande demais para falhar). Isso fortalece o sistema, mas ao mesmo tempo deixa o mercado financeiro vulnerável a um número reduzido de Bancos, a chamada concentração bancária.
Ontem lemos no Jornal Valor Econômico uma matéria que fala justamente dos efeitos negativos causados pela concentração bancária às empresas. A matéria nos conta que as empresas brasileiras já passaram por várias crises, mas nunca tendo uma concentração bancária tão grande. A dificuldade em conseguir crédito, complica a vida dos empresários. Houve um êxodo dos bancos estrangeiros, encolhimento dos médios bancos e os bancos públicos estão sem capital, o que agrava ainda mais a crise que vem se instalando no Brasil há dois anos, refletindo diretamente na geração de emprego e renda da população.
As notícias são preocupantes. As manchetes desta segunda-feira também nos mostram o fechamento de mais de 4 mil fábricas no estado de São Paulo em um período de um ano, o que é o retrato do desemprego no país. As empresas que conseguiram tomar empréstimos estão tendo dificuldades para honrar com suas dívidas e a inadimplência também tem sido crescente. Por isso muitas são obrigadas a demitir ou até mesmo fechar as portas.
Neste cenário de incertezas, os bancos – especialmente os menores - não emprestam para as empresas que estão em situação grave e indefinida. Passamos a enfrentar uma crise de liquidez e muitos dos bancos menores estão sendo absorvidos pelos grandes, através da compra de títulos de crédito por exemplo, que começou quando o BC liberou os compulsórios, numa manobra de tentar salvar os pequenos.
Mas como melhorar o patamar e ajudar a economia neste cenário da concentração bancária? O ideal seria que tivéssemos mais espaço para o trabalho dos bancos segmentados, que atuariam em setores específicos como, por exemplo, as microempresas. Seria bem melhor que cada setor do mercado tivesse uma opção de instituição financeira que o atendesse com os olhos voltados aos seus problemas específicos. Em outro artigo eu disse que já passamos da hora de repensarmos o modelo dos bancos pequenos e médios.
Por sorte temos visto um movimento incansável da sociedade para que o governo tome posições econômicas consistentes e é o que esperamos que aconteça, pois apenas isso poderá recobrar a credibilidade e começar a mudar o panorama para melhor.
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Leia mais no meu artigo sobre concentração bancária no Brasil.
Em setembro de 2015 a Standard and Poor’s rebaixou o grau de investimento da economia brasileira. Este movimento foi um choque de realidade para o governo brasileiro, que ainda não tinha assumido publicamente a gravidade da crise. Em dezembro foi a vez da Fitch rebaixar a nota brasileira. A Moody’s, única agência de classificação de risco que ainda mantinha o grau de investimento brasileiro, cortou ontem 2 níveis da nossa nota de uma só vez. O Brasil atualmente é classificado pela Moody’s como Ba2, considerado o nível "junk”, ou uma economia especulativa, não confiável para os investidores.
Uma série de fatores foi determinante para que a Moody’s seguisse esse caminho, assim como aconteceu com a S&P e a Fitch. Além da deterioração nas métricas de crédito do Brasil, o baixo crescimento e o descontrole das dívidas públicas foram determinantes. A perspectiva de que em breve a dívida pública brasileira deverá atingir 80% do nosso PIB é assustadora para os analistas de risco. A falta de credibilidade política também foi um fator determinante nesta decisão.
Segundo a agência, se continuarmos como estamos, ficaremos por dois ou três anos no chamado “crescimento anêmico”, que é quando não há crescimento significativo. A receita é simples: uma economia estagnada não produz dinheiro novo, logo o pagamento de dívidas é prejudicado. Fica também muito difícil conseguir dinheiro para que o governo promova investimentos. Com a taxa de juros se mantendo elevada, o Brasil terá muita dificuldade em pagar a dívida, porque só os juros vão representar aproximadamente 20% de toda receita do governo.
A próxima reunião do Copom será um desafio para o BC, pois apesar do aprofundamento da recessão, a inflação não tem dado trégua como esperado. A grande dificuldade em avaliar a economia daqui para a frente, complica ainda mais a tomada de decisões. O IPCA mais recente demonstrou claramente que o efeito da queda de atividade no Brasil ainda está longe de quebrar a inércia da indexação dos preços administrados, além da inelasticidade de alguns mercados nos preços praticados, o que deixa o efeito da recessão mais rígido e o processo de recuperação mais lento.
