O início de fevereiro marcou o início de um período com sinais otimistas para o mercado, que considera as variáveis favoráveis para a resolução da crise de liquidez pela qual passamos. Com a queda de 0,75% na taxa de juros, a inflação sinalizando ficar dentro da meta de 4,5% e a possibilidade do governo emplacar a reforma da Previdência, as coisas poderão melhorar mais rápido do que imaginamos.
O mercado é cíclico e embora as crises não sejam iguais, é possível aprender com as situações do passado. Vivemos hoje uma crise de liquidez de ativos, especialmente no mercado de infraestrutura, agravado pelos desdobramentos da operação Lava a Jato. O consumidor está altamente endividado por uma política de crédito que não garantia a manutenção do pagamento e os estoques imobiliários são os maiores em muitos anos. Se compararmos a crise brasileira à chamada Crise Americana dos Mercados de 2009, acabamos vendo contornos bastante similares.
Naquele ano a bolha de ativos imobiliários dos Estados Unidos foi rompida e causou um efeito cascata, se alastrando rapidamente para vários outros mercados. Em um sistema altamente alavancado por crédito, a perda da capacidade econômica dos consumidores causou a destruição da riqueza e da poupança em geral, exatamente como assistimos em filmes e livros que retratam aqueles dias. A alta alavancagem de mercados via instrumentos derivativos formaram uma perda de capital de tal magnitude que o consumidor americano passou a comprar em outlets e atacadistas, enquanto os latinos e turistas frequentavam shoppings e na Bloomingdale’s. Passaram-se ainda quatro anos para que os consumidores voltassem a reativar a economia devastada.
Obviamente, dado o contexto econômico e o destaque dos países no cenário internacional, as instabilidades americana e brasileira estão longe serem iguais, entretanto adquirem contornos semelhantes quando analisamos o conteúdo.
Aqui no Brasil a Operação Lava a Jato paralisou todo o segmento de infraestrutura que estava contaminado pela corrupção, consequentemente criando uma crise nos ativos ligados ao setor. São concessões e contratos que não se conseguem assumir e cumprir em diversos ramos: estradas, energia, petróleo, telecomunicações e muitos outros. Considerando apenas o setor de infraestrutura, veremos que os números estão na casa das dezenas de bilhões.
O outro aspecto essencial, esse sim bastante semelhante ao exemplo americano, se refere à política de crédito imobiliário estabelecida pelo governo petista, sem base sólida e concedido como benesse política. O programa Minha Casa Minha Vida ofereceu crédito e outros benefícios de forma abundante ocasionando o alto endividamento do consumidor, tornando o sonho da casa própria em uma fonte de dívida e acarretando o aumento nos estoques em níveis nunca atingidos anteriormente, em razão do aumento dos distratos – o encerramento do contrato de venda com a devolução dos imóveis. Ativos de ambos os segmentos, imobiliário e infraestrutura, estão à venda por todo o Brasil.
A queda da taxa de juros, aliada à reforma trabalhista e previdenciária pode ser o gatilho para o retorno do investimento estrangeiro ao nosso país. Sabemos que a velocidade no retorno do crescimento econômico tem relação com a volta da liquidez dos ativos imobiliários e de infraestrutura. Não foi à toa que o governo americano, via FED, deu liquidez a estes ativos com programas especiais de compras, para que o sistema fizesse uma reoxigenação e voltasse a emprestar novamente.
Nosso caso é um pouco diferente pois não existe securitização altamente alavancada por este tipo de derivativos, porém temos muitos títulos à venda no Brasil e se houvesse algum programa de estímulo, e não de subsídio, poderíamos voltar com maior velocidade para gerar capacidade de investimentos e voltar a estancar a alta do desemprego que deve caminhar para 13% em 2017. No momento toda reestruturação de empresa governamental passa por venda de ativos da Petrobras, Eletrobrás e muitas outras empresas, além de um grande encalhe no setor de construção imobiliária.
Baseado em minhas observações econômicas, tenho convicção que estamos passando por uma crise sistêmica de liquidez de ativos de várias ordens de grandeza, tendo como consequência a obstrução a médio prazo da retomada do crescimento.
Enfim, encontrar comprador é a ordem do momento e nós temos os estímulos necessários – a LIG, Letra Imobiliária Garantida, que está sendo normatizada e poderá a ser mais um instrumento de estruturação financeira. Basta apenas a coragem para fazer acontecer.
Existem 0 comentários