Possivelmente seremos obrigados a aprofundar ainda mais a crise para que a inflação comece a cair, pois o efeito da força da política monetária via juros, aparentemente, continuará neutro. Mas apesar de toda dificuldade do quadro, temos de seguir em frente e nos mantermos firmes e confiantes que muitas oportunidades também deverão surgir.
Sem dúvida nenhuma nos dias de hoje já não questionamos a economia virtual. Em determinado momento em que houve o boom do nascimento destas empresas, houve um certo exagero de tudo, como por exemplo as relações de preços justos. E até após ao estouro da bolha deste segmento nas bolsas, as empresas virtuais foram se ajustando ao contexto da economia real e hoje acredito que o sonho virou realidade.
Foram grandes as transformações, empresas foram criadas em todos setores, a grande maioria pelo conceito de "uma grande ideia" e depois do passar dos anos, após a criação da Internet, foi-se percebendo que com a disseminação da informação a grande ideia passou a valer pouco.
Com o passar do tempo, a grande ideia foi de 80% a 20% da performance. Nos dias de hoje a ideia vale 20% e a execução 80%. Isto são os dias de hoje. Assim, se você tiver alguma grande ideia, tente ver todo o processo de execução antes, pois a Internet vai sempre encontrar alguém com ideias semelhantes. Hoje, com raras exceções, esse contexto é quebrado. A Google, Apple, Amazon, Uber, Facebook, Twitter, Linkedin, Instagram, WhatsApp, Waze e outros inúmeros aplicativos do mesmo segmento, por que se tornaram as maiores empresas do mundo, desbancando todas corporações tradicionais? Qual o segredo do sucesso de muitas delas? Será que foi a ideia?
A resposta é não, pois basta ver a história de cada uma para entender que quase todas essas empresas fora criadas não somente pela ideia, como no caso da Google, pois já existiam inúmeros sites de busca que foram criados na mesma época, mas a Google conseguiu se diferenciar pela forma fácil de lidar com a busca de informações. Lembram, nós tínhamos o Cadê, Yahoo, Altavista e outros. A Google encontrou a forma de consolidar a busca da informação da melhor forma já feita até os dias de hoje.
Essas empresas estão ficando tão grandes que dificilmente alguma outra do gênero terá a capacidade de investimento para competir, mas aí que entram os aplicativos, como foi o caso do Whatsapp que começou a incomodar o Facebook, que usou o seu tamanho para adquirir o Whatsapp. O Whatsapp encontrou uma forma muito eficiente de se comunicar e não foi uma nova ideia, lembrando que o BlackBerry veio na frente.
Na realidade, acho que o sucesso deles está na sua praticidade de contextualizar e facilitar a nossa vida. Antes de mais nada, eles são facilitadores de vida. Parece brincadeira, mas se analisarmos todos que deram muito certo, veremos que são sites ou aplicativos muito simples e que acabaram vindo ao encontro da demanda de uso onde quanto mais simples e fácil de usar, maior o sucesso e maior o seu valor.
Alguns hábitos da vida cotidiana estão sendo mudados pelo uso destes aplicativos. O UBER e o Waze, por exemplo, estão mudando o sistema de transporte qualificado nos grandes centros.
A regra do sucesso destas empresas é simples: tudo que facilitar a nossa vida e for de simples execução, tende a ter sucesso. Eis a nossa nova economia, a "Economia da Tecnologia", com preços competitivos e evolução dos sistemas tradicionais.
Em dezembro o mercado financeiro ficou em alerta pela possibilidade da votação da MP 694/2015 no Senado Federal. Essa Medida Provisória altera drasticamente as regras de tributação dos investimentos. A votação foi adiada para fevereiro, pois há muitas divergências.
A Medida propõe aumento de tributação para aplicações financeiras como, por exemplo, as alíquotas do Imposto de Renda cobradas sobre os juros da renda fixa (como CDB e debêntures) para 22,5% no caso de operações de até 360 dias, chegando a 15% para prazos acima de 1.080 dias. Também serão criadas alíquotas de tributação que variam de acordo com prazo para os rendimentos que são isentos desde 2012, como as LHs (letras hipotecárias), LCIs (letras de crédito imobiliário), CRIs (certificado de recebíveis Mobiliários) e LIGs (letra imobiliária garantida).
Se aprovada a MP, todos os ativos sofrerão grande impacto. O crescimento da indústria imobiliária será diretamente afetado, para pior. E a tributação, como para qualquer setor obviamente, será repassada ao consumidor final.
O governo precisa, realmente, rever muitas coisas. Mas que seja de maneira bem pensada e planejada, pois os incentivos promoveram para o país grandes investimentos, injetando bilhões de reais em projetos prioritários, especialmente os de infraestrutura, como transporte, energia, saneamento, desenvolvimento tecnológico e outros.
Inúmeros investidores deixarão de apostar nestes projetos, caso o texto seja aprovado como está. Precisam ouvir o setor, para não piorar ainda mais a situação da economia com uma “solução” do déficit feita às pressas e descuidadamente.
Acredito que até o mês que vem percebam os enormes efeitos negativos que esse aumento na tributação pode causar, principalmente em uma economia já em recessão e com o poder de compra do cidadão comum sendo corroído por uma inflação de mais de 10% ao ano.
Feliz ano novo! É essa a expectativa tradicional de um ano vindouro sempre melhor do que o que passou. O ser humano é crédulo e se mantém vivo e forte pela esperança: sem ela já estaríamos mortos.
Mas, na nossa realidade, sem dúvida, o ano de 2016 será duro e difícil para todos os cidadãos brasileiros em todos os níveis sociais: pobres, dependentes do Bolsa Família, os da classe média, ricos, empreendedores, investidores. Todos, sem exceção, terão de trabalhar mais para preservar as conquistas importantes de toda uma década e que agora começam a escapar de nosso controle.
O primeiro desafio será o combate ao desemprego, que tende a crescer fortemente já no primeiro semestre e afetará toda a cadeia de consumo. Nos negócios em geral, deverá haver uma busca incansável por maior produtividade, através de redução de custos nas empresas e profissionais mais qualificados, dado que haverá grande oferta desse tipo de mão de obra no mercado.
Outro grande desafio será o controle da inflação, apesar do ambiente desfavorável em que teremos de trabalhar, com juros altos, consumo reduzido, repasses de câmbio e juros e aumentos de impostos para toda a cadeia produtiva até o consumidor final.
A fórmula de sobrevivência é simples: primeiramente redução de custos; depois, aumento de produtividade via terceirização para reduzir a carga tributária, mais tecnologia, menos preocupação com aumento de market share, maior repasse de margem de lucro em uma economia que vai encolher pelo menos 8% acumulados no período 2015/2016.
A parte boa para o empreendedor será a via da exportação, beneficiada pelo câmbio e um mercado interno relativamente fechado pela cunha fiscal. Além disso, temos os preços administrados e contratos indexados de serviços, que fazem com que tenhamos pouca margem de manobra sobre a inflação.
O resumo disso tudo é parecido com um ônibus lotado que vem em alta velocidade e dá uma freada para evitar uma colisão. Já sabemos o que acontece: muita gente cai, alguns se machucam e os mais fortes se agarram onde podem e sobrevivem à freada.
Essa analogia é a simplificação de uma economia alavancada por empréstimos e alongamento de prazos e múltiplos de EBITDA de primeiro mundo em que teremos de fazer um ajuste para um ambiente moderado e recessivo, sem o apoio dos bancos governamentais, que terão de conviver com o custo maior da inadimplência.
Esses desafios serão parte do que já conhecemos, mas ainda existem as variáveis desconhecidas, que sempre podem impactar a vida das pessoas, como, por exemplo, o advento da Lava à Jato que, com a prisão de André Esteves, seu presidente, quase implicou a destruição de valor do BTG Pactual e, sem dúvida, gerou ainda maior perda de valor para o mercado, já que se trata do maior Banco de Investimento da América Latina.
Um ponto que se deve considerar é a manutenção do sistema financeiro num ambiente benigno, com seus principais participantes fortes e capitalizados, com um alto desenvolvimento bancário promovido pelo Banco Central no que se refere a um dos melhores sistemas de pagamento do mundo.
Em todas as economias que foram destruídas, seus principais bancos quebraram ou afugentaram os bancos estrangeiros através de governos populistas, como foi o caso de Argentina, Portugal e Grécia.
Quanto mais preservado for o sistema financeiro, mais forte e rápida será a retomada do crescimento, pois a economia é irrigada por esses agentes bancários. Esse é um ponto a favor do Brasil.
Tenho fé de que todos vão se preparar para a tempestade que pode vir, mas ela vai passar e o brasileiro, que sabe fazer isso, deve se reinventar em todos os segmentos e níveis sociais. Nada ocorre em vão: vamos, pelo menos, ganhar mais consciência para escolher nossos governantes, pois é através do voto que faremos um país melhor sem nos deixarmos enganar por promessas fáceis e levianas. É com a qualificação do voto que chegaremos ao Olimpo.
Que todos tenham um feliz ano novo, cheio de esperança!
Saul Sabbá, Dezembro de 2015
Quando Joaquim Levy assumiu o Ministério da Fazenda, tentou explicar à sociedade muitos pontos errados na condução do país, em uma tentativa de educar e despertar o interesse da população pela funcionalidade complexa do “economês”. O Brasil é um caso complexo para qualquer administrador, pois nossa política é uma arena onde partidos medem forças constantemente e a população paga um preço alto por isso.
Não bastasse a dificuldade cotidiana enfrentada pela equipe econômica e pelo governo, há agora um boato de que, sob pressão, a presidente Dilma deveria trocar o Ministro Joaquim Levy, que não consegue a aprovação de suas propostas para o ajuste fiscal, pelo ex-presidente do Banco Central, o Henrique Meirelles. Esse boato circulado ontem foi o responsável pela queda do dólar, pois o mercado acredita que a entrada de Meirelles pode melhorar a comunicação entre o governo e o Congresso, para que os ajustes sejam feitos. Uma parte da crise no Brasil se deve ao governo falar A, o Congresso entender B e a população querer C. Não há consenso e nem bom trânsito.
Embora neguem o que circula à boca pequena, há quem diga que Henrique Meirelles está fazendo exigências para aceitar o cargo. Segundo notícias, ele pede autonomia com “porteira fechada”, ou seja: total controle para determinar trocas importantes, como a presidência do Banco Central e o ministro do planejamento. Analisando a troca, não podemos esquecer que foi Meirelles quem aqueceu a política de incentivo ao crédito e ao consumo que levou o país à condição atual. Acredito também que não há nada que ele possa propor de muito diferente do que o Levy está propondo. A questão da possível troca deve estar se apegando, talvez, numa facilidade maior de Meirelles se comunicar e se articular no Congresso, onde sempre teve bom trânsito.
No meio da confusão econômica, há a insistência na guerrilha política, cheia de boatos e indecisões, que prejudicam as finanças do país e da população, que não pode esperar nada além do aumento de tributos para o equilíbrio das contas. Mais do mesmo.
Indo direto ao ponto, a questão da nossa crise fiscal é profunda. Não basta trocar o técnico, precisamos enxergar além disso. A Constituição de 1988 deixou uma brecha fiscal que estourou agora. Houve uma centralização das receitas na União e ela passou a repassar recursos para estados e municípios. Isso, além de tornar menos eficiente o processo arrecadatório deu enorme poder à União. À época, a capacidade de investimento era de 5% do PIB e hoje gira em torno de algo como 2,5%. Criou-se uma série de vinculações orçamentárias que engessou o poder de distribuição dos recursos. Desde 1988 todos os governos, sem exceção, aumentaram seus gastos. Hoje vemos todos os estados dependentes da União, sofrendo prejuízos e endividados.
Precisamos pedir que os nossos parlamentares revejam a Constituição, além de emergencialmente fazerem uma trégua política, pois em um campo esburacado nenhum dos times pode jogar futebol.
Os jornais de hoje mais uma vez trazem a o cenário de como a crise política está afetando a economia brasileira. Segundo alguns especialistas, essa crise política afeta mais os mercados do que a crise econômica em si, já que a desconfiança se traduz em inflação no patamar de 10% e a taxa de câmbio no absurdo patamar de R$ 4,00.
Sobre a inflação as estimativas continuam a piorar, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central (BC). O IPCA este ano subiu de 9,85% para 9,91%. Para 2016, avançou de 6,22% para 6,29%. O Banco Central prevê manter as taxas de juros estáveis em 14,25 pelo menos até julho/2016, apesar da alta da inflação. Já o mercado tem visto esses números como otimistas, acreditamos em uma alta maior do que a estimada pelo governo.
Por causa da inflação e da alta do dólar, muitas empresas estão extremamente endividadas e, para não quebrarem ou evitarem demissões, estão negociando rolagem nos pagamentos dos compromissos firmados com os bancos e o perdão no descumprimento de algumas cláusulas contratuais. As instituições financeiras, por sua vez, estão fazendo de tudo para evitar a inadimplência.
Já o preço do dólar é uma oportunidade para que investidores estrangeiros apostem no mercado nacional. Concordo com as opiniões de que o Brasil está muito barato, em termos de mercado, e investir agora no Brasil é ter a possibilidade de retorno muito alta.
As startups brasileiras de tecnologia, por exemplo, perderam em 4 vezes o poder de compra, entretanto o investimento em dólar está em apenas 1 quarto do que costumava ser. Acredito que os investidores que têm condições de aplicar no mercado brasileiro devem vir, dentro dos próprios critérios estabelecidos, pois quando a crise política se resolver, certamente todos nos beneficiaremos.
A situação brasileira vem se agravando diante da inércia política e econômica. E assim, vemos mais uma agência de relevância mundial rebaixar a nota do Brasil de BBB para -BBB, que é o último degrau do Investment Grade e, pior, com perspectiva negativa.
Com a percepção de piora do ambiente macroeconômico e, consequentemente, com a deterioração da economia como um todo, possivelmente a agência Fitch será levada a, em breve espaço de tempo, reavaliar o rebaixamento do Brasil e a perda do grau de investimento.
Conforme já venho comentando em meus artigos, infelizmente o tempo está acabando para decisões paliativas, como arrumar os recursos de modo convincente para fechar o déficit orçamentário.
Ao contrário da nossa percepção, quando nenhum de nós quer aumento de impostos como o CPMF, o debate sobre o assunto está em todos os ambientes econômicos, com opiniões contrárias e a favor. O fato de que essa poderá ser uma das únicas possibilidades concretas de fechar as contas, cada vez mais estamos afunilando a nossa capacidade econômica de fazer qualquer coisa diferente no curto prazo.
A política que hoje traz a reboque a inércia da economia - até porque não se consegue fazer nenhuma reforma ou mudança significativa. Isso faz com que fiquemos em uma situação de "freezer completo" nas ações de mudança de rumo, ficando o país à deriva dos acontecimentos e variáveis imprevisíveis, tanto no campo político como no judiciário - como foi caso das liminares do STJ sobre o ritual do impeachment.
Assim, acredito que teremos pouca margem para mudança de rumo no curto prazo. Todos (Congresso, Senado e Presidência) estão lutando entre si para, no mínimo, terem sustentabilidade de poder, cada qual dentro da sua luta (seja para permanecerem no cargo ou até por uma saída honrosa). Estamos vendo um MMA político, mas nós é que poderemos tomar um nocaute.
Acho que podemos ter, como maior esperança e como saída, alguma ruptura de poder causado pelo ambiente financeiro, mas não mais pelo lado consensual ou consentido. O que quer dizer isto? É mais ou menos o acontecido com a Grécia, que foi forçada a consentir tudo que não queria e mais alguma coisa que não estava no cardápio (como a privatização), pois o governo que acabara de ser eleito e com suporte popular foi vencido quando o sistema bancário quase entrou em colapso. Aí o recém-eleito se submeteu a duras medidas impostas pelo sistema de governança regido pelas outras nações que compõem o grupo de sustentação e estabilidade da moeda.
É importante e relevante vermos neste exemplo da Grécia que nem sempre podemos fazer o que queremos, mas sim o que podemos fazer - principalmente em um ambiente tão globalizado como é o nosso.
Não temos um modelo exclusivo, nós vivemos dentro de um modelo global de dívida, PIB, orçamento fiscal e etc. E é nele que as agências de rating se baseiam.
Enfim, sem fiscal e sem consenso político haverá inércia. Se nada se consumar, o ambiente econômico fará o seu trabalho por si só, como no caso da Grécia, e que acabará por ser uma aventura para todos nós.
Paciência acaba, mas esperança sempre há